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Artigo
"Revolução" não reduziu o governo
PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Depois de uma primeira
tentativa de negar a escala da
derrota eleitoral sofrida no
mês passado, os apologistas
do Partido Republicano terminaram por desenvolver
explicação que não fica muito distante das justificativas
dos marxistas para o fracasso
da União Soviética. O que
realmente aconteceu, dizem,
é que os ideais da revolução
republicana de 1994 foram
solapados pelos modos corruptos de Washington.
Mas o fato é que o movimento que tomou o poder
em 1994 sempre se baseou
em uma mentira.
Ela está exposta em "The
Freedom Revolution" [a revolução da liberdade], livro
publicado por Dick Armey
em 1995, pouco depois de se
tornar líder da maioria republicana na Câmara.
Armey afirmava que a
maioria dos programas do
governo "nada faz para ajudar as famílias norte-americanas em suas necessidades
cotidianas".
O deputado dizia ainda
que "não existe razão para
que não possamos, antes que
nossos filhos cheguem à
maioridade, reduzir as dimensões do governo federal
à metade, em termos de porcentagem do PIB".
Eu creio que bem mais que
umas poucas famílias reparariam caso a Previdência
Social e os programas federais de saúde Medicare e Medicaid desaparecessem. Esses três programas respondem pela maioria dos gastos
não financeiros e não relacionados à defesa do governo
federal. A verdade é que o governo fornece serviços e segurança de que as pessoas
precisam. Sim, existe certa
dose de desperdício como
em qualquer organização de
grande porte. Mas não há
programas de grande porte
que seja fácil cortar.
Enquanto políticos como
Armey não detinham o poder, era fácil para eles ganhar
popularidade com promessas de eliminar o vasto desperdício do governo. Mas,
quando chegaram ao poder,
eles não cumpriram suas
promessas.
É por isso que o governo
pela direita radical foi um
completo fracasso até mesmo se analisado pelos critérios que ela mesma instituiu:
o governo não se reduziu. Os
desembolsos federais, desconsiderados os gastos com a
defesa e as despesas financeiras, representam porcentagem maior do PIB, hoje, do
que quando Armey publicou
seu livro: 14,8% em 2006, ante 13,8% em 1995.
Sem o 11 de Setembro, a revolução republicana provavelmente teria se extinguido
discretamente. Em lugar disso, a atrocidade abriu uma janela de oportunidade.
Se os republicanos não
conseguiram reduzir o governo, fizeram muito por degradá-lo. Bagdá e Nova Orleans são os pontos de chegada de um movimento que se
baseava em profundo desprezo pela idéia de governo.
Será que isso marcará o
fim da direita radical? Provavelmente não. Muitas das
idéias que fracassaram nos
anos Bush já haviam fracassado nos anos Reagan. Por isso, não há por que imaginar
que tenham desaparecido
para sempre.
TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI
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