São Paulo, domingo, 04 de junho de 2006

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CPI mapeia 12 rotas de acesso aos EUA

Investigação da emigração clandestina detalha percurso de brasileiros que cruzam a fronteira americana pelo México

Material com depoimento de deportados e de coiotes fará parte do relatório final da comissão, que deve ser entregue no fim deste mês

Matt York/Associated Press
Policial americano conversa com 13 imigrantes latino-americanos ilegais capturados em uma reserva indígena no Arizona, EUA, perto da fronteira mexicana


ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI da Emigração Ilegal produziu um documento identificando 12 rotas de acesso ilegal aos Estados Unidos através da fronteira mexicana. Oito delas são feitas pelo Estado do Arizona e quatro pelo Texas. O material constará no relatório final da comissão que deve ser entregue no fim deste mês.
A Folha teve acesso aos mapas e ao texto que detalha como se dá a entrada dos emigrantes ilegais no México. O material foi elaborado por meio de depoimentos de 46 brasileiros deportados e de mexicanos que atuam como coiotes (homens contratados para ajudar emigrantes a atravessar a fronteira).
A produção dos mapas e do documento de apresentação ficou concentrada no gabinete do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), presidente da CPI. Instalada em junho do ano passado, a comissão mista -formada por deputados e senadores- tem como relator o deputado João Magno (PT-MG).
De acordo com o texto da apresentação dos slides dos mapas, os emigrantes deixam o país pelo aeroporto de Guarulhos, em SP, num vôo direto para a Cidade do México. De lá, seguem para o interior do país, para dar início a uma das rotas pelo Arizona ou pelo Texas.
"Caso a opção seja de ingresso pelo Estado do Arizona, há um deslocamento, normalmente de ônibus ou van, até a cidade de Mazatlán, onde param manutenção, limpeza e abastecimento dos veículos", diz o documento da CPI. "Em seguida, partem para a cidade de Hermosillos, de onde seguirão para os locais de travessia. O deslocamento para cobrir todo esse trecho consome aproximadamente 32 horas."
Conhecida a rota pelo Arizona, a passagem por Tijuana está em desuso, segundo a CPI, por causa da maior vigilância. O trânsito de emigrantes tem sido maior por outras sete rotas. A Mexicali é uma delas.

Sigilo
A CPI conseguiu saber os detalhes dessa rota por meio de ex-operadores, mas mantém seus nomes e dos outros coiotes citados em sigilo: "Os emigrantes partem de Hermosillos em vans dirigidas por XXXX ou por XXXX até Mexicali. Uma outra van segue à frente, transmitindo, por rádio, detalhes sobre a fiscalização na estrada."
De acordo com a CPI, crianças são usadas como guias. "Lá, guias contratados por XXXX (quase sempre crianças e adolescentes) os conduzirão pela fronteira até a cidade de El Centro, já em território norte-americano", relata.
No documento, é descrito até o momento em que o coiote recebe o dinheiro do emigrante ilegal que atravessou a fronteira pela rota Mexicali. "O guia telefona para XXXX que manda um veículo ao encontro do grupo e o leva até Phoenix, onde é recebido por XXXX, que cobra o valor de US$ 3.500."
Para seguir para a cidade em que deseja se fixar, o emigrante tem de desembolsar mais um pouco: "Recebido o pagamento, o emigrante ainda poderá contar com deslocamento de van até a cidade de seu interesse, o que custava, em 2005, entre US$ 500 e US$ 800".
Pelo Texas, o ponto de apoio é a cidade de Monterrey. Segundo a CPI, há diferenças em relação às rotas pelo Arizona. "Já no aeroporto mexicano os imigrantes são divididos entre operadores de cada rota, obedecida a preferência do "acompanhante" brasileiro responsável pela condução do grupo".

Truculência
Entre as quatro rotas texanas, a mais temida pelos emigrantes é a de Nuevo Laredo, por causa dos métodos de um coiote da rota. "Temido por sua truculência e por tratar mal os imigrantes, XXXX é consumidor inveterado de entorpecentes. Há relatos de cobrança de valores acima do combinado, assédio a mulheres, falta de alimentação e água."
Com base em depoimentos de 29 deportados brasileiros, a CPI produziu uma tabela com os nomes dos Estados americanos preferidos pelos emigrantes. Em primeiro lugar, vem Massachusetts, depois Flórida, Nova Jersey, Nova York, Pensilvânia, Texas, Maryland, Connecticut e Colorado.
A CPI também identificou onde os emigrantes se hospedam. Na rota texana, os coiotes abrigam os emigrantes em suas casas: "É meio empregado para aumentar o faturamento, haja vista que cobram diárias de cerca de US$ 20, que inclui apenas duas refeições diárias".
As informações levantadas pela CPI da Emigração Ilegal foram encaminhadas a autoridades diplomáticas norte-americanas e mexicanas.


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