São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

Primavera Árabe mostra rejeição a Osama

Para especialistas, terrorista não inspirou atual onda de revoltas quando vivo e sua morte não altera inflexão na região

Atos de violência sem critério com aval da rede Al Qaeda fizeram crescer o repúdio à imagem do saudita

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Osama bin Laden e sua ideologia extremista já tinham pouco apelo entre os árabes quando as revoluções populares explodiram na região, e a morte do terrorista saudita não mudará isso, afirmam especialistas.
Nos últimos anos, a imagem de herói da resistência ao Ocidente que contagiou muitos árabes no calor dos atentados de 11 de Setembro vinha definhando, e Bin Laden acabou ficando sem papel na Primavera Árabe.
"A Al Qaeda não teve nenhuma influência nas revoltas árabes, embora tenha tentado pegar carona nelas", disse Yoram Meital, diretor do Centro Chaim Herzog de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Tel Aviv.
Em todos os países, o motor das revoluções foi o protesto secular por democracia e não a jihad (guerra santa) pregada por Bin Laden para a instalação da sharia, a lei islâmica. Para a grande maioria, afirma Meital, o extremismo islâmico "simplesmente não é uma opção".
O analista libanês Rami Khouri concorda. "A Primavera Árabe é certamente um sinal de que a grande maioria dos árabes repudiam Bin Laden e rejeitam sua mensagem", disse Khouri.
A aversão à ideologia extremista de Bin Laden cresceu junto com a violência indiscriminada do grupo na região, de ações terroristas isoladas na Arábia Saudita aos massacres no Iraque.
De acordo com um estudo do Centro de Combate do Terrorismo da academia militar de West Point, nos EUA, entre 2004 e 2008, 85% das vítimas de atentados da Al Qaeda eram de países de maioria muçulmana.
O impacto da morte de Bin Laden, tanto operacional quanto ideológico, seria muito maior há dez anos, quando ele ainda exercia o comando da Al Qaeda, diz Raphael Israeli, especialista em estudos islâmicos da Universidade de Jerusalém.
"A Al Qaeda tem duas fases distintas: antes e depois do 11 de Setembro", diz Raphaeli. "Depois dos atentados surgiram réplicas da Al Qaeda que agiam independentemente de Bin Laden, e isso não vai mudar."
No Iraque, onde as bombas da Al Qaeda deixaram o saldo mais sangrento e colocaram o país à beira de uma guerra sectária, o governo recebeu a morte de Bin Laden com alívio, mas sem esconder o medo de retaliações.
Meital acha provável que a curto prazo haja ações de vingança da Al Qaeda, principalmente no Iraque, mas para ele a morte de Bin Laden não motivará uma nova geração de extremistas.
"Se os Estados Unidos mantiverem o plano de retirada, a tendência é a Al Qaeda enfraquecer", diz ele. "Não por acaso, os lugares onde há maior militância extremista é onde há presença americana, no Iraque e no Afeganistão."
Para muitos no mundo árabe, o que preocupa é que a enorme repercussão da morte de Bin Laden tire o foco do que realmente importa, as revoltas contra as ditaduras da região.
"Um homem foi morto. Dezenas de outros que corajosamente enfrentam déspotas estão sendo massacrados todos os dias", escreveu a colunista egípcia Mona Eltahawy.


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