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Renúncias causam primeira crise de Obama
Escolhido para ser secretário da Saúde desiste após se tornar o terceiro no governo a ter problemas com o fisco expostos
"Eu estraguei as coisas", diz presidente, sobre seleção de Tom Daschle; "czarina" dos gastos governamentais abdica por motivo similar
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Menos de 24 horas depois de
dizer que apoiava "totalmente"
o democrata Tom Daschle para
o Departamento da Saúde, o
presidente Barack Obama viu
seu escolhido renunciar ao cargo por problemas tributários. É
a primeira crise grave de um
governo que completa 15 dias.
Desde que o caso veio a público, na sexta, revelou-se que
Daschle sabia do problema com
o fisco há mais tempo do que
disse ao governo e antes de ser
convidado. Além disso, já na
nova administração, ele teria
feito lobby por um cargo para
Leo Hindery, proprietário da
InterMedia Partners, para o
Departamento de Comércio.
O problema é que o empresário em questão é o mesmo que
pagou mais de US$ 1 milhão em
salários a Daschle e que cedeu
por um ano um carro com motorista ao político, a origem dos
impostos não pagos pelo ex-senador, que chegam a US$ 130
mil. No mesmo dia, outra indicada por Obama retirou candidatura por problemas com impostos de renda não pagos.
Nancy Killefer era a "czarina
da performance", convidada há
um mês para fiscalizar os gastos governamentais, cargo subordinado à Casa Branca. Foi
indicada no dia 7, quando Obama afirmou que ela ajudaria "a
restaurar a confiança do povo
americano no governo".
"Eu estraguei as coisas", disse Obama em uma das várias
entrevistas que concedeu na
tarde de ontem, usando a expressão em inglês "screw up".
"Estou aqui na TV dizendo que
estraguei as coisas, e isso é parte da era da responsabilidade.
Não é nunca errar, mas assumir
o erro e tentar não o repetir."
A crise marca o fim da breve
lua-de-mel do novo governo
com Washington. O clima permeou a entrevista coletiva de
ontem na Casa Branca, quando
os gracejos habituais entre o
porta-voz, Robert Gibbs, e os
repórteres deram lugar a uma
nervosa série de perguntas.
"Eu acho que ambos [Daschle e Killefer] reconheceram
que não se pode estabelecer um
exemplo de responsabilidade e
aceitar um padrão diferente para quem presta serviços", disse
Gibbs. "Ambos reconheceram
que suas indicações iriam ser
um desvio às metas importantes" do presidente.
Ex-líder no Senado e parte do
círculo próximo de Obama, o
veterano político de 61 anos
acumulava dois cargos. Era não
só o indicado a secretário da
Saúde, um posto importante
para a implantação do programa de governo do democrata,
como o que Obama chamou de
"czar" do setor, responsável
por reformá-lo. O segundo posto o colocava na Ala Oeste da
Casa Branca, onde lidaria diretamente com o presidente.
63 itens
Com a dupla de ontem, são
três os indicados de Obama que
revelaram ter problema com o
fisco. Completa o grupo o secretário do Tesouro, Timothy
Geithner, que deixou de pagar o
devido durante sua passagem
pelo FMI. No seu caso, no entanto, a oposição avaliou que
uma eventual rejeição deixaria
os mercados em pânico e aumentaria ainda mais a crise
econômica, e ele foi aprovado.
Agora também são três os
que retiraram sua candidatura
antes de passar pela aprovação
no Senado. O terceiro é o governador do Novo México, o democrata Bill Richardson, indicado ao Departamento do Comércio, mas que desistiu por
suspeitas de corrupção.
Os casos colocam em dúvida
a qualidade do processo de checagem por que passaram os
convidados por Obama, tido
como extremamente rigoroso
-indicados tinham de responder a questionário com 63
itens. Os cargos políticos que
cada presidente aponta ao assumir somam 3.300, e um terço
precisa de aval do Senado.
Todos são checados, mas,
quanto mais importante o cargo, caso de Daschle, Geithner e
Richardson, teoricamente mais
rigorosa é a investigação. O fato
de os pecadilhos do trio só terem vindo a público depois de
Obama ter anunciado oficialmente seus nomes fragiliza o
presidente no momento em
que ele luta para aprovar no Senado seu pacote de estímulo
econômico de US$ 900 bilhões.
Ontem ainda, Obama anunciou o terceiro republicano do
ministério: o senador Gregg
Judd, de New Hampshire, aceitou o convite para ser secretário do Comércio. Também
aqui, o tiro saiu pela culatra.
Obama teria convidado Judd
para reforçar um suposto espírito bipartidário, mas também
para alterar o equilíbrio de forças do Senado, onde a situação
têm maioria apertada. Pelas regras de New Hampshire, o governador do Estado, democrata, apontará o substituto.
Mas o republicano aceitou o
convite só após obter um acordo para que o governador mantenha a vaga com seu partido. À
noite, foi confirmado o nome
de Bonnie Newman, ex-chefe
de equipe de Gregg.
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