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Índia pede que Paquistão extradite supostos terroristas
Departamento de Estado americano afirma ter alertado Nova Déli previamente sobre risco de atentados em Mumbai
Em depoimento divulgado pela polícia, terrorista preso diz ter sido treinado por grupo radical paquistanês; Islamabad nega vínculos
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A MUMBAI
Uma lista com os 20 suspeitos de terrorismo mais procurados da Índia foi entregue ontem ao enviado especial do governo do Paquistão a Nova Déli.
O governo indiano pede a extradição de terroristas paquistaneses, depois de ter cobrado
"ações enérgicas" do vizinho
após os atentados que mataram
172 pessoas na semana passada
em Mumbai.
Islamabad não respondeu diretamente à solicitação, mas o
presidente paquistanês, Asif
Ali Zardari, disse à CNN que os
autores do ataque são "militantes apátridas".
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, chega hoje à Índia. Na segunda, ela
dissera que não queria "tirar
conclusões apressadas" sobre a
autoria dos atentados.
Mas fontes do Departamento
de Estado dos EUA disseram a
agências internacionais, sob
condição de anonimato, que há
razões para se acreditar que um
grupo baseado no Paquistão esteja por trás dos atentados, e
afirmaram que o governo americano já tinha alertado o governo indiano da ameaça de
ataques em sua maior cidade.
O Paquistão é aliado dos Estados Unidos, mas os americanos se aproximaram da Índia
nos últimos anos. Os dois atuais
aliados americanos e rivais entre si têm arsenal nuclear.
Terrorista interrogado
O governo indiano tem recebido duras críticas internas pelo fracasso de sua segurança e
de seu serviço secreto, que não
conseguiram coibir a ação de
dez terroristas, que deixaram
ainda 239 feridos.
As autoridades policiais indianas continuam a interrogar
o único terrorista capturado
com vida, Ajmal Amin Kasav,
21. O chefe da Polícia de Mumbai, Hasan Gafoor, afirmou ontem que Kasav admitiu que é
paquistanês e que os dez terroristas foram treinados por um
grupo extremista no Paquistão.
"Os dez terroristas chegaram
de Karachi de navio, usaram
uma bandeira de SOS em águas
internacionais e seqüestraram
e mataram os pescadores e o
capitão do barco que ofereceu
resgate a eles, até chegar à baía
de Mumbai", disse Gafoor segundo relato da polícia.
O capitão e os pescadores foram encontrados degolados.
Ele também disse que o grupo foi treinado por militares,
mas não precisou de que país.
Gafoor afirmou que não há provas de que haja locais envolvidos com os atentados, apesar
de especialistas em segurança
duvidarem de que os terroristas pudessem conhecer tão
bem os hotéis e a região de
Mumbai Sul sem apoio local.
Indagado se há prova do envolvimento do Paquistão nos
atentados, ele disse que "as investigações estão em curso e
qualquer prova será exibida".
Desde o primeiro dia, autoridades e a mídia indianas têm
culpado o Paquistão, que revida
dizendo que o país quer desviar
a atenção de seu próprio fracasso e que virou bode expiatório.
Para se ter uma idéia da guerra de propaganda nos dois lados
da fronteira, um especialista
em segurança entrevistado ontem na TV do Paquistão disse
que o atentado era fruto de um
complô entre Israel e Índia.
Sem enterro
Os principais clérigos muçulmanos de Mumbai afirmaram
ontem que proibirão o enterro
dos nove terroristas em um cemitério islâmico. "Esses demônios não terão uma polegada de
terra em nenhum cemitério
muçulmano", disse Maulana
Sayed Moinuddin Ahsraf, secretário da Comunidade dos
Sunitas da Índia, à Reuters.
Um encontro de líderes muçulmanos do Estado de Maharashtra, cuja capital é Mumbai,
impôs a proibição inédita- em
atentados anteriores, o enterro
era autorizado em poucas horas, como prevê o rito islâmico.
"Não é só porque você se chama Musa, Azim ou Rehman que
se torna muçulmano. Essas
pessoas podem não ser muçulmanas", disse Syed Noori. "Que
o governo tenha dor de cabeça
para decidir onde enterrá-los."
Há crescentes temores no
governo do moderado premiê
Manmohan Singh de que sentimentos antimuçulmanos cresçam no país. Ao menos 40 muçulmanos estão entre os mortos nos ataques, assassinados a
esmo pelos terroristas em lugares públicos. A minoria muçulmana tem 13% da população da
Índia (150 milhões de pessoas).
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