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Farc anunciam libertação de mais 3 reféns políticos
Anúncio ocorre às vésperas de mobilização mundial contra os seqüestros da guerrilha
Em data não definida, entrega será ao presidente venezuelano; governo da Colômbia afirma que não
irá atrapalhar processo
William Fernando Martinez/Associated Press
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Ambulante vende camisetas com dizeres contra as Farc para mobilização de hoje em Bogotá |
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
A poucas horas de uma inédita mobilização contra as Farc a
ser realizada na Colômbia e em
vários países do mundo, a guerrilha esquerdista anunciou anteontem à noite a libertação de
mais três reféns políticos, todos
ex-congressistas seqüestrados
há mais de seis anos. Assim como Clara Rojas e Consuelo
González, libertadas no último
dia 10, a entrega deverá ser feita
ao governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e à senadora colombiana oposicionista Piedad Córdoba.
Em comunicado divulgado
no site pró-Farc "Agencia Bolivariana de Prensa", o alto comando da guerrilha disse que
soltará Gloria Polanco, Luis
Eladio e Orlando Beltrán como
reconhecimento "aos persistentes esforços para concretizar um acordo humanitário"
por parte de Chávez e Córdoba
e devido ao estado de saúde dos
três. Não foi divulgada uma data para a libertação.
Como tem sido a praxe dos
últimos comunicados, as Farc
elogiam Chávez -que, no mês
passado, afirmou ter afinidade
política com a guerrilha- e criticam duramente o presidente
Álvaro Uribe e os EUA.
Ontem, o ministro do Interior colombiano, Carlos Holguín, disse que o governo facilitará o processo. "A liberação
dos seqüestrados está acima de
qualquer outra consideração e
não vamos permitir que, para
essa liberação, existam dificuldades", disse a jornalistas.
O anúncio ocorre no momento em que várias cidades
colombianas e do exterior serão palco de manifestações
contra as Farc, que mantêm
atualmente 43 seqüestrados
"trocáveis" por guerrilheiros
presos, além de cerca de 700 reféns econômicos. Os eventos
devem ocorrer de forma simultânea hoje e incluem São Paulo,
Rio de Janeiro e Londrina (PR).
Batizada de "Um milhão de
vozes contra as Farc", a iniciativa começou há cerca de um mês
no Facebook, site de relacionamentos tão popular na Colômbia como é o Orkut no Brasil.
Rapidamente, a proposta ganhou força em meio a uma opinião pública comovida com a
história de Emmanuel, filho da
ex-refém Clara Rojas localizado num albergue de Bogotá, e
com as dramáticas cartas de reféns enviadas a familiares por
intermédio de González.
A manifestação também deve incluir críticas a Chávez. No
mês passado, ele propôs que as
Farc deixassem de ser chamadas de terroristas e disse que
tem afinidades ideológicas com
a guerrilha, ao mesmo tempo
em que "congelava" as relações
com a Colômbia.
Em algumas das avenidas de
Bogotá, foram colocados grandes outdoors com os dizeres
"Chávez, cállate!", em alusão à
frase do rei espanhol, Juan Carlos, durante cúpula no Chile no
ano passado.
Apoio oficial
Ainda que a manifestação
não seja oficial, o governo Uribe tem dado um claro apoio à
iniciativa, por meio de várias
declarações de seus porta-vozes. Além disso, os funcionários
públicos foram liberados a partir das 11h locais (três horas a
menos que Brasília).
Em Bogotá, o prefeito esquerdista Samuel Moreno cancelou as aulas nas escolas públicas do município.
Os principais meios de comunicação do país, como o jornal "El Tiempo", fizeram uma
intensa campanha nos últimos
dias convocando a população.
Ao todo, os organizadores
planejam fazer atos em cerca
de 50 cidades da Colômbia e em
141 de todos os continentes. Os
eventos estão previstos para
ocorrer às 12h colombianas.
Em Caracas, a marcha terá a
participação ativa do principal
partido oposicionista, Um Novo Tempo (UNT), crítico da posição de Chávez sobre as Farc.
Curiosamente, os menos entusiasmados têm sido os parentes dos seqüestrados. Em vez
de participar da marcha, eles
planejam se concentrar na
igreja do Voto Nacional, em Bogotá, onde apenas farão orações. A recém-libertada Consuelo González também se manifestou contrária aos atos.
Organizações que representam os familiares dizem temer
que o excesso de politização da
marcha -o lema é "No más secuestros/no mas mentiras/no
más muertes/no más Farc"-
dificulte um acordo para a troca dos reféns políticos.
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