São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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Indefinição do Congresso eleva tensão em Honduras

Presidente do Legislativo não confirma data para votação; Zelaya insiste em decisão até 5ª

Líder deposto aposta na chegada da secretária do Trabalho americana como cartada para acelerar voto sobre sua volta ao cargo

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

A três dias do prazo para a criação de um "governo de unidade", o governo interino de Honduras e Manuel Zelaya intensificaram ontem o bate-boca em torno da interpretação do acordo assinado na sexta-feira para a restituição do presidente deposto.
O presidente do Congresso, José Alfredo Saavedra, aliado do presidente interino, Roberto Micheletti, disse que ainda não há uma data para votação sobre a volta de Zelaya, como está previsto no acordo.
"Uma vez que os membros da mesa diretora tenham conhecimento dos alcances e da dinâmica desse acordo, vamos definir qual rota seguir", disse Saavedra a uma rádio local.
O presidente do Congresso confirmou que haverá uma primeira reunião da mesa diretora hoje, como já havia chegado a anunciar, e afirmou que distribuiria cópias do acordo aos 128 deputados da Casa (o Parlamento é unicameral).
Os aliados de Micheletti no Congresso também planejam pedir pareceres à Suprema Corte de Justiça e a outras instâncias, consultas que, segundo eles, inviabilizam a votação antes de quinta, data definida no cronograma do acordo como prazo para a instalação de um governo de unidade nacional.
Ontem, Zelaya voltou a dizer que, se ele não for restituído até quinta, considerará o acordo rompido, pois não aceitará indicar membro de um "governo de unidade" sem que ele esteja à frente.
O presidente deposto acha que tem votos suficientes no Congresso para voltar ao cargo -espera contar com o apoio de parte dos liberais, partido ao qual pertencem Micheletti e ele, e do Partido Nacional, de Porfirio Lobo, favorito nas eleições presidenciais deste mês.
O deputado pró-Zelaya Victor Cubas disse que um grupo não especificado de parlamentares simpatizantes do presidente deposto começará uma greve de fome hoje, às 14h, caso a votação não seja marcada.
Isolado há 43 dias na embaixada brasileira, Zelaya está apostando sua volta na presença da secretária do Trabalho dos EUA, Hilda Solis, que representará a "comunidade internacional" na Comissão de Verificação do acordo, ao lado do ex-presidente chileno Ricardo Lagos (2000-2006).
Na semana passada, foi a chegada de uma comitiva americana que deu fim a meses de impasse para a assinatura do acordo sobre a restituição de Zelaya, deposto em 28 de junho por militares, acusado de tentar convocar ilegalmente uma Assembleia Constituinte.
Solis e Lagos, que integrarão a comitiva da OEA (Organização dos Estados Americanos), chegam hoje a Tegucigalpa, onde planejam ficar por somente 24 horas.
Para o analista político Efraín Diaz, o acordo "gera várias interpretações": "Ficou aberto o tema de quando o Congresso tem de votar a restituição. Também há dúvidas se a comunidade internacional aceitará o acordo caso Zelaya não volte ao poder".
O ponto cinco do acordo afirma que a volta de Zelaya depende da aprovação do Congresso, que pode ou não consultar outras instâncias. Já o calendário coloca quinta-feira como a data para a "conformação e instalação do governo de unidade".

Barrado
Embora com um contingente menor, o cerco policial-militar em torno da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa continua rígido. Ontem, não foi permitido o acesso de Jorge Arturo Reina, nomeado por Zelaya como seu representante na Comissão de Verificação -do lado de Micheletti, foi indicado Arturo Corrales, seu delegado na mesa de negociações.


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