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entrevista
Ex-negociador israelense vê paz distante
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
O major-general aposentado Daniel Rothschild, 68,
foi um dos principais comandantes do Exército de Israel.
Em 1991, ele trocou a chefia
do serviço secreto por um alto cargo nas negociações
com os palestinos. O currículo e os contatos mantidos nas
agências de inteligência de
vários países fazem de
Rothschild, hoje empresário
no ramo de segurança, observador privilegiado da situação em Gaza.
Em visita a São Paulo, onde manteve agenda com a comunidade judaica, ele disse
ontem à Folha que é impossível chegar à paz em um ano
e chamou o presidente da
Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, de "ditador sem poder".
FOLHA - Parece impossível alcançar um acordo de paz em um
ano, como quer o presidente
americano, George W. Bush.
DANIEL ROTHSCHILD - Nenhum
dos lados acredita que a paz
pode ser alcançada em um
ano. Mesmo antes da retomada da violência, as partes
concordavam que o importante era selar um acordo
que norteasse futuras negociações. Ninguém está em
condições de implementar o
que quer que seja. Precisamos de um documento que
diga: "vamos por aí". Isso foi
explicado a Bush. Se conseguirmos um acordo com a
ANP na Cisjordânia, o Hamas viveria seu pior pesadelo, que é ficar totalmente a
mercê do Egito.
FOLHA - Qual a maior diferença
entre as negociações atuais e
aquelas que ocorreram nos anos
90, quando o senhor estava no
governo?
ROTHSCHILD - As lideranças
nos dois lados ficaram muito
enfraquecidas - e líderes
fracos só podem concordar
sobre o menor denominador
comum. Certa vez, eu estava
no Cairo negociando com os
palestinos. O então chanceler Nabil Shaat me mostrou
um documento sobre um
projeto de estrutura para um
futuro governo palestino. Ele
pediu que eu desse uma lida.
O texto teria deixado Montesquieu cheio de orgulho
pois falava da repartição de
Poderes, do equilíbrio das
forças etc, com exceção do
último parágrafo, que garantia a Iasser Arafat o direito de
veto sobre qualquer decisão.
Comentei sobre o texto com
Yitzhak Rabin e ele me disse:
"estão certos os palestinos, a
paz só se negocia com líderes
fortes". Apesar de eleito, Abbas é um ditador. Mas ele não
tem poder para tomar grandes decisões. Arafat era um
líder forte que não quis a paz.
Abbas é um líder fraco que
quer a paz. Em Israel também é muito difícil tomar decisões sem uma ampla maioria no governo. Soma-se a isso o fator Hamas, e temos a
equação atual.
FOLHA - O Exército israelense
não teme causar um massacre de
civis em Gaza? Israel cogita reocupar a área?
ROTHSCHILD - O que quer que
digamos? Que nunca faremos isso ou aquilo? É preciso
pôr fim à violência. Não acho
que haverá massacre, mas
pode acontecer uma destruição em massa. O alvo é a infra-estrutura, não as pessoas.
O Exército israelense desenvolveu métodos para reduzir
as mortes de civis, como avisos às pessoas, por alto-falante, rádio ou panfletos, para que saiam da área de combate. Mas é certo que haverá
mortes nos dois lados. Não
temos alternativa.
FOLHA - O Hamas continua forte, aumentaram os disparos de
foguetes Qassam e o soldado Gilad Shalit ainda é prisioneiro. A
política israelense em Gaza parece não obter nenhum êxito.
ROTHSCHILD - É uma questão
de tempo. O Hamas já pediu
ao Egito que faça qualquer
coisa para impedir a continuação dos ataques e pediu a
Abbas um governo de união
nacional sem condições prévias. São atos de desespero. A
atitude hesitante que tivemos na guerra do Líbano
[2006] serviu como um tratamento de choque na nossa
maneira de tomar decisões.
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