São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Republicanos consideram o "esquerdista" favorito na disputa democrata e planejam explorar seu discurso "radical"

Bush já mira em Dean como seu adversário

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A 20 dias do início das primárias que definirão o nome do candidato que concorrerá contra George W. Bush na eleição norte-americana deste ano, estrategistas republicanos já consideram o democrata Howard Dean como o virtual adversário.
Dean, 56, médico e ex-governador do Estado de Vermont, é hoje líder nas pesquisas de intenção de voto para a nomeação democrata e, sozinho, arrecadou mais fundos do que seus principais colegas de partido juntos.
A principal arma dos republicanos contra Dean é, paradoxalmente, o próprio Dean e a disputa autofágica no ninho democrata, onde nove pré-candidatos disputam a nomeação do partido para a eleição de 2 de novembro.
Há poucos dias, Dean afirmou que a captura de Saddam Hussein em dezembro não tornava os EUA ""um lugar mais seguro" e criticou ""a condenação prévia, sem julgamento formal", do líder da Al Qaeda, Bin Laden, pelos atentados de 11 de Setembro.
Sem exceção, os outros oito oponentes democratas, com o senador John Kerry e o general reformado Wesley Clark à frente, criticaram fortemente Dean.
Acusações adicionais do próprio campo democrata alegam que Dean pretende aumentar impostos entre a classe média e que o pré-candidato vem perdendo ""o contato com a realidade" ao colocar-se em uma posição de ""esquerda radical" contra Bush.
Estrategistas do partido de Bush já anunciaram que algumas das principais peças de campanha na eleição deste ano serão imagens de debates e declarações onde Dean ataca Bush ou é atacado por seus próprios colegas de partido.
""Os eleitores normalmente não votam em uma pessoa raivosa e pessimista para ser o presidente. Eles querem alguém que, mesmo em tempos difíceis, olhe para frente e seja otimista", disse Matthew Dowd, um dos chefes da campanha de Bush, em entrevista na semana passada.
Dean, no entanto, continua apostando na posição de ""esquerda radical" que o distanciou nos últimos meses dos outros pré-candidatos democratas.
Pesquisa realizada pela revista ""Newsweek" em dezembro colocou Dean com 26% das intenções de voto entre os democratas registrados, bem à frente, por exemplo, de Kerry, que se manteve em um patamar de 6%.

Dean mantém ofensiva
Entre os demais pré-candidatos democratas, plataformas e discursos de campanha vêm se aproximando cada vez mais das dos republicanos. Dean, ao contrário, mantém a ofensiva.
""O hábito irresponsável de Bush de colocar a ideologia à frente dos fatos resultou no governo mais perigoso que já vi em toda a minha vida", repetiu Dean em três discursos em Estados diferentes na semana passada.
Dean vem dizendo também que ""segurança nacional e econômica" são as ""pedras fundamentais" de uma eleição. ""Bush tem sido leniente nesses dois pontos", diz.
Entre os republicanos, a expectativa é de que o discurso de Dean acabe esvaziado pelos fatos. Em alguma medida, isso já acontece.
Pesquisa publicada na última semana de dezembro pelo ""Washington Post", por exemplo, mostrou uma melhora na avaliação de Bush tanto na segurança interna quanto nas perspectivas econômicas dos EUA -consideradas por Dean como primordiais.
A avaliação positiva em relação à atuação norte-americana no Iraque subiu para 60%, contra 48% em novembro; e 51% dos americanos acreditam hoje que Bush esteja se saindo bem na política econômica -o maior percentual desde abril de 2003.
A mesma pesquisa mostrou que 4 em cada 5 americanos acreditam que a sua situação econômica pessoal deva melhorar neste ano.
Depois de dois anos de resultados magros, Bush fechou 2003 com todas as Bolsas do país no azul e exibindo um vigoroso crescimento econômico -acima de 8% no terceiro trimestre.



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