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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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PÓS-GUERRA

UE pede que ONU gerencie reconstrução do Iraque, mas EUA reivindicam função para si

Papel da ONU opõe EUA a Europa

Thomas Coex/France Presse
Powell checa seu lugar na cúpula da Otan com a UE, em Bruxelas; para ele, gerência da transição iraquiana cabe aos EUA, não à ONU


DA REDAÇÃO

Depois de iniciar a ação militar no Iraque sem a anuência da ONU, os EUA voltaram ontem a defender seu controle sobre a reconstrução do Iraque após a deposição do ditador Saddam Hussein, reservando ao organismo um papel secundário em detrimento das exigências européias.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmou que a ONU terá participação nos esforços de reconstrução, mas salientou que o processo de transição iraquiano deverá ser administrado pela coalizão anglo-americana.
O secretário esteve ontem em Bruxelas para uma série de 20 audiências com com líderes da Otan (aliança militar ocidental) e da União Européia (UE) -a primeira desde o início da ação militar, em 20 de março.
"Comandantes militares serão responsáveis por estabilizar a situação e garantir a segurança do país e da população. Isso não significa que deixaremos os demais de fora [...] Se precisarem de resoluções, participaremos", disse.
Na sexta-feira passada, Powell afirmara que Washington não deixaria o controle do Iraque sob supervisão da ONU, alegando que os EUA não haviam "pego esse enorme fardo para carregar com os parceiros da coalizão para não poder ter controle sobre como [o Iraque] vai se desenvolver".
Internamente, o secretário tem sofrido pressão do Departamento de Defesa para que os planos do pós-guerra sejam estruturados logo, sobretudo no que diz respeito à questão do petróleo, que ainda esbarra em questões legais.
Os EUA defendem que, sob sua gestão, a receita do petróleo iraquiano seja usada na reconstrução do país, mas encontram resistência até em seu principal aliado, o governo britânico.
Outro ponto de discórdia é que o Reino Unido também defende a supervisão da ONU na reconstrução e exorta que o poder seja entregue ao povo iraquiano o mais rápido possível.
Para o chanceler britânico, Jack Straw, a ONU deve ter no Iraque papel semelhante ao que teve no Afeganistão, onde supervisionou a escolha do novo governante do país e as primeiras semanas de sua gestão."Não é uma questão da ONU no pós-guerra. É uma questão, na verdade, sobre o povo iraquiano no pós-guerra", disse.
A idéia de Powell, no entanto, é diferente. "Definitivamente, haverá um papel para a ONU, mas a natureza desse papel ainda não foi definida", declarou ontem. O governo de George W. Bush acredita que a ONU deva cuidar da questão humanitária no país, mas a divisão de responsabilidades políticas ainda terá de ser discutida.
O único consenso entre os 23 representantes europeus e o secretário americano é que a Otan deve ter soldados de manutenção da paz no Iraque após a guerra.
Vários governos europeus se opõem aos planos americanos de instalar um administrador interino -americano- em Bagdá assim que a guerra acabar.
"A ONU é a única organização internacional que pode dar legitimidade à reconstrução do Iraque", afirmou o ministro francês das Relações Exteriores, Dominique de Villepin. A França -ao lado da Alemanha, da Rússia e da China- liderou, na ONU, a oposição à ação militar no Iraque.
O presidente francês, Jacques Chirac, acredita que conceder à coalizão a gestão da reconstrução iraquiana seja "mais um erro". Para ele, isso poderá ter "graves consequências" no futuro.
Ontem, em discurso no Parlamento, o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, defendeu o papel da ONU e afirmou que o controle do petróleo iraquiano cabe à população do país.
Já o chanceler belga, Louis Michel, afirmou não acreditar que os demais países "possam contribuir na reconstrução sem que a ONU desempenhe o papel central".
Powell afirmou que já esperava as divergências e informou seus pares europeus que reportará "tudo que foi dito" a Bush.

Com agências internacionais


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