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Vice de Chávez admite na TV que disputa sobre Carta é acirrada
Oposição comemora vitória do "não" à reforma; divulgação do resultado oficial do referendo é adiada
Comparecimento às urnas foi menor do que na reeleição de Chávez, em dezembro; boca-de-urna previra vitória do "sim"
Jorge Silva/Reuters
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Com dedo azul que atesta o voto, Chávez joga beijo a simpatizantes no bairro 23 de Janeiro
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O resultado apertado do referendo sobre o projeto de reforma constitucional do presidente venezuelano, Hugo Chávez,
impediu que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciasse
o resultado oficial ontem à noite. O Bloco do Não, porém, se
antecipou e declarou a vitória
da oposição.
A apuração acirrada levou o
CNE a adiar a divulgação do seu
primeiro boletim por falta de
um resultado consolidado, que
estava inicialmente previsto
para as 20h locais (22h em Brasília). Por volta das 21h30 locais, o vice-presidente e comandante da campanha chavista, Jorge Rodríguez, concedeu uma breve entrevista coletiva para admitir que a apuração estava "disputada".
"Os dirigentes temos de estar
à altura do povo", disse. Exortou a oposição, no entanto, a esperar os resultados finais.
Com sorriso no rosto e cópias
das atas eleitorais, o prefeito
oposicionista Leopoldo López
começou a anunciar por volta
das 22h20 locais (0h20 em Brasília) a vitória na sede da campanha, mas a transmissão foi
interrompida pelos canais de
TV locais. A legislação venezuelana proíbe divulgação de dados da votação antes dos resultados oficiais do CNE.
"Queremos dizer ao país: felicitações, felicitações pelo processo", disse o líder oposicionista Yon Goicoechea. "Esta
noite, ganhou a Venezuela", disse à noite o governador oposicionista Manuel Rosales, candidato derrotado nas eleições
presidenciais do ano passado.
O secretário-geral do partido
Podemos, Ismael Garcia, disse
que "o carômetro diz tudo". A
agremiação social-democrata
rompeu com Chávez neste ano
e fez campanha contra a reforma. Já o presidente, que havia
convocado uma entrevista coletiva com meios internacionais, não havia se pronunciado
até as 22h40 (0h40 no Brasil).
Caso a derrota de Chávez seja
confirmada, terá sido a primeira vez que ele perde uma eleição desde que foi eleito presidente, em 1998. Desde então,
foram dez votações.
Abstenção
O comparecimento esteve
longe de repetir o referendo revogatório do mandato de Chávez, em 2004, quando a pessoas
ficaram até nove horas esperando nas filas, e a abstenção ficou em 30%. Em dezembro
passado, quando Chávez foi
reeleito com quase 63% dos votos, a abstenção foi ainda menor: 25%.
No fim da tarde, pesquisas de
boca-de-urna previram a vitória do "sim" por vantagem de
até oito pontos, mas dirigentes
da oposição disseram que os levantamentos foram feitos de
manhã e a maioria dos eleitores
votou à tarde.
Ao votar no início da tarde,
no bairro pobre 23 de Enero,
Chávez disse que "o povo está
votando e aqui se cumprirá a
decisão popular". Mantendo o
discurso de vitória dos últimos
dias, afirmou que "confia em
que a outra parte aceite os resultados".
Na campanha, Chávez adotou um discurso fortemente
plebiscitário, ao dizer que,
quem votasse contra sua proposta também estaria votando
contra ele, um recado aos chavistas descontentes. Pesquisas
realizadas durante o processo
mostraram que a maior novidade desta votação era a rejeição
de parte dos eleitores chavistas
à reforma.
Reforma abrangente
A reforma proposta por Chávez modificaria 69 dos 350 artigos da atual Constituição, aprovada em 1999, já sob o atual governo. Além da reeleição indefinida, as mudanças incluiriam
o aumento do mandato presidencial de seis para sete anos, a
transição para uma economia
socialista e a criação do Poder
Popular, com a incorporação de
conselhos comunitários habilitados pelo Executivo.
Várias modificações aumentariam as atribuições do Executivo, como o poder para criar
novas unidades territoriais governadas por vice-presidentes
biônicos, o controle da política
monetária e a nomeação de oficiais das Forças Armadas.
O projeto de reforma constitucional diminui ainda o jornada de trabalho de 44 para 36
horas semanais e dá status
constitucional às "missões", os
populares programas educativos do governo que distribuem
bolsas de estudo mensais.
Chávez tem afirmado que a
reforma tiraria as "travas" da
Constituição de 1999 (aprovada sob seu governo), que impedem a implantação do que tem
chamado de "socialismo do século 21". Prestes a completar
nove anos no poder, em janeiro,
Chávez já é o segundo mandatário há mais tempo no poder
na América Latina, atrás do
aliado Fidel Castro. Depois de
vencer as eleições do ano passado, o venezuelano teve o
mandato assegurado até janeiro de 2013.
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