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Brasileiros são premiados em concurso anti-semita
Competição de cartuns foi resposta do Irã à publicação de charges do profeta Maomé
Três cartunistas do Brasil tiveram prêmios; desenhos destacados pelo júri vão de críticas às políticas de Israel à negação do Holocausto
Reprodução
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Cartum do brasileiro Carlos Latuff, segundo lugar no concurso |
DA REDAÇÃO
Três brasileiros foram premiados, um deles em segundo
lugar, em um concurso de charges sobre o Holocausto promovido por um jornal iraniano,
com imagens em que ligam a
atuação israelense em território palestino aos campos de
concentração nazistas.
Outros dos 16 cartuns premiados negam ou relativizam a
existência do Holocausto, em
que seis milhões de judeus foram mortos pelos nazistas na
Segunda Guerra Mundial.
O resultado do concurso foi
anunciado na noite de quarta-feira. O prêmio principal foi dado ao marroquino Abdellah
Derkaoui, que recebeu US$ 12
mil. Seu cartum mostra um
tanque israelense levantando
um muro com a imagem do
campo de concentração de
Auschwitz diante da mesquita
de Al Aqsa, em Jerusalém.
O carioca Carlos Latuff dividiu com um francês identificado como A-chard o segundo lugar, com a imagem de um palestino com uniforme de prisioneiro de um campo de concentração. Os dois repartiram o
prêmio de US$ 8.000. Os desenhos podem ser vistos no site
www.irancartoon.com.
Os outros brasileiros premiados foram o gaúcho Eloar
Guazzelli, em sétimo lugar, e
um cartunista identificado apenas como Casso, em décimo
quinto. Ambos ganharam três
moedas de ouro, além de um
troféu e uma menção honrosa.
Vinte e um cartunistas do Brasil foram selecionados no concurso, atrás apenas do Irã (157)
e da Turquia (31).
O concurso foi organizado
pelo jornal "Hamshari", em
resposta à publicação em janeiro, por um diário dinamarquês,
de charges do profeta Maomé.
As charges causaram uma onda
de protestos violentos no mundo muçulmano. Mais de 150
pessoas morreram em semanas
de manifestações.
A iniciativa teve o apoio do
presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, que em diversas
ocasiões questionou a ocorrência do Holocausto, chamando-o
de um "mito", e disse que Israel
era uma "árvore podre" que deveria ser "apagada do mapa".
A competição se dividiu entre charges francamente negacionistas do Holocausto e outras críticas do conflito israelo-palestino. A de A-chard mostra
"o mito das câmaras de gás"
derrubado pelo francês Robert
Faurisson, propagandista do
revisionismo.
A Folha tentou contatar Latuff e Guazzelli durante toda a
tarde de ontem, sem sucesso.
Em entrevista à Folha Online quando foi lançado o concurso, em fevereiro, Guazzelli
afirmou que aquela era uma
oportunidade de expor sua opinião sobre as ações israelenses
contra os árabes, que, segundo
ele, "seguem a mesma lógica da
máquina de guerra nazista".
"Nunca participaria de um
concurso anti-semita", disse o
cartunista, cuja charge mostra
um tanque israelense deixando
um rastro de pequenas suásticas.
Neste ano, Guazzelli foi premiado em concurso de ilustradores promovido pela Folha.
Em nota enviada ao site Blue
Bus, também em fevereiro, Latuff disse que sua participação
no concurso "se deu para questionar os dois pesos e duas medidas no Ocidente em relação
às charges de Maomé".
"Fazer caricaturas sobre profetas muçulmanos e o Islã é tido como liberdade de expressão, mas caricaturas sobre o
Holocausto, que é um fato histórico e não um dogma religioso, é passível de cadeia. Também queria tratar dos holocaustos do dia-a-dia, como o do
povo palestino, que vive sob
ocupação israelense há décadas (...)", escreveu.
Israel reagiu à divulgação do
resultado do concurso. "O regime iraniano infelizmente se
juntou ao coro obsceno da negação do Holocausto", disse o
porta-voz da Chancelaria,
Mark Regev.
"É lamentável que nos dias
de hoje, quando ainda há sobreviventes do nazismo, haja
pessoas querendo minimizar a
maior tragédia que se abateu
sobre o povo judeu", disse à Folha Ben Abraham, presidente
da Associação Brasileira dos
Sobreviventes do Nazismo.
Abraham também lamentou
que brasileiros tenham "se juntado à batuta do maior inimigo
de Israel [Ahmadinejad] participando desse concurso".
O governo do Irã rejeita as
críticas: "Os cartunistas expressaram seu ódio contra os
opressores e seu amor pelas vítimas", disse o ministro da Cultura, Hossein Saffar Harandi.
Uma exposição das charges não
atraiu muito público. "A exposição não teve impacto. Não foi
uma preocupação nem dos estudantes nem da mídia", disse à
agência AP Gohar Dashti, da
Universidade de Artes Soureh,
em Teerã.
(CAROLINA VILA-NOVA)
Com agências internacionais
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