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Curdos e sunitas rejeitam lei do petróleo no Iraque
Grupos temem redução de autonomia sobre lucros e perda de espaço para estrangeiras
Sem voto curdo, lei deve ser barrada no Parlamento, que opera por consenso; projeto era base de pacote de metas imposto pelos EUA ao país
DO "NEW YORK TIMES", EM IRBIL
Curdos e árabes sunitas expressaram ontem no Parlamento iraquiano objeções ao
anteprojeto da lei nacional de
petróleo apresentado na véspera. O impasse pode prejudicar o
cumprimento de uma das metas de progresso estabelecidas
pelos EUA para o país.
O anteprojeto, que estabelece uma estrutura para a distribuição das receitas petroleiras,
foi aprovado pelo gabinete iraquiano no fim de fevereiro,
após meses de negociações. A
Casa Branca esperava uma rápida aprovação para deitar a
base de um acordo entre as diferentes facções no país e conter a violência sectária. Mas as
preocupações dos curdos -que
até então vinham se alinhando
ao governo árabe xiita apoiado
pelos EUA- criaram dúvidas
quanto à aprovação.
Os curdos rechaçam uma
cláusula incluída de maneira
sub-reptícia no projeto de lei
pelo Ministério do Petróleo,
controlado pelos xiitas, em
março. A medida transferiria o
controle de quase todos os
campos conhecidos, e dos contratos a eles relacionados, a
uma estatal a ser criada após a
aprovação da lei, afirmou um
porta-voz curdo.
Segundo Khalid Salih, a cláusula violava um artigo da Constituição segundo o qual o governo central deve trabalhar com
os governos regionais para determinar quem administrará
campos de petróleo conhecidos
mas ainda não desenvolvidos.
Os curdos, que gozam de independência prática na região
norte do país, defendem o máximo de controle regional sobre os contratos petroleiros.
A cláusula é parte de quatro
anexos que devem ser debatidos com o texto da lei pelo Parlamento. Qualquer objeção a
um ou mais dos anexos paralisará a aprovação da lei.
Caso a lei e os anexos sejam
votados no Parlamento, uma
rejeição pelo bloco curdo, que
detém 58 dos 275 assentos, não
bastaria para condenar a medida. Mas o Parlamento opera
por consenso, e é quase certo
que nenhuma lei petroleira
passe sem aprovação curda.
Estrangeiras
Além do veto curdo, um legislador árabe sunita disse que
o principal bloco político da
facção, com 44 assentos no Parlamento, objeta a que a lei seja
debatida agora. Segundo Saleem Abdullah, seu grupo está
preocupado com a possibilidade de a lei dar a empresas estrangeiras papel muito grande
no setor petroleiro iraquiano.
O anteprojeto estabelece a
forma de distribuição das receitas dos atuais e futuros campos
petroleiros do país por regiões
e Províncias com base em sua
população. Esse acordo visava
acalmar os temores dos sunitas, que temiam uma aliança de
xiitas e curdos para controlar a
riqueza petroleira, concentrada nas regiões em que essas
duas facções são majoritárias.
Os árabes sunitas, minoria
religiosa que serve de base à insurgência contra o governo,
controlam territórios que produzem pouco petróleo e vêm
pressionando por controle centralizado do setor, a fim de garantir distribuição eqüitativa
das receitas. Os curdos defendem forte controle regional, e
os xiitas, um meio-termo.
Analistas do setor estimam
as reservas iraquianas em 115
bilhões de barris de petróleo. A
produção do país atingiu um pico de 3,7 milhões de barris diários em 1979. Antes da invasão
de 2003 pelos EUA, a produção
era de 2,6 milhões de barris diários, mas caiu posteriormente.
A Lei do Petróleo permitiria
que as regiões se envolvessem
em acordos de divisão de produção com empresas estrangeiras, idéia que alguns iraquianos
e os críticos do governo Bush
crêem que possa deixar uma
parte muito grande da riqueza
petroleira do país nas mãos de
estrangeiros. Funcionários iraquianos dizem que todos os
contratos serão sujeitos a um
projeto justo de concorrência,
mas há temor de que empresas
americanas sejam favorecidas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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