São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Elite reage à perda do poder nacional, diz ministro

Para Ramón Quintana, alvo é legitimidade do governo

DO ENVIADO A SANTA CRUZ

Um dos principais articuladores políticos de Evo Morales, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, diz que o estatuto autonômico é uma resposta das elites à perda do governo nacional. Leia a entrevista à Folha. (FM)

 

FOLHA - Por que o governo não reconhece o referendo?
JUAN RAMÓN QUINTANA
- O que está ocorrendo na Bolívia é um ato inconstitucional e ilegal que, em nome da autonomia, pretende acabar com a legitimidade do governo. Ainda que o estatuto reflita uma demanda genuína das regiões, acreditamos que ela deva estar amparada numa ordem constitucional e negamos a legalidade deste referendo.
O estatuto autonômico visa exercer domínio sobre áreas que são de competência do Estado. Portanto, expressa o desejo de exercer um poder perdido na escala nacional. Mutiladas em sua capacidade de governar o país, hoje essas elites se concentram na região para tentar impor uma estrutura concentrada de poder, com a pretensão de exercer domínio e controle sobre as terras, sobre os recursos naturais, sobre a administração da Justiça. Além disso, [o estatuto] desconhece os direitos constitucionais dos povos indígenas ao não levar em conta os direitos da população migrante da parte ocidental da Bolívia.
É um estatuto feito à imagem e semelhança das elites que governam esta região, isto é, de grandes proprietários de terras e grandes empresários associados a capitais estrangeiros para os quais é muito incômodo ter um governo que propõe a redistribuição da riqueza.

FOLHA - Não é função da polícia resguardar as urnas?
QUINTANA
- De jeito nenhum. Uma ilegalidade a mais do referendo foi ter designado uma força ilegal de 22 mil jovens para cuidar das urnas [a União Juvenil Cruzenhista]. É um referendo peculiar porque não tem árbitro. A Corte Departamental Eleitoral vai levar adiante a operação eleitoral, contará os votos e ainda organiza os grupos que protegem as urnas.

FOLHA - O que está fazendo o governo para evitar confrontos?
QUINTANA
- Primeiro, exortamos as organizações sociais a evitar qualquer provocação e a só fazer manifestações de repúdio nas capitais. Temos um plano de contingência para a intervenção da polícia em possíveis enfrentamentos entre municípios ou organizações sociais e a União Juvenil Cruzenhista, uma das forças mais antidemocráticas e racistas da região.


Texto Anterior: Memória: Luta política atropelou negociação
Próximo Texto: Reação: OEA apóia Morales, mas voto não é condenado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.