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VENEZUELA
Em meio a violência, assinaturas para convocar consulta são aceitas; "agora é que começa o jogo", diz presidente
Chávez é derrotado e enfrentará plebiscito
Leslie Mazoch/Associated Press
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Chavistas protestam diante do Conselho Nacional Eleitoral após a decisão de permitir o plebiscito |
DA REDAÇÃO
Em meio a distúrbios violentos
em Caracas, o Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) anunciou ontem
que a oposição obteve o número
de assinaturas necessário para
convocar um plebiscito revogatório do mandato do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Embora não confirmada oficialmente, a
data provável da consulta será o
dia 8 de agosto.
Em pronunciamento em cadeia
de rádio e TV ontem à noite, Chávez se disse preparado para enfrentar a consulta: "Estamos
prontos para ir a um plebiscito
presidencial".
"Agora é que começa o jogo",
disse o presidente. "Viram que
era possível convocar o plebiscito,
que Hugo Chávez não era o tirano
que diziam?", afirmou, em mensagem gravada dentro do Palácio
Miraflores, que estava cercado
por milhares de chavistas.
O diretor do CNE, Jorge Rodríguez, anunciou na TV que a oposição havia conseguido 2.451.821
assinaturas válidas, mais do que
as 2.436.083 exigidas para convocar a consulta.
Rodríguez disse que os números são preliminares, mas afirmou que essa tendência "provavelmente" se manteria.
A data do plebiscito é crucial, já
que, se for realizado depois de 19
de agosto e Chávez perder, assume a Presidência seu vice, o fiel
aliado José Vicente Rangel, em
vez de serem convocadas novas
eleições dentro de 30 dias.
O esquerdista Chávez cumpre o
quarto ano de seu mandato, que
termina no início de 2007, à frente
do quinto maior exportador
mundial de petróleo.
Após o anúncio do CNE, o governador Enrique Mendoza, um
dos principais líderes da oposição, disse que a aliança antichavista havia obtido 133.501 firmas a
mais do que o necessário.
Para o plebiscito ser bem-sucedido, serão necessários mais votos "sim" do que os 3,76 milhões
de eleitores que votaram em Chávez em 2000. O processo revogatório foi criado pelo próprio Chávez e passou por vários entraves e acusações
de fraude de ambos os lados.
Oponentes de Chávez acusam o
coronel, que tentou um golpe em
1992, de impor gradualmente um
governo autoritário semelhante
ao de Cuba. Governistas dizem
que a oposição quer barrar as reformas em favor dos pobres do
país, base de apoio chavista.
Analistas prevêem uma campanha bastante polarizada e tensa.
Segundo Luis Vicente León,
analista do instituto Datanálisis,
"o governo irá endurecer e seguirá o processo repressivo para
construir uma estratégia do medo. Já o êxito [de ontem] irá motivar muitos oposicionistas que estavam apáticos."
Já a economia venezuelana pode ajudar Chávez. Depois de forte
queda em 2002 e 2003, por causa
de uma longa greve no setor petroleiro e a crise política causada
pela tentativa de golpe que tirou
Chávez do poder por 48 horas
(abril de 2002), a recente alta do
petróleo, maior fonte de renda do
país, fez com que a economia
crescesse em ritmo acelerado neste ano, o que, para analistas, pode
garantir a vitória chavista.
EUA
O governo dos EUA, acusado
por Chávez de apoiar o golpismo
no país, disse ontem que espera
que o plebiscito seja pacífico. O
subsecretário de Estado, Roger
Noriega, disse que a consulta é
uma solução democrática.
Procurado pela Folha, o Itamaraty não quis se pronunciar. O
Brasil é o idealizador do Grupo de
Amigos da Venezuela, do qual fazem parte também EUA, Espanha, Portugal, México e Chile. O
grupo não havia se manifestado
até o fechamento desta edição.
Com agências internacionais
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