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CIA ainda se recupera de cortes nos anos 90
Um ano antes da guerra, a CIA tinha apenas quatro fontes de inteligência dentro do governo iraquiano
DOUGLAS JEHL
DO "NEW YORK TIMES"
Mesmo agora, mais de 30 meses
após os ataques do 11 de Setembro, o serviço de inteligência secreto dos EUA tem menos de
1.100 operadores no exterior, um
número menor do que o de agentes do FBI (a polícia federal americana) alocados para o escritório
da cidade de Nova York.
Desde que George Tenet assumiu a direção da CIA (Agência
Central de Inteligência) há sete
anos, a reconstrução do órgão foi
a sua prioridade. Somente em
2004, mais operadores se formarão no curso de Camp Peary (Virgínia) do que em qualquer outro
ano desde a década de 60. Eles são
o resultado de agressivos esforços
de recrutamento para atrair falantes de línguas árabes e outros capazes de operar no Oriente Médio
e no Sudeste Asiático.
No entanto, Tenet e outros advertem que será preciso mais cinco anos para que a reconstrução
esteja completa e os EUA tenham
montada a rede que precisam para adequadamente responder à
ameaça global representada por
grupos terroristas e governos estrangeiros hostis. James Pavitt,
que, como vice-diretor de operações, supervisiona o serviço secreto, diz que precisa de um quadro
30% ou 35% maior.
O tamanho e o escopo do serviço secreto -cujos operadores no
exterior recrutam e supervisionam os espiões e trabalham com
os serviços de inteligência de outros países para obter informações, mas raramente se infiltram
pessoalmente em alvos estrangeiros- sempre estiveram entre os
segredos mais bem guardados do
governo.
À medida que a dimensão dos
fracassos da inteligência no Iraque e no 11 de Setembro começou
a vir à luz nos últimos meses, o
mesmo aconteceu em relação à situação das operações americanas
de espionagem que foram negligenciadas nos anos 90 e que só
agora estão se recuperando.
Segundo Pavitt, o serviço secreto atingiu seu ponto mais baixo
em 1999, quando seus quadros foram cortados 20% em relação ao
auge da Guerra Fria. "Não tenho
como dar uma idéia da quantidade de informação que deixamos
de colher, das operações que não
fizemos, do número de boas fontes que não recrutamos", afirma
Porter Goss, deputado republicano e ex-operador da CIA que preside a comissão de inteligência da
Câmara de Deputados.
Do fracasso em antecipar o teste
nuclear da Índia de 1998 aos relatórios equivocados sobre o arsenal de armas proibidas do Iraque,
a debilidade das operações de inteligência da CIA se manifestou
em repetidos constrangimentos.
Em momentos críticos, funcionários da inteligência reconheceram
em depoimentos e entrevistas recentes, a CIA se mostrou incapaz
de recrutar agentes que pudessem
dar informações confiáveis sobre
Saddam Hussein e a rede terrorista Al Qaeda. A agência teve que
confiar largamente em informação de serviços de inteligência estrangeiros, cujos dados se mostraram freqüentemente dignos de
pouco crédito.
Funcionários da inteligência
agora admitem que, um ano antes
da invasão do Iraque -um alvo
prioritário havia mais de uma década-, a CIA tinha apenas quatro fontes de inteligência dentro
do governo iraquiano.
Além dos cortes de orçamentos,
funcionários da inteligência e parlamentares democratas e republicanos citam como uma das fontes
dos problemas uma cultura de
aversão ao risco. Esse comportamento foi intensificado por uma
normativa -baixada em 1995 pelo predecessor de Tenet, John
Deutch, na esteira de um escândalo sobre atividades da CIA na
Guatemala- que foi largamente
interpretada por funcionários do
serviço secreto como um alerta
contra a associação com pessoas
repreensíveis.
Eles também apontam a falta de
agilidade de uma organização altamente burocratizada, cujos
operadores secretos são geralmente homens brancos destacados para embaixadas. Na grande
maioria dos casos, esses operadores se apresentam como diplomatas ou outro tipo de funcionário
governamental -uma fachada
que alguns críticos vêem como
muito transparente para permitir
ações em terrenos distantes dos
círculos diplomáticos.
"Em condições ideais, dentro de
dez anos, 50% dos operadores deveriam estar sob uma cobertura
não-oficial", diz Reuel Marc Gerecht, um ex-operador da CIA
que cita entre os novos disfarces
profissões como banqueiros e
consultores.
Como o orçamento geral da
CIA é informação "classificada",
suas autoridades não revelam o
quanto a agência e o serviço secreto cresceram nos últimos anos,
particularmente no período desde o 11 de Setembro, em que se
acredita ter havido um extraordinário aumento em gastos e contratações. O orçamento global da
comunidade de inteligência, que
compreende 15 agências, está chegando a US$ 40 bilhões anuais.
Pavitt afirma que hoje 50% das
verbas da diretoria de operações
(uma das três maiores seções da
CIA; as outras são a de ciência e
tecnologia e a de inteligência) e
30% dos funcionários do serviço
secreto estão envolvidos diretamente com o terrorismo -uma
enorme mudança em relação a 15
anos atrás, quando o foco estava
na ameaça soviética.
Pavitt diz que a CIA está somente agora deixando para trás o que
classifica como uma percepção
errada dos operadores de que eles
estavam proibidos de fazer negócios com criminosos e outras pessoas repreensíveis.
"Eu não vou vencer o terrorismo a menos que eu recrute o terrorismo. Eu não vou vencer nas
questões duras dessa área a menos que eu esteja bem no meio delas", afirma Pavitt. "Eu me preocupo intensamente com o fato de
que há pessoas que estão tentando nos matar neste exato momento em que conversamos. É uma
ameaça extraordinária."
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