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Ex-primeira-dama terminou vítima de sua própria presunção, dizem analistas
DE NOVA YORK
Ao adotar a atitude de vencedora inevitável das prévias do
Partido Democrata, a senadora
Hillary Clinton não só se expôs
a críticas mais duras da imprensa e de adversários como
detonou uma série de decisões
erradas que terminaram por
afundar sua candidatura.
O parecer é corrente entre
analistas políticos americanos,
para os quais a presunção traiu
a candidata desde Iowa, o pequeno Estado que inaugurou a
temporada de prévias em janeiro, com vitória de Barack Obama e Hillary em terceiro lugar.
"Você quer um exemplo da
arrogância de Hillary nos primeiros Estados que votaram?
Sua equipe ficava em hotéis caros, fazia refeições caras, não
havia controle. Era a idéia de
que ela venceria logo, então não
era preciso economizar. Depois, ela teve de se expor ao emprestar da própria conta para a
campanha, o que foi ironizado
na mídia", diz Steven Brams, da
Universidade de Nova York.
Os erros apontados passam
também pelos Estados aos
quais deu prioridade. "Ela estava pensando demais em 4 de
novembro [data da eleição presidencial], focada em conquistar grandes Estados para mostrar força. Demorou para que
ela voltasse suas energias para
o que interessa, que é conquistar o maior número de delegados, e para isso são fundamentais Estados pequenos", diz Michael P. McDonald, do instituto
Brookings, em Washington.
Antes da hora
Advogada bem sucedida, com
histórico de militância, primeira-dama por oito anos e senadora de destaque por Nova
York, Hillary era apontada como candidata natural dos democratas à Presidência.
"Isso parecia uma vantagem,
mas, no final, não foi", diz
McDonald. "O fato de ela ser
mais "insider" que o Obama no
partido significava que teria
mais apoio interno, o que não
aconteceu. E ela ainda sofreu
com isso, pois foi colocada em
xeque o tempo todo", diz.
A forma mais questionadora
pela qual Hillary foi tratada pela mídia americana se tornou
até motivo de piada. Nas sátiras
do humorístico "Saturday
Night Live", jornalistas faziam
a ela perguntas difíceis, enquanto a Obama perguntavam:
"O senhor está bravo comigo?".
Para Barbara Kellerman, da
Universidade Harvard, o favoritismo de Hillary fez com que
ela não desse o devido valor à
mobilização popular. "Hillary
fez uma campanha à moda antiga, em que se impõe como
candidata para o povo. Esta
eleição mostrou que a política
agora será feita de baixo para
cima. Por exemplo: ela foi mais
lenta que Obama em se tornar
presente em eventos das redes
sociais da internet, que acabaram mostrando grande poder
de mobilização e arrecadação."
Para Kellerman, a lista de
tropeços da candidatura de Hillary é longa. "As atitudes idiotas de seu marido [Bill Clinton,
a quem se atribui ter tentado
lançar a discussão sobre raça na
campanha] foram fundamentais. Hillary também falou coisas sem pensar, como a citação
da morte do Robert Kennedy,
que foi algo péssimo para ela",
diz a analista, em referência a
Hillary ter dito se inspirar na
campanha de 1968, quando o
democrata favorito foi assassinado antes das eleições, para
continuar na disputa.
(DANIEL BERGAMASCO)
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