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Obama muda tom, mas cobra europeus
Em cúpula da Otan, americano exige mais compromisso de aliados e afirma que ameaça terrorista não sumiu com sua chegada à Casa Branca
Aliança militar ocidental, que completa hoje 60 anos, adia, ante impasse com a Turquia por conta de charge, escolha de secretário-geral
Charles Dhaparak/Associated Press
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Obama fala a jovens em Estrasburgo, que com a alemã Baden-Baden sedia a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ESTRASBURGO
Numa clara mudança de tom
em relação a seu antecessor, o
presidente americano, Barack
Obama, estendeu a mão ontem
aos europeus, admitiu que seu
país agiu com arrogância nos
últimos anos e reconheceu que
o papel dos EUA no mundo está
em transformação -menos líder, mais parceiro.
As afirmações marcam um
recomeço nas relações transatlânticas após os oitos anos de
turbulências com George W.
Bush na Casa Branca. E ganharam um simbolismo especial
por terem sido feitas na fronteira entre França e Alemanha,
na véspera do aniversário da
Otan, a aliança militar ocidental que conteve o avanço soviético e hoje completa 60 anos.
Mas em sua primeira viagem
ao continente como presidente, Obama também cobrou da
Europa mais compromisso na
resolução dos desafios globais,
sobretudo na luta contra o terrorismo. Um dia após sua bem-sucedida estreia internacional,
na reunião do G20, em Londres, ele alertou que é ingenuidade achar que a mudança no
governo americano reduziu o
perigo do terrorismo islâmico.
"É importante que a Europa
entenda que mesmo com a minha chegada à Presidência e a
saída do presidente Bush, a Al
Qaeda continua sendo uma
ameaça", disse ele a jovens em
Estrasburgo (França).
Obama parecia apreciar cada
minuto de sua lua-de-mel com
os europeus. Em meio a uma
atmosfera extremamente receptiva, que se estendeu do
abraço caloroso do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, à fileira de crianças com bandeiras
americanas nas ruas de Estrasburgo e da vizinha Baden-Baden, a cidade alemã que cossedia a cúpula anual da Otan,
Obama estava à vontade.
Afeganistão
O presidente americano
aproveitou o clima positivo para tocar no assunto mais premente desta cúpula, a guerra
no Afeganistão. Na semana
passada, Obama anunciou uma
nova estratégia de combate à Al
Qaeda e ao Taleban, com o envio de mais soldados.
Mas os EUA vem enfrentando resistência dos aliados europeus em fazer o mesmo. O presidente americano reiterou ontem o elo entre o conflito e o
terror que ameaça o mundo inteiro, sobretudo a Europa.
"Eu entendo que haja dúvidas na Europa sobre esta guerra", disse. "Mas sei de uma coisa: os EUA não escolheram lutar a guerra no Afeganistão.
Nós sofremos um ataque da Al
Qaeda, que matou milhares em
solo americano, incluindo franceses e alemães".
Em seguida, advertiu que os
terroristas continuam atuando
na fronteira entre Afeganistão
e Paquistão. "Se houver outro
atentado, o mais provável é que
ele ocorra aqui na Europa, devido às proximidade."
Ao falar da deterioração nas
relações transatlânticas nos últimos anos, admitiu a culpa dos
EUA, que por vezes agiram com
"arrogância". Mas também criticou o "antiamericanismo"
que impediu os europeus de verem ações positivas do país.
Questionado por um jovem
da plateia em Estrasburgo sobre qual é o plano dos EUA para
a nova estratégia que a Otan
apresentará hoje, Obama deu
uma demonstração de humildade que indica uma possível
mudança do papel que vê para
os EUA, em uma era de crise
econômica e menos recursos.
"Não temos um grande plano", disse Obama. "Não queremos ser os líderes da Otan, mas
mais um dos seus membros."
Sucessão e charges
Outra questão que ficou para
hoje e está provocando controvérsia é a escolha do sucessor
do secretário-geral da Otan,
Jaap de Hoop-Scheffer, cujo
mandato termina em julho. O
favorito para substituí-lo era o
premiê da Dinamarca, Anders
Fogh Rasmussen, mas a Turquia se opõe a ele.
Único país muçulmano da
Otan e segundo maior Exército
da aliança, a Turquia rejeita
Rasmussen em retaliação a seu
comportamento no episódio
das charges publicadas em
2005 por um jornal dinamarquês, que ironizavam o profeta
Maomé. Na época, o premiê se
negou a pedir desculpas, mesmo depois que o incidente deflagrou uma onda de protestos
em países islâmicos.
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