São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2011

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Bill Gates cobra que Brasil aumente as doações aos pobres

País deve elevar sua ajuda externa para as nações mais empobrecidas em centenas de milhões de dólares, pede

Fundador da Microsoft, hoje um dos maiores filantropos do mundo, ele propõe taxas sobre combustíveis e tabaco

PATRÍCIA CAMPOS MELLO

DE SÃO PAULO

Está na hora de o Brasil assumir suas responsabilidades globais e aumentar sua ajuda aos pobres, adverte Bill Gates, 56, fundador da Microsoft e um dos maiores filantropos do mundo.
"O Brasil precisa deixar de gastar apenas dezenas de milhões de dólares em ajuda a outros países e passar a gastar centenas de milhões: isso não é uma enorme porcentagem do PIB brasileiro", disse, em entrevista telefônica à Folha Gates, que está à frente da Bill and Melinda Gates Foundation, com patrimônio de US$ 33,5 bilhões.
A pedido do atual presidente do G20, o francês Nicolas Sarkozy, Gates apresenta hoje, em Cannes, um relatório com propostas para garantir que os recursos para o desenvolvimento dos países mais pobres não sequem durante a recessão mundial.
Algumas das ideias que Gates defende são polêmicas: elevar ou criar impostos sobre transações financeiras, combustíveis e tabaco com receita direcionada para ajudar países pobres; aumentar o papel de países como Brasil, China e Índia como doadores e fazer com que países do G20 usem seus fundos soberanos para financiar infraestrutura.

 

Folha - O sr. sugere que fundos soberanos dos países do G20 sejam usados para financiar infraestrutura em nações pobres. No Brasil, ainda temos sérios problemas de infraestrutura. Como convencer o governo brasileiro disso?
Bill Gates -
Como outras nações que enriqueceram antes, o Brasil deve separar parte do Orçamento e usar para ajuda externa. Trata-se de um país que descobriu enormes depósitos de petróleo, enquanto há mães e crianças morrendo na África porque as grávidas não têm estradas para chegar à maternidade

O sr. parece ter muita esperança de que China e Brasil sejam não apenas motores de crescimento, mas também líderes na ajuda a países mais pobres.
O Brasil é um país de renda média que está fazendo coisas fascinantes em termos de inovação, com a Embrapa, na área de agricultura, e em saúde.
O mundo espera que o Brasil e a China sejam os exemplos, que, na medida em que crescem mais rapidamente, também aumentem suas doações a países pobres, como porcentual do PIB, até atingir o mesmo nível que a Europa estabeleceu, de 0,7% do PIB.
Neste período em que os países ricos não estão crescendo muito, esse aumento de doações e envolvimento é que vai fazer a diferença. O Brasil definitivamente precisa deixar de gastar dezenas de milhões de dólares em ajuda a outros países e passar a gastar centenas de milhões.
Isso não é uma enorme porcentagem do PIB do Brasil. Mas se você quer realmente fazer diferença na África, é preciso pôr recursos significativos nisso. Ajuda externa é uma decisão política e, por enquanto, os montantes envolvidos são excessivamente pequenos.

Nos EUA, há uma forte oposição a aumentar gastos para ajudar outros países, enquanto há milhões de desempregados lá. Como sua mensagem vai ecoar nos EUA?
Passo boa parte do meu tempo em Washington conversando com políticos sobre o Orçamento de ajuda externa. Felizmente, ele será mantido, em grande parte.
E os EUA continuam sendo, de longe, os maiores doadores externos, doam duas vezes mais que o segundo colocado.

O sr. propõe a adoção de novos impostos, sobre combustíveis, transações financeiras e tabaco, para manter o nível de doações para países pobres. Mas não é difícil para os países criarem novos impostos?
Sabemos que nem todos os países vão concordar com novos impostos e, mesmo se concordarem, vão usar a receita para reduzir deficits ou manter doações.
Mas é interessante considerar como alguns países vão poder manter suas doações com esses impostos que, ao mesmo tempo, trazem benefícios de saúde, no caso de tabaco, e redução de poluentes, no caso de combustíveis.


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