São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Medida, tomada em menos de uma semana, é resposta ao crescente escândalo; CIA investiga morte em prisão

Exército dos EUA pune sete por tortura

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Em meio ao crescente escândalo deflagrado pelo caso, o Exército americano deu ontem seu pior tipo de advertência a seis soldados envolvidos com os casos de tortura de prisioneiros iraquianos por militares dos EUA na prisão de Abu Ghraib. Um sétimo soldado recebeu um tipo de reprimenda mais branda.
A punição mais dura aos seis soldados, cujos nomes não foram revelados, pode significar o fim da carreira deles.
Trata-se de uma tentativa de mostrar que o governo pretende agir rapidamente no caso, diante dos possíveis efeitos negativos na campanha de reeleição do presidente George W. Bush e na ofensiva dos EUA contra o terrorismo.
Outros seis militares devem enfrentar a corte marcial por terem supostamente participado das sessões de tortura, reveladas por fotos apresentadas no programa "60 minutes", da rede de TV CBS na semana passada.
Jeff Fager, um dos responsáveis pelo programa, revelou que a transmissão da reportagem foi adiada por duas semanas a pedido do general Richard Myers, que ligou pessoalmente para pedir tempo ao apresentador Dan Rather antes da divulgação das imagens.
Myers, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, justificou o pedido alegando que a reportagem poderia trazer riscos para a vida dos americanos seqüestrados no Iraque.
Também ontem, o presidente dos EUA, George W. Bush, se reuniu com o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e pediu que os militares fossem julgados o mais rapidamente possível.
"O presidente queria ter certeza de que as ações apropriadas estão sendo tomadas contra os responsáveis por esses atos chocantes e vergonhosos", declarou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.
O Conselho de Governo iraquiano, cujos membros foram indicados pelos EUA, exigiu que juízes iraquianos tomassem parte em interrogatórios de prisioneiros e que as prisões fossem inspecionadas por iraquianos.
Congressistas republicanos e democratas exortaram o governo a agir o mais rapidamente possível para punir os responsáveis.
A general Janis Karpinski, responsável pela prisão, disse à rede de TV ABC que há mais americanos envolvidos nos atos de tortura do que os que até agora estão sendo julgados ou receberam advertências. Karpinski já havia sugerido em entrevistas que a CIA e o serviço de inteligência do Exército incentivaram os abusos.
O general Mark Kimmitt, porta-voz do Exército no Iraque, disse não crer que os serviços de inteligência "tenham tido qualquer coisa a ver com com os atos criminosos individuais".
Um funcionário da CIA revelou ontem que a agência de inteligência está investigando a morte de um preso em Abu Ghraib. Ele disse à agência Reuters que não tinha conhecimento de agentes da CIA tomando parte nos maus-tratos, mas confirmou que agentes faziam visitas regulares "a um pequeno número de prisioneiros".
Analistas afirmam que as imagens podem minar a guerra contra o terror, ao reforçar a animosidade de árabes e muçulmanos contra os EUA.
"Os americanos que maltrataram esses prisioneiros podem não ter se dado conta, mas agiram de maneira que interessa à Al Qaeda", declarou Tony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.


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