São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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VENEZUELA

Em meio a violência, assinaturas para convocar consulta são aceitas; "agora é que começa o jogo", diz presidente

Chávez é derrotado e enfrentará plebiscito

Leslie Mazoch/Associated Press
Chavistas protestam diante do Conselho Nacional Eleitoral após a decisão de permitir o plebiscito


DA REDAÇÃO

Em meio a distúrbios violentos em Caracas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou ontem que a oposição obteve o número de assinaturas necessário para convocar um plebiscito revogatório do mandato do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Embora não confirmada oficialmente, a data provável da consulta será o dia 8 de agosto.
Em pronunciamento em cadeia de rádio e TV ontem à noite, Chávez se disse preparado para enfrentar a consulta: "Estamos prontos para ir a um plebiscito presidencial".
"Agora é que começa o jogo", disse o presidente. "Viram que era possível convocar o plebiscito, que Hugo Chávez não era o tirano que diziam?", afirmou, em mensagem gravada dentro do Palácio Miraflores, que estava cercado por milhares de chavistas.
O diretor do CNE, Jorge Rodríguez, anunciou na TV que a oposição havia conseguido 2.451.821 assinaturas válidas, mais do que as 2.436.083 exigidas para convocar a consulta.
Rodríguez disse que os números são preliminares, mas afirmou que essa tendência "provavelmente" se manteria.
A data do plebiscito é crucial, já que, se for realizado depois de 19 de agosto e Chávez perder, assume a Presidência seu vice, o fiel aliado José Vicente Rangel, em vez de serem convocadas novas eleições dentro de 30 dias.
O esquerdista Chávez cumpre o quarto ano de seu mandato, que termina no início de 2007, à frente do quinto maior exportador mundial de petróleo.
Após o anúncio do CNE, o governador Enrique Mendoza, um dos principais líderes da oposição, disse que a aliança antichavista havia obtido 133.501 firmas a mais do que o necessário.
Para o plebiscito ser bem-sucedido, serão necessários mais votos "sim" do que os 3,76 milhões de eleitores que votaram em Chávez em 2000. O processo revogatório foi criado pelo próprio Chávez e passou por vários entraves e acusações de fraude de ambos os lados.
Oponentes de Chávez acusam o coronel, que tentou um golpe em 1992, de impor gradualmente um governo autoritário semelhante ao de Cuba. Governistas dizem que a oposição quer barrar as reformas em favor dos pobres do país, base de apoio chavista.
Analistas prevêem uma campanha bastante polarizada e tensa.
Segundo Luis Vicente León, analista do instituto Datanálisis, "o governo irá endurecer e seguirá o processo repressivo para construir uma estratégia do medo. Já o êxito [de ontem] irá motivar muitos oposicionistas que estavam apáticos."
Já a economia venezuelana pode ajudar Chávez. Depois de forte queda em 2002 e 2003, por causa de uma longa greve no setor petroleiro e a crise política causada pela tentativa de golpe que tirou Chávez do poder por 48 horas (abril de 2002), a recente alta do petróleo, maior fonte de renda do país, fez com que a economia crescesse em ritmo acelerado neste ano, o que, para analistas, pode garantir a vitória chavista.

EUA
O governo dos EUA, acusado por Chávez de apoiar o golpismo no país, disse ontem que espera que o plebiscito seja pacífico. O subsecretário de Estado, Roger Noriega, disse que a consulta é uma solução democrática.
Procurado pela Folha, o Itamaraty não quis se pronunciar. O Brasil é o idealizador do Grupo de Amigos da Venezuela, do qual fazem parte também EUA, Espanha, Portugal, México e Chile. O grupo não havia se manifestado até o fechamento desta edição.


Com agências internacionais


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