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Pressão para investigar Bush aumenta
Após liberação de documentos que justificaram excessos da "guerra ao terror", Congresso abre hoje debate sobre inquérito
Comissão parlamentar proposta por democratas seria nos mesmos moldes da que investigou falhas que levaram ao 11 de Setembro
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com a liberação ao público
de memorandos até então secretos que deram base legal para os principais excessos cometidos pelo governo de George
W. Bush na chamada "guerra
ao terror", cresce a pressão pela
criação de uma comissão para
investigar essa face da gestão
do republicano. Seria nos moldes da que investigou os erros
que levaram ao ataque de 11 de
Setembro.
A proposta deve ser feita oficialmente hoje, durante audiência na Comissão de Justiça
do Senado intitulada "Obtendo
a Verdade Via Comissão Suprapartidária de Investigação". Ela
conta com o apoio do presidente da Comissão, o democrata
Patrick Leahy, e de seu equivalente na Câmara dos Representantes (deputados federais),
John Conyers.
O deputado democrata, aliás,
já apresentou ao Congresso
medida que pede a criação da
comissão suprapartidária. No
texto, exige que os que assumirem o descumprimento da lei
nas audiências sejam levados à
Justiça. Já Leahy aposta num
enfoque que é privilegiado pela
maioria dos que apoiam algum
tipo de investigação: o de que
seja dada imunidade aos que
aceitarem falar.
Pelo estado de espírito da Casa Branca e do Congresso hoje,
é pouco provável que o mundo
veja o ex-presidente, seu vice,
Dick Cheney, e outras figuras
do alto escalão bushista constrangidos a dar depoimentos
no Congresso. Mas a necessidade de uma investigação foi reavivada pela divulgação de documentos promovida pelo Departamento da Justiça obamista.
Os memorandos
Anteontem, vieram a público
nove memorandos que detalham alguns dos esforços da
Casa Branca do republicano em
passar ao largo tanto da Constituição do país como de tratados
internacionais em busca de
maior liberdade de ação e menos prestação de contas na investigação e no tratamento de
suspeitos de terrorismo.
Um deles, de 13 de março de
2002 e assinado pelo então secretário-assistente da Justiça,
Jay S. Baybee, diz que o presidente tem o direito de transferir pessoas capturadas na
"guerra ao terror" para governos estrangeiros sem levar em
conta a possibilidade de os prisioneiros serem torturados
nesses países -a ação fere a
Convenção de Genebra e leis
norte-americanas.
"Desde que os EUA não tenham a intenção de que o detido seja torturado depois de ser
transferido, não há responsabilidade legal a ser aplicada em
decorrência da transferência",
afirma o texto. Diz ainda que,
enquanto estiverem presos fora dos EUA -nas então atuantes prisões secretas da CIA, por
exemplo-, os suspeitos não estão sujeitos às leis norte-americanas que proíbem tortura.
Os memorandos foram tornados públicos como parte de
um processo criminal civil que
Jose Padilla -cidadão norte-americano hoje condenado e
cumprindo pena por ajudar
terroristas, mas que foi detido
por anos como "combatente
inimigo" sem acusação formal-move contra John Yoo.
Yoo é ex-advogado da gestão
Bush e prolífico autor de memorandos justificando os atos
de exceção do republicano.
Outros memorandos devem
vir a público nos próximos dias,
segundo o Departamento da
Justiça. Farão parte de relatório do ministério que investiga
se houve abusos dos indicados
políticos durante os anos Bush.
Além de Baybee e Yoo, deve ser
questionado o papel de Steven
G. Bradbury, autor de memorandos de 2008 e de 2009 que
tentam relativizar a importância dos pareceres anteriores dados por seus colegas.
Entre os que ainda devem vir
a público estariam dois dos
mais polêmicos, que formaram
o arcabouço legal da era Bush: o
que autoriza a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla
em inglês) a grampear telefonemas e e-mails de cidadãos
norte-americanos, de 2001, e o
que delineia as técnicas de interrogatório a serem usadas pela CIA, de 2002.
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