|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Elite reage à perda do poder nacional, diz ministro
Para Ramón Quintana, alvo é legitimidade do governo
DO ENVIADO A SANTA CRUZ
Um dos principais articuladores políticos de Evo Morales,
o ministro da Presidência, Juan
Ramón Quintana, diz que o estatuto autonômico é uma resposta das elites à perda do governo nacional. Leia a entrevista à Folha.
(FM)
FOLHA - Por que o governo não reconhece o referendo?
JUAN RAMÓN QUINTANA - O que
está ocorrendo na Bolívia é um
ato inconstitucional e ilegal
que, em nome da autonomia,
pretende acabar com a legitimidade do governo. Ainda que
o estatuto reflita uma demanda
genuína das regiões, acreditamos que ela deva estar amparada numa ordem constitucional
e negamos a legalidade deste
referendo.
O estatuto autonômico visa
exercer domínio sobre áreas
que são de competência do Estado. Portanto, expressa o desejo de exercer um poder perdido na escala nacional. Mutiladas em sua capacidade de governar o país, hoje essas elites
se concentram na região para
tentar impor uma estrutura
concentrada de poder, com a
pretensão de exercer domínio e
controle sobre as terras, sobre
os recursos naturais, sobre a
administração da Justiça. Além
disso, [o estatuto] desconhece
os direitos constitucionais dos
povos indígenas ao não levar
em conta os direitos da população migrante da parte ocidental
da Bolívia.
É um estatuto feito à imagem
e semelhança das elites que governam esta região, isto é, de
grandes proprietários de terras
e grandes empresários associados a capitais estrangeiros para
os quais é muito incômodo ter
um governo que propõe a redistribuição da riqueza.
FOLHA - Não é função da polícia
resguardar as urnas?
QUINTANA - De jeito nenhum.
Uma ilegalidade a mais do referendo foi ter designado uma
força ilegal de 22 mil jovens para cuidar das urnas [a União Juvenil Cruzenhista]. É um referendo peculiar porque não tem
árbitro. A Corte Departamental Eleitoral vai levar adiante a
operação eleitoral, contará os
votos e ainda organiza os grupos que protegem as urnas.
FOLHA - O que está fazendo o governo para evitar confrontos?
QUINTANA - Primeiro, exortamos as organizações sociais a
evitar qualquer provocação e a
só fazer manifestações de repúdio nas capitais. Temos um plano de contingência para a intervenção da polícia em possíveis
enfrentamentos entre municípios ou organizações sociais e a
União Juvenil Cruzenhista,
uma das forças mais antidemocráticas e racistas da região.
Texto Anterior: Memória: Luta política atropelou negociação Próximo Texto: Reação: OEA apóia Morales, mas voto não é condenado Índice
|