São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Antímano, antigo reduto de Hugo Chávez, apatia do eleitorado surpreende

DE CARACAS

Por volta do meio-dia, o centro de votação do colégio Refúgio da Infância era um oásis de tranqüilidade se comparado com as ruas abarrotadas de grandes carros velhos e camelôs do centro de Antímano, uma das mais populosas e pobres regiões de Caracas e reduto histórico do chavismo.
A ausência de filas surpreendeu o líder comunitário oposicionista Domingo Pérez, que ontem coordenou o transporte de observadores em quatro centros eleitorais. Com a experiência de décadas de eleições nas costas, ele havia previsto na noite anterior a tradicional presença maciça de partidários do presidente Hugo Chávez, acompanhados da boca-de-urna (ilegal) e do transporte de eleitores.
"O que me desconcertou é que o chavismo não usou a sua maquinária. Ou foi a maquinária que não seguiu", disse Domingo Pérez, que comparou o dia de ontem com as esvaziadas eleições regionais, quando a abstenção costuma superar 50% -o voto não é obrigatório na Venezuela.
Por volta das 5h30, Pérez saiu de casa -sua família é uma das 39 que ocupam uma fábrica de móveis falida no alto de um morro- para coordenar o trabalho de observadores da oposição. Segurança de um prédio em zona nobre de Caracas, Pérez é uma minoria no bairro onde nasceu há 53 anos.

Opositor
Opositor de Chávez desde que ele ganhou a primeira eleição presidencial, em 1998, ele faz parte da associação comunitária Gente de Antímano, que reúne apenas 18 pessoas -há três anos, somavam 80.
"Toda vez que vamos à eleição, perdemos, e as pessoas vão saindo", diz.
O carro que o espera na madrugada escura é um jipe Toyota 1981, dirigido por Luis Durán, que ganha a vida transportando pessoas morro a cima por cerca de R$ 1. Ao contrário de vários veículos com propaganda chavista que circulavam ontem em Antímano, o carro da oposição não traz nenhuma identificação visível. Mas, em outro detalhe raro do dia, não houve os pequenos incidentes de praxe com chavistas, geralmente uma troca de insultos.

Conversa animada
Aos poucos, o Toyota se enche, e a conversa se anima com opiniões e piadas, sempre em torno da política . "Esta noite vamos dançar", prevê uma. "Se Chávez ganhar, isso vai ser Cuba", arrisca outra "Não, isso já é Cuba, olha a fila pra comprar leite." Um celular toca e o que se ouve é o novo hit da oposição, uma música cuja letra faz piada com o episódio com o rei espanhol: "Toda la gente se pregunta/Por qué no te callas?"
Ao longo das próximas horas, o Toyota subiu e desceu várias vezes entre os centros de votação e as casas. Numa das poucas pausas, Pérez diz a Durán: "No dia em que derrubarmos ele, Deus à frente, teremos um problema: que porra vamos fazer?" O colega só ri. (FABIANO MAISONNAVE)


Texto Anterior: Jargão militar move voto chavista
Próximo Texto: Ex-ministro da Defesa afirma ter sofrido ataque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.