São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2008

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Ex-primeira-dama terminou vítima de sua própria presunção, dizem analistas

DE NOVA YORK

Ao adotar a atitude de vencedora inevitável das prévias do Partido Democrata, a senadora Hillary Clinton não só se expôs a críticas mais duras da imprensa e de adversários como detonou uma série de decisões erradas que terminaram por afundar sua candidatura.
O parecer é corrente entre analistas políticos americanos, para os quais a presunção traiu a candidata desde Iowa, o pequeno Estado que inaugurou a temporada de prévias em janeiro, com vitória de Barack Obama e Hillary em terceiro lugar.
"Você quer um exemplo da arrogância de Hillary nos primeiros Estados que votaram? Sua equipe ficava em hotéis caros, fazia refeições caras, não havia controle. Era a idéia de que ela venceria logo, então não era preciso economizar. Depois, ela teve de se expor ao emprestar da própria conta para a campanha, o que foi ironizado na mídia", diz Steven Brams, da Universidade de Nova York.
Os erros apontados passam também pelos Estados aos quais deu prioridade. "Ela estava pensando demais em 4 de novembro [data da eleição presidencial], focada em conquistar grandes Estados para mostrar força. Demorou para que ela voltasse suas energias para o que interessa, que é conquistar o maior número de delegados, e para isso são fundamentais Estados pequenos", diz Michael P. McDonald, do instituto Brookings, em Washington.

Antes da hora
Advogada bem sucedida, com histórico de militância, primeira-dama por oito anos e senadora de destaque por Nova York, Hillary era apontada como candidata natural dos democratas à Presidência.
"Isso parecia uma vantagem, mas, no final, não foi", diz McDonald. "O fato de ela ser mais "insider" que o Obama no partido significava que teria mais apoio interno, o que não aconteceu. E ela ainda sofreu com isso, pois foi colocada em xeque o tempo todo", diz.
A forma mais questionadora pela qual Hillary foi tratada pela mídia americana se tornou até motivo de piada. Nas sátiras do humorístico "Saturday Night Live", jornalistas faziam a ela perguntas difíceis, enquanto a Obama perguntavam: "O senhor está bravo comigo?".
Para Barbara Kellerman, da Universidade Harvard, o favoritismo de Hillary fez com que ela não desse o devido valor à mobilização popular. "Hillary fez uma campanha à moda antiga, em que se impõe como candidata para o povo. Esta eleição mostrou que a política agora será feita de baixo para cima. Por exemplo: ela foi mais lenta que Obama em se tornar presente em eventos das redes sociais da internet, que acabaram mostrando grande poder de mobilização e arrecadação."
Para Kellerman, a lista de tropeços da candidatura de Hillary é longa. "As atitudes idiotas de seu marido [Bill Clinton, a quem se atribui ter tentado lançar a discussão sobre raça na campanha] foram fundamentais. Hillary também falou coisas sem pensar, como a citação da morte do Robert Kennedy, que foi algo péssimo para ela", diz a analista, em referência a Hillary ter dito se inspirar na campanha de 1968, quando o democrata favorito foi assassinado antes das eleições, para continuar na disputa.
(DANIEL BERGAMASCO)


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