São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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Obama cobrará franqueza do Oriente Médio

Presidente dos EUA diz que pedirá à região que "pare de dizer uma coisa em público e outra em privado" em discurso no Egito

Americano "se aconselha" com rei saudita sobre fala a mundo muçulmano; EUA mandarão mensagens de texto em idiomas locais

DA REDAÇÃO

Na véspera do esperado, e já tido como histórico, discurso no Egito ao 1,5 bilhão de muçulmanos do mundo, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez ontem a primeira escala da viagem na Arábia Saudita, berço do islã e um tradicional aliado americano na região.
Antes de partir para o roteiro pelos países árabes, Obama disse ao "New York Times" que, na mensagem, pedirá às partes envolvidas no complexo cenário político do Oriente Médio que "parem de dizer uma coisa em público e outra em privado".
"Há vários países árabes mais preocupados com um Irã produzindo uma arma nuclear do que com a "ameaça" de Israel, mas não o admitem. [Há israelenses] que reconhecem que sua atual posição é insustentável e precisam tomar difíceis decisões sobre os assentamentos [na Cisjordânia], mas não o reconhecem publicamente."
Obama disse que buscava conselhos com o rei saudita, Abdullah bin Abdulaziz al Saud, para o pronunciamento. "Acho importante vir ao lugar em que o islã nasceu para discutir com sua majestade os temas que enfrentamos no Oriente Médio."
A Arábia Saudita, maior fornecedor de petróleo dos EUA e do mundo, de maioria sunita, teme que a tentativa de aproximação de Obama com o xiita Irã comprometa sua condição de interlocutor americano privilegiado entre os países muçulmanos no Oriente Médio.
O discurso de Obama faz parte da sua estratégia, adiantada já durante a campanha à Casa Branca, de buscar o acercamento com os árabes e os países do chamado mundo islâmico, onde a imagem dos EUA foi dramaticamente deteriorada pelos oito anos de governo Bush e sua "guerra ao terror".
Para tanto, Obama se apresentará com as credenciais de quem descende de uma família muçulmana, carrega Hussein no nome e viveu durante anos da sua infância no país de maior população muçulmana em todo o mundo, a Indonésia.
Desde que assumiu, o presidente americano já concedeu uma inédita primeira entrevista no cargo à emissora de língua árabe Al Arabyia (sediada nos Emirados Árabes Unidos), disse, na laica de maioria muçulmana Turquia, que "os EUA jamais farão guerra com o islã" e parabenizou o Irã pela comemoração do Ano Novo persa.
Funcionários do governo americano disseram que, no discurso, previsto para ocorrer às 7h10 (Brasília) na Universidade do Cairo, Obama não deixará de abordar nenhum dos nós políticos regionais. Entrarão na pauta a possibilidade de um Irã nuclear, Afeganistão, Iraque, Paquistão e o conflito entre israelenses e palestinos.
"Eu estarei segurando um espelho e dizendo: "Essa é a situação, e os EUA estão preparados para trabalhar com todos vocês para enfrentar esses problemas. Mas não podemos impor soluções. Todos terão que fazer escolhas difíceis'", adiantou Obama ao jornal americano.
O presidente disse que sua intenção é falar "às ruas árabes", sobretudo aos jovens muçulmanos. "Se eles forem convencidos de que estamos agindo de maneira clara e direta, então tanto eles como suas lideranças estarão mais inclinados a trabalhar conosco."
"[Parte da] luta dos EUA contra os terroristas e extremistas envolve conquistar os corações e mentes das pessoas que são por eles recrutadas", afirmou.

Ofensiva virtual
Paralelamente, o Departamento de Estado dos EUA anunciou, no site do governo destinado ao público estrangeiro, que enviará mensagens de celular em três idiomas, além do inglês, atualizando assinantes sobre o discurso de Obama.
Foram contemplados no serviço o árabe, língua da maioria dos países muçulmanos, o urdu, falado principalmente no Paquistão, e o persa, no Irã.


Com agências internacionais


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