São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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Dissidente cubano em jejum é hospitalizado

Guillermo Fariñas, em greve de fome há 8 dias, diz estar disposto a morrer para honrar opositor morto Orlando Zapata

Chanceler cubano afirma que não há presos políticos na ilha, e sim "mercenários" a serviço dos EUA que são mostrados como "patriotas"


DA REDAÇÃO

O jornalista e dissidente cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome há oito dias, perdeu a consciência ontem e chegou a ser hospitalizado, levantando temores de que seu caso tenha o mesmo desfecho que o de Orlando Zapata Tamayo, opositor detido pelo regime cubano que morreu em 23 de fevereiro, após 85 dias sem comer ou beber.
Fariñas, que afirmou estar disposto a morrer para honrar Zapata, foi reidratado e voltou para casa após ser liberado pelos médicos, em estado "muito fraco", segundo sua mãe, que afirmou que ele continuará sua greve de fome. Já os outros quatro dissidentes que protestavam junto com Fariñas interromperam a greve e voltaram a se alimentar.
O caso Zapata -considerado um "prisioneiro de consciência" pela Anistia Internacional- ofuscou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba, no último dia 24, deu fôlego à comunidade dissidente na ilha e provocou repúdio de EUA e União Europeia, que cobram respeito aos direitos humanos e a libertação de presos políticos -Havana diz que os prisioneiros são culpados de crimes comuns.
Fariñas, 43, já fez 23 greves de fome desde 1997. Anteontem, ao jornal "El País", ele disse que seus objetivos são que o governo cubano "pague um alto custo político pelo assassinato de Zapata, que libere os 26 presos políticos que estão doentes e que podem se converter em novos Zapatas e que, caso eu morra, o mundo perceba que o que ocorreu com Orlando não é um caso isolado". Fariñas, no entanto, se disse pessimista e "sem esperança" de mudanças por parte do regime cubano.
"O pedido de Fariñas é muito concreto: a liberação de entre 25 e 30 prisioneiros de consciência que estão mal de saúde. Mas o governo não deu nenhum sinal de que vai escutá-lo", disse à Folha Elizardo Sánchez, presidente da ilegal Comissão Nacional de Direitos Humanos, segundo a qual há 200 prisioneiros políticos em Cuba. O regime não permite a visita de entidades como a Cruz Vermelha.
Sánchez disse, no entanto, que não recomenda a greve de fome. "Não ponham a saúde em risco. Nos últimos dias, tentei dissuadir [Fariñas]. Outras pessoas também. Mas nosso prognóstico é que ele seguirá com a greve."

"Delito comum"
Em Genebra, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o chanceler cubano Bruno Rodríguez Parrilla disse que Zapata não era um preso de consciência, e sim um "reincidente por delito comum apresentado como lutador pelos direitos humanos". Ele voltou a atribuir a morte do dissidente aos EUA, em troca de "dividendos políticos ilegítimos". "Pretende-se apresentar mercenários como patriotas, agentes pagos pelos EUA em território cubano como dissidentes", disse.
Segundo ele, não há presos políticos na ilha, e sim "pessoas que cometeram atos ilegais e foram julgadas". Rodríguez também disse que um investigador da ONU foi convidado ao país, mas que as condições de sua visita serão negociadas -não se sabe se ele poderá examinar os presídios cubanos.

Com agências internacionais



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