São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Farc anunciam libertação de mais 3 reféns políticos

Anúncio ocorre às vésperas de mobilização mundial contra os seqüestros da guerrilha

Em data não definida, entrega será ao presidente venezuelano; governo da Colômbia afirma que não irá atrapalhar processo

William Fernando Martinez/Associated Press
Ambulante vende camisetas com dizeres contra as Farc para mobilização de hoje em Bogotá


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

A poucas horas de uma inédita mobilização contra as Farc a ser realizada na Colômbia e em vários países do mundo, a guerrilha esquerdista anunciou anteontem à noite a libertação de mais três reféns políticos, todos ex-congressistas seqüestrados há mais de seis anos. Assim como Clara Rojas e Consuelo González, libertadas no último dia 10, a entrega deverá ser feita ao governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e à senadora colombiana oposicionista Piedad Córdoba.
Em comunicado divulgado no site pró-Farc "Agencia Bolivariana de Prensa", o alto comando da guerrilha disse que soltará Gloria Polanco, Luis Eladio e Orlando Beltrán como reconhecimento "aos persistentes esforços para concretizar um acordo humanitário" por parte de Chávez e Córdoba e devido ao estado de saúde dos três. Não foi divulgada uma data para a libertação.
Como tem sido a praxe dos últimos comunicados, as Farc elogiam Chávez -que, no mês passado, afirmou ter afinidade política com a guerrilha- e criticam duramente o presidente Álvaro Uribe e os EUA.
Ontem, o ministro do Interior colombiano, Carlos Holguín, disse que o governo facilitará o processo. "A liberação dos seqüestrados está acima de qualquer outra consideração e não vamos permitir que, para essa liberação, existam dificuldades", disse a jornalistas.
O anúncio ocorre no momento em que várias cidades colombianas e do exterior serão palco de manifestações contra as Farc, que mantêm atualmente 43 seqüestrados "trocáveis" por guerrilheiros presos, além de cerca de 700 reféns econômicos. Os eventos devem ocorrer de forma simultânea hoje e incluem São Paulo, Rio de Janeiro e Londrina (PR).
Batizada de "Um milhão de vozes contra as Farc", a iniciativa começou há cerca de um mês no Facebook, site de relacionamentos tão popular na Colômbia como é o Orkut no Brasil. Rapidamente, a proposta ganhou força em meio a uma opinião pública comovida com a história de Emmanuel, filho da ex-refém Clara Rojas localizado num albergue de Bogotá, e com as dramáticas cartas de reféns enviadas a familiares por intermédio de González.
A manifestação também deve incluir críticas a Chávez. No mês passado, ele propôs que as Farc deixassem de ser chamadas de terroristas e disse que tem afinidades ideológicas com a guerrilha, ao mesmo tempo em que "congelava" as relações com a Colômbia.
Em algumas das avenidas de Bogotá, foram colocados grandes outdoors com os dizeres "Chávez, cállate!", em alusão à frase do rei espanhol, Juan Carlos, durante cúpula no Chile no ano passado.

Apoio oficial
Ainda que a manifestação não seja oficial, o governo Uribe tem dado um claro apoio à iniciativa, por meio de várias declarações de seus porta-vozes. Além disso, os funcionários públicos foram liberados a partir das 11h locais (três horas a menos que Brasília).
Em Bogotá, o prefeito esquerdista Samuel Moreno cancelou as aulas nas escolas públicas do município.
Os principais meios de comunicação do país, como o jornal "El Tiempo", fizeram uma intensa campanha nos últimos dias convocando a população.
Ao todo, os organizadores planejam fazer atos em cerca de 50 cidades da Colômbia e em 141 de todos os continentes. Os eventos estão previstos para ocorrer às 12h colombianas.
Em Caracas, a marcha terá a participação ativa do principal partido oposicionista, Um Novo Tempo (UNT), crítico da posição de Chávez sobre as Farc.
Curiosamente, os menos entusiasmados têm sido os parentes dos seqüestrados. Em vez de participar da marcha, eles planejam se concentrar na igreja do Voto Nacional, em Bogotá, onde apenas farão orações. A recém-libertada Consuelo González também se manifestou contrária aos atos.
Organizações que representam os familiares dizem temer que o excesso de politização da marcha -o lema é "No más secuestros/no mas mentiras/no más muertes/no más Farc"- dificulte um acordo para a troca dos reféns políticos.


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