São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Vazamento é pedagógico, diz analista

Para Matias Spektor, da FGV, documentos revelados pelo WikiLeaks mostram diplomacia em "tons de cinza"

Professor afirma que um efeito da polêmica será uma informalidade crescente na troca de textos diplomáticos

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

Para o professor Matias Spektor, coordenador do centro de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, o vazamento dos mais de 250 mil documentos sigilosos produzidos pela diplomacia dos EUA tem efeito pedagógico.
"O vazamento é educativo. O público tem acesso aos bastidores da política internacional. Mostra que o mundo não é feito de branco e preto, mas de tons de cinza."
Para o professor, a principal mensagem dos informes é mostrar que hoje a chamada guerra ao terror é o principal foco da política externa americana, lugar que, na Guerra Fria, foi ocupado pelo comunismo.
Aos 33 anos, doutor pela Universidade de Oxford, Matias Spektor -nascido na Argentina, mas criado no Brasil- é autor de "Kissinger e o Brasil" (editora Zahar), um estudo da articulação do então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, para criar uma relação preferencial com o Brasil entre os anos de 1974 e 1977.
A seguir, trechos da sua entrevista.

 


Folha - Qual a principal mensagem dos documentos divulgados?
Matias Spektor -
A mensagem principal é que de fato a chamada guerra contra o terror é o prisma que organiza a política externa americana. Da mesma forma que o comunismo norteava a política externa americana durante a Guerra Fria.

O vazamento pode mudar a relação dos EUA com o resto do mundo?
O impacto que vai ter, e que acho negativo, é que menos coisas relevantes serão postas no papel. Vai aumentar a informalização das trocas diplomáticas, o que é ruim. Os ministérios de Relações Exteriores precisam ter arquivos para assegurar que as iniciativas diplomáticas não fiquem à mercê das personalidades no poder. E é ruim do ponto de vista da história. Provavelmente veremos um aumento do uso de informações secretas.

Alguns documentos dizem que o Itamaraty é adversário dos EUA. Mas essa visão americana não é antiga?
A percepção de que o Itamaraty é uma frente de resistência às iniciativas americanas no Brasil tem um longo pedigree. Na década de 60 é possível ver isso. Foi no Itamaraty que nasceu a ideia de uma política externa independente. Historicamente o órgão se organiza para aumentar a autonomia do Brasil em relação aos EUA.

Julian Assange, do WikiLeaks, disse que os documentos mostram como o mundo funciona de fato. Concorda?
O vazamento é educativo. O público tem acesso aos bastidores da política internacional, mostra a complexidade da situação. Nenhum documento permite a conclusão de que tem o lado bom e o mau. Mostra que o mundo não é feito de branco e preto, mas de tons de cinza. É importante notar que a documentação tem um grau baixo de classificação, não são documentos quentes. São 250 mil documentos. É um banquete para historiadores.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Rússia-Otan: Moscou diz que não vai aceitar mísseis em países vizinhos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.