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Em Antímano, antigo reduto de Hugo Chávez, apatia do eleitorado surpreende
DE CARACAS
Por volta do meio-dia, o centro de votação do colégio Refúgio da Infância era um oásis de
tranqüilidade se comparado
com as ruas abarrotadas de
grandes carros velhos e camelôs do centro de Antímano,
uma das mais populosas e pobres regiões de Caracas e reduto histórico do chavismo.
A ausência de filas surpreendeu o líder comunitário oposicionista Domingo Pérez, que
ontem coordenou o transporte
de observadores em quatro
centros eleitorais. Com a experiência de décadas de eleições
nas costas, ele havia previsto na
noite anterior a tradicional
presença maciça de partidários
do presidente Hugo Chávez,
acompanhados da boca-de-urna (ilegal) e do transporte de
eleitores.
"O que me desconcertou é
que o chavismo não usou a sua
maquinária. Ou foi a maquinária que não seguiu", disse Domingo Pérez, que comparou o
dia de ontem com as esvaziadas
eleições regionais, quando a
abstenção costuma superar
50% -o voto não é obrigatório
na Venezuela.
Por volta das 5h30, Pérez
saiu de casa -sua família é uma
das 39 que ocupam uma fábrica
de móveis falida no alto de um
morro- para coordenar o trabalho de observadores da oposição. Segurança de um prédio
em zona nobre de Caracas, Pérez é uma minoria no bairro onde nasceu há 53 anos.
Opositor
Opositor de Chávez desde
que ele ganhou a primeira eleição presidencial, em 1998, ele
faz parte da associação comunitária Gente de Antímano, que
reúne apenas 18 pessoas -há
três anos, somavam 80.
"Toda vez que vamos à eleição, perdemos, e as pessoas vão
saindo", diz.
O carro que o espera na madrugada escura é um jipe Toyota 1981, dirigido por Luis Durán, que ganha a vida transportando pessoas morro a cima
por cerca de R$ 1. Ao contrário
de vários veículos com propaganda chavista que circulavam
ontem em Antímano, o carro da
oposição não traz nenhuma
identificação visível. Mas, em
outro detalhe raro do dia, não
houve os pequenos incidentes
de praxe com chavistas, geralmente uma troca de insultos.
Conversa animada
Aos poucos, o Toyota se enche, e a conversa se anima com
opiniões e piadas, sempre em
torno da política . "Esta noite
vamos dançar", prevê uma. "Se
Chávez ganhar, isso vai ser Cuba", arrisca outra "Não, isso já é
Cuba, olha a fila pra comprar
leite." Um celular toca e o que
se ouve é o novo hit da oposição, uma música cuja letra faz
piada com o episódio com o rei
espanhol: "Toda la gente se
pregunta/Por qué no te callas?"
Ao longo das próximas horas,
o Toyota subiu e desceu várias
vezes entre os centros de votação e as casas. Numa das poucas
pausas, Pérez diz a Durán: "No
dia em que derrubarmos ele,
Deus à frente, teremos um problema: que porra vamos fazer?"
O colega só ri.
(FABIANO MAISONNAVE)
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