São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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Cúpula ibero-americana começa esvaziada

Ausência de Lula, incerteza sobre Kirchner e crise entre Uruguai e Argentina marcam evento em Montevidéu

ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Comprometida pelo agravamento da crise política entre Argentina e Uruguai e esvaziada pela ausência do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, a Cúpula de Chefes de Estado e de Governo dos Países Ibero-americanos começa hoje em Montevidéu, no Uruguai.
O tema do encontro é a emigração de cidadãos dos países em desenvolvimento para países desenvolvidos, discussão impulsionada sobretudo pela Espanha, destino de milhares de imigrantes africanos -o próprio rei Juan Carlos participa do evento, além do premiê, José Luis Rodríguez Zapatero. O discurso espanhol é o da "cooperação" entre países para tentar conter ou, ao menos, administrar o avanço migratório.
Deve entrar na pauta a construção do muro na fronteira dos EUA com o México, aprovada pelo Congresso americano e sancionada por George W. Bush. O presidente mexicano, Vicente Fox, deve tentar aprovar documento em repúdio à decisão.
Nos dois dias anteriores ao início do evento, a relação entre os governos de Néstor Kirchner e de Tabaré Vázquez chegou a um ponto crítico. Ambientalistas e grupos comunitários que protestam contra a instalação da indústria de celulose finlandesa Botnia às margens do rio Uruguai decidiram fazer a partir de hoje novo bloqueio na ponte da principal rota comercial entre os dois países. Os manifestantes também protestarão em Montevidéu.
A Chancelaria argentina afirmou que está suspenso o diálogo com o Uruguai. Anteontem à noite, divulgou nota informando que enviara carta ao país vizinho lamentando a decisão unilateral de dar à Botnia "autorização para extração de um significativo volume de água do rio Uruguai, recurso compartilhado pelos dois países".
Vázquez, por sua vez, declarou que "com a ponte bloqueada, não há diálogo".

Ausências
A ausência de Lula decepcionou sobretudo as diplomacias uruguaia (que esperava ajuda para mediar o conflito da "papeleira") e argentina (que esperava viabilizar um encontro bilateral do brasileiro com Kirchner). Sem Lula e em atrito com Vázquez, Kirchner, segundo pessoas ligadas a seu governo, pode não comparecer. Na melhor das hipóteses, chegaria hoje e retornaria antes do jantar oficial de amanhã. O governo do Peru informou que o presidente Alan García também não deverá comparecer.
Lula, segundo contou Vázquez, telefonou para se desculpar, alegou ordem médica de descanso e prometeu visitar o Uruguai em 20 ou 30 dias.
São esperados para hoje os presidentes de México, Honduras, Espanha, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador e Chile, além do premiê de Portugal, do rei espanhol e do vice-presidente da República Dominicana. Por Cuba, é aguardado o vice-presidente Carlos Lage.
Outros líderes já estão na cidade, entre eles o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Com 22 membros, a cúpula ibero-americana se reúne há 16 anos para discutir temas de interesse de países da América Latina, Portugal e Espanha.


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