São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

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Propagação de vírus está no início, diz OMS

Contaminações progridem de forma mais lenta, mas organismo alerta para não haver descuido nem pânico diante de nova gripe

Para órgão mundial, é muito possível que pico já tenha passado, mas ainda é cedo para se descartar risco de pandemia ou surto abrupto


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Dez dias após emitir o primeiro alerta sobre o surto do vírus A(H1N1), causador da gripe que vinha sendo chamada de "gripe suína", a Organização Mundial da Saúde disse ontem que a propagação da doença está "só no começo" e que seu impacto ainda é imprevisível.
A organização confirmou que o vírus continua a se espalhar e manteve o alerta no nível 5, que indica a iminência de pandemia. O número de casos confirmados pela OMS pulou ontem de 658 para 898 em 18 países, com 20 mortes (19 no México e uma nos EUA) -a maioria dos doentes, no entanto, é afetada de forma branda.
Um caso de contágio anunciado pelo governo da Colômbia, que seria o primeiro na América do Sul, ainda não havia sido confirmado pela OMS até a noite de ontem
Ante avaliações otimistas de autoridades do México e dos EUA, que minimizaram a letalidade do vírus e sua capacidade de se espalhar, a organização insiste em advertir que é cedo para dizer que o pior já passou.
"Ainda estamos nos primeiros 200 metros", disse Keiji Fukuda, vice-diretor da OMS, comparando a propagação do novo vírus a uma maratona (prova atlética de 42,1 km).
Segundo Fukuda, uma das maiores preocupações da OMS é que a conclusão precipitada de que o vírus não oferece perigo desarticule ações de precaução contra uma pandemia.
Desde que entrou em estado de emergência por causa da gripe, a OMS busca a dose certa de alerta para evitar o pânico sem baixar a guarda ante o risco de pandemia. A mensagem principal é que é preciso combater a complacência mesmo que o contágio entre em queda.

Pós-pico
Segundo o porta-voz da OMS, Gregory Hartl, é inteiramente possível que o surto já tenha ultrapassado seu pico, como indicou o governo do México. Mas isso não significa que o risco de pandemia esteja afastado, pois "hiatos" nas contaminações são recorrentes.
"A gripe espanhola (1918) teve um surto na primavera e sumiu no verão, para reaparecer com toda a força no outono de 1918 e matar entre 40 a 50 milhões de pessoas", disse Hartl. "Há grande probabilidade de que esse vírus volte, especialmente nos períodos mais frios". O inverno começa em dezembro no hemisfério Norte.
Para que o nível máximo de alerta seja acionado e a OMS declare estado de pandemia é preciso que haja transmissões em larga escala em mais de uma região. Por enquanto esse tipo de contágio só ocorreu na América do Norte (506 no México, 226 nos EUA e 85 no Canadá).
Por serem os países como o maior número de casos fora da América do Norte, Espanha e Reino Unido estão no foco do monitoramento da OMS para avaliar o risco. Sobretudo a Espanha, que ontem pulou de 13 para 40 pacientes. A grande maioria, segundo a OMS, é de pessoas vindas do México.
"É claro que estamos monitorando [esses dois países] muito atentamente", disse Fukuda. Ele reiterou, contudo, que o comportamento do novo vírus ainda é um enigma, e que países que até agora registraram poucos contágios podem ter um surto repentino.
Sobre a declaração do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de que é "inevitável" que o vírus chegue ao Brasil, Fukuda disse que é preciso tomar as medidas necessárias, mas sem pânico: "Se houver um caso no Brasil, não será inesperado".


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