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Com 7 votos contra, Chávez passa reforma na Assembléia
Mudança na Constituição venezuelana será submetida a referendo em dois blocos
Líder do Podemos, sigla que deixou base governista, teve fala abafada em TV estatal; país terá atos contra e a favor das mudanças
Gregorio Marrero/Associated Press
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Chavistas com cópias da Constituição; mudança vai a referendo |
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A Assembléia Nacional venezuelana, controlada pelos governistas, promulgou ontem o
projeto de reforma constitucional promovido pelo presidente
Hugo Chávez. A proposta, que
agora será submetida a referendo, altera 69 dos 350 artigos da
atual Constituição e tem como
ponto mais polêmico a reeleição indefinida para presidente.
Dos 167 deputados da Assembléia, apenas os sete membros do Podemos não aprovaram a reforma. Partido da base chavista até o início do ano, a sigla rompeu com o governo ao se
negar a se diluir no PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela). Os partidos tradicionais
da oposição não têm parlamentares após boicotarem a eleição
legislativa de 2005.
"Foi pior do que um erro",
disse o deputado Juan José
Molina, do Podemos, ao justificar a abstenção. "A reforma
constitucional nos traz uma incerteza sobre qual será o destino social, econômico, e não
mantém o equilíbrio entre o
povo e o poder", continuou ele.
Depois dessa frase, o pronunciamento de Molina foi sobreposto pela voz de uma apresentadora do canal estatal VTV, que transmitiu toda a cerimônia ao vivo. Ela só parou de falar
quando o deputado oposicionista terminou o discurso.
Para o vice-presidente da Assembléia, Roberto Hernández,
a reforma "aciona uma Constituição de transição ao socialismo". Ele cobrou fidelidade:
"Quem aceita a revolução em
seu todo é um patriota, quem a
ataca em seus detalhes é um
traidor", disse, sem ser abafado
pela narração da TV, assim como os demais governistas.
Após a sessão, os deputados
chavista caminharam da Assembléia à sede do Conselho
Nacional Eleitoral (CNE), com
várias centenas de militantes
vestidos de vermelho. Anteontem, a mesma região havia sido
palco de um protesto de alguns
milhares de oposicionistas à reforma. O protesto terminou em
violentos confrontos entre estudantes, policiais e chavistas.
Agora, cabe ao CNE definir a
data do referendo, que deve ser
realizado em até 30 dias. O
mais provável é que seja realizado no dia 2 de dezembro.
Votação em bloco
Por determinação de Chávez,
o referendo trará dois blocos
-ou se vota pela adoção de todas as medidas de um bloco ou
de nenhuma. No primeiro, estarão os 33 artigos propostos
pelo presidente, acrescidos de
modificações dos deputados; o
segundo trará mais mudanças
dos deputados.
Grande parte das modificações aumenta os poderes presidenciais. Se aprovadas, Chávez
controlará a política cambial,
poderá criar unidades territoriais por decreto e decidirá sobre promoções militares.
Uma das mudanças mais
controvertidas, introduzida pelos parlamentares, endurece a
regulamentação do estado de
exceção, suprimindo o direito à
informação e o limite de tempo.
Até aliados de Chávez criticaram as alterações. Os defensores dizem que elas são necessárias para evitar episódios como o frustrado golpe de 2002.
A reforma inclui ainda a diminuição da idade mínima para
votar de 18 para 16 anos e a
equiparação dos votos de estudantes, professores e funcionários em eleições universitárias.
A proposta de reforma constitucional tem sofrido duras
críticas de vários setores, entre
os quais o movimento estudantil, a Igreja Católica e associações empresariais, além dos
partidos tradicionais da oposição, como Um Novo Tempo.
Hoje, grupos radicais que se
propõem a impedir o referendo
farão uma marcha por Caracas.
Os estudantes, que não participam do protesto de hoje, defendem apenas o adiamento da
consulta, alegando que não há
tempo hábil para conhecer toda a proposta. Amanhã, os chavistas farão seu primeiro ato de
campanha com uma grande caminhada pela capital.
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