São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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Vice de Chávez admite na TV que disputa sobre Carta é acirrada

Oposição comemora vitória do "não" à reforma; divulgação do resultado oficial do referendo é adiada

Comparecimento às urnas foi menor do que na reeleição de Chávez, em dezembro; boca-de-urna previra vitória do "sim"

Jorge Silva/Reuters
Com dedo azul que atesta o voto, Chávez joga beijo a simpatizantes no bairro 23 de Janeiro

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O resultado apertado do referendo sobre o projeto de reforma constitucional do presidente venezuelano, Hugo Chávez, impediu que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciasse o resultado oficial ontem à noite. O Bloco do Não, porém, se antecipou e declarou a vitória da oposição.
A apuração acirrada levou o CNE a adiar a divulgação do seu primeiro boletim por falta de um resultado consolidado, que estava inicialmente previsto para as 20h locais (22h em Brasília). Por volta das 21h30 locais, o vice-presidente e comandante da campanha chavista, Jorge Rodríguez, concedeu uma breve entrevista coletiva para admitir que a apuração estava "disputada".
"Os dirigentes temos de estar à altura do povo", disse. Exortou a oposição, no entanto, a esperar os resultados finais.
Com sorriso no rosto e cópias das atas eleitorais, o prefeito oposicionista Leopoldo López começou a anunciar por volta das 22h20 locais (0h20 em Brasília) a vitória na sede da campanha, mas a transmissão foi interrompida pelos canais de TV locais. A legislação venezuelana proíbe divulgação de dados da votação antes dos resultados oficiais do CNE.
"Queremos dizer ao país: felicitações, felicitações pelo processo", disse o líder oposicionista Yon Goicoechea. "Esta noite, ganhou a Venezuela", disse à noite o governador oposicionista Manuel Rosales, candidato derrotado nas eleições presidenciais do ano passado.
O secretário-geral do partido Podemos, Ismael Garcia, disse que "o carômetro diz tudo". A agremiação social-democrata rompeu com Chávez neste ano e fez campanha contra a reforma. Já o presidente, que havia convocado uma entrevista coletiva com meios internacionais, não havia se pronunciado até as 22h40 (0h40 no Brasil).
Caso a derrota de Chávez seja confirmada, terá sido a primeira vez que ele perde uma eleição desde que foi eleito presidente, em 1998. Desde então, foram dez votações.

Abstenção
O comparecimento esteve longe de repetir o referendo revogatório do mandato de Chávez, em 2004, quando a pessoas ficaram até nove horas esperando nas filas, e a abstenção ficou em 30%. Em dezembro passado, quando Chávez foi reeleito com quase 63% dos votos, a abstenção foi ainda menor: 25%.
No fim da tarde, pesquisas de boca-de-urna previram a vitória do "sim" por vantagem de até oito pontos, mas dirigentes da oposição disseram que os levantamentos foram feitos de manhã e a maioria dos eleitores votou à tarde.
Ao votar no início da tarde, no bairro pobre 23 de Enero, Chávez disse que "o povo está votando e aqui se cumprirá a decisão popular". Mantendo o discurso de vitória dos últimos dias, afirmou que "confia em que a outra parte aceite os resultados".
Na campanha, Chávez adotou um discurso fortemente plebiscitário, ao dizer que, quem votasse contra sua proposta também estaria votando contra ele, um recado aos chavistas descontentes. Pesquisas realizadas durante o processo mostraram que a maior novidade desta votação era a rejeição de parte dos eleitores chavistas à reforma.

Reforma abrangente
A reforma proposta por Chávez modificaria 69 dos 350 artigos da atual Constituição, aprovada em 1999, já sob o atual governo. Além da reeleição indefinida, as mudanças incluiriam o aumento do mandato presidencial de seis para sete anos, a transição para uma economia socialista e a criação do Poder Popular, com a incorporação de conselhos comunitários habilitados pelo Executivo.
Várias modificações aumentariam as atribuições do Executivo, como o poder para criar novas unidades territoriais governadas por vice-presidentes biônicos, o controle da política monetária e a nomeação de oficiais das Forças Armadas.
O projeto de reforma constitucional diminui ainda o jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais e dá status constitucional às "missões", os populares programas educativos do governo que distribuem bolsas de estudo mensais.
Chávez tem afirmado que a reforma tiraria as "travas" da Constituição de 1999 (aprovada sob seu governo), que impedem a implantação do que tem chamado de "socialismo do século 21". Prestes a completar nove anos no poder, em janeiro, Chávez já é o segundo mandatário há mais tempo no poder na América Latina, atrás do aliado Fidel Castro. Depois de vencer as eleições do ano passado, o venezuelano teve o mandato assegurado até janeiro de 2013.


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