São Paulo, segunda-feira, 04 de junho de 2007

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Lula volta a rebater crítica de Hugo Chávez

Foco da discussão é decisão do venezuelano de não renovar licença da RCTV e nota do Senado brasileiro sobre o tema

Para presidente, pedido dos senadores não foi grosseiro, como acusara venezuelano; Garcia diz que ao Brasil "não interessa esquentar" debate

Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Com máscara que satiriza Chávez, manifestantes protestam em Caracas contra o fim da RCTV


KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Pela segunda vez desde sexta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu declarações do colega da Venezuela, Hugo Chávez. "Acho que o Congresso não foi grosseiro. Porque a nota do Congresso pede a compreensão apenas [em relação à não-renovação da concessão da RCTV]", afirmou ontem Lula, após jantar com o premiê da Índia, Manmohan Singh.
O presidente se referia ao requerimento do Senado brasileiro pedindo que Chávez reconsiderasse a decisão sobre o canal oposicionista e à posterior declaração do venezuelano de que o "Congresso emitira um comunicado grosseiro que o obrigava a responder".
Lula disse que não pretende procurar Chávez para tentar pôr panos quentes. Segundo o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), o presidente venezuelano telefonou no sábado para o embaixador brasileiro em Caracas para lamentar o ocorrido, num tom de justificativa. Amorim disse ter falado por telefone anteontem com o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya.
O assessor especial de assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que o tom de Chávez foi "inadequado", mas ressaltou que o Brasil não tem "interesse em esquentar esse assunto". Garcia também não acha ofensiva a nota do Senado.
Na última quarta, o Senado brasileiro votou requerimento pedindo que Chávez reconsiderasse a decisão de não renovar a concessão da RCTV, expirada no último dia 27. A rede deu apoio ao golpe de abril de 2002.
Chávez, então, afirmou que o Congresso era um "papagaio" que repete o que diz Washington. O presidente brasileiro respondeu dizendo que o venezuelano deveria cuidar dos assuntos do seu país porque ele, Lula, cuidaria do Brasil. Na sexta, o Itamaraty divulgou nota pedindo que o embaixador em Brasília prestasse explicações.
No sábado, Chávez afirmou que fora obrigado a responder a um "comunicado grosseiro" do Senado. Para integrantes da comitiva do presidente em Nova Déli, foi um sinal de que não deseja conflito com Lula.
O presidente do Brasil avalia que o colega cometeu um erro político ao não renovar a concessão da RCTV. Em diversos encontros, Lula já aconselhou Chávez a ser mais moderado.

OEA
Para Garcia, a OEA (Organização dos Estados Americanos) deve conduzir com cautela discussões a respeito do tema Chávez-RCTV. Há pressão dos EUA por uma censura ao venezuelano em reunião da organização que começou ontem.
"Só espero que a OEA não venha a fazer agora as bobagens que fez nos anos 60", disse. Para ele, "até agora não houve nenhum tipo de restrição à liberdade de imprensa".
O secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, disse ao jornal "El Mercúrio" que não chamaria a decisão de Chávez de "atentado à liberdade", mas de "uma forma de censura à liberdade de expressão".


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