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Eutanásia de italiana opõe Justiça a governo e Vaticano
Eluana Englaro, em coma há 17 anos, foi transferida ontem para clínica particular que aceitou desligar sua sonda de alimentação
DA REDAÇÃO
A iminência do desligamento
da sonda que alimenta, hidrata
e mantém viva em estado vegetativo, há 17 anos, a italiana
Eluana Englaro, 37, levou o Vaticano a classificar ontem como
um "assassinato" o procedimento que deve permitir a sua
morte, após meses de batalhas
jurídicas e tentativas do governo conservador do primeiro-ministro Silvio Berlusconi de
dificultar o cumprimento da
decisão judicial.
Ontem a paciente foi transferida para uma clínica particular
em Udine (nordeste da Itália)
que se dispôs a desligar o tubo
de alimentação, sob o protesto
de ativistas contra a eutanásia
que cercaram a ambulância que
saía de Lecco, cidade próxima a
Milão, com gritos de "Acorde,
Eluana" e "Não a matem!".
O pai de Eluana, Beppino Englaro, havia obtido, em julho de
2008, uma liminar do Tribunal
de Apelação de Milão permitindo que sua filha -em coma desde que sofreu um acidente de
carro- parasse de receber alimentos artificialmente.
A Promotoria italiana apresentou em seguida recurso ao
Tribunal Constitucional da Itália. Uma decisão de última instância favorável à família foi
dada pela Justiça em novembro
último. A legislação italiana
não reconhece o direito à eutanásia, embora a jurisprudência
autorize aos pacientes o direito
de não se alimentar.
Há um mês, seguindo-se à
decisão do Tribunal Constitucional, o ministro do Bem Estar
italiano (responsável pela área
de saúde), Maurizio Sacconi,
criou normas que ameaçavam
com sanções os hospitais públicos que não garantissem a continuidade da vida de pacientes
em estado vegetativo.
Com a transferência para a
clínica particular em Udine e o
desligamento da sonda de alimentação, espera-se que Eluana venha a morrer em algumas
semanas.
Em entrevista ao jornal "La
Reppublica", o presidente do
Pontifício Conselho para a Saúde, o cardeal mexicano Javier
Lozano Barragán, declarou que
a decisão tomada sobre o caso é
"um abominável assassinato".
O ministro Sacconi afirmou
que "se trata de uma pessoa em
estado vegetativo, não em condições de morte cerebral, que
não sofre de "obstinação terapêutica", mas que está submetida a hidratação e alimentação".
O termo "obstinação terapêutica" está no centro de uma
distinção crucial para a Igreja
Católica em casos como esses.
Para a igreja, tanto quanto a eutanásia, é em princípio condenável a extensão da vida por
meios "desproporcionais", que
neguem a "inevitabilidade e
inelutabilidade da morte".
Em decisão sobre o tema, a
Academia Pontifícia para a Vida (grupo criado pelo papa
João Paulo 2º para estudos de
problemas bioéticos) afirmou
há dez anos que "o respeito pela
pessoa em processo de morte
exige mais que nunca o dever
de evitar toda a espécie de "obstinação terapêutica" e de favorecer a aceitação da morte".
Para Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, "esse é um problema crítico", mas, na dúvida,
"deve-se optar por uma solução
de esperança". "De modo geral,
a igreja é contrária ao desligamento de aparelhos", ele diz.
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