São Paulo, sábado, 04 de junho de 2011

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"Elite chinesa não quer romper com dólar", diz analista indiano

Para Zorawar Singh, Ocidente e Pequim têm interesses comuns

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Apesar do debate sobre a substituição do dólar como moeda internacional de reserva, provocado pela crise americana e pela ascensão chinesa, os setores mais influentes em Pequim foram beneficiados pelo atual modelo financeiro e não querem romper com ele.
É o que afirma o indiano Zorawar Daulet Singh, do Centro para Políticas Alternativas de Nova Déli. Ele falou à Folha no Rio, em seminário do Centro de Estudos e Pesquisas do Brics (fórum de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

 


Folha - Por que o sr. diz que os emergentes estão numa armadilha do dólar?
Zorawar Singh -
O centro da economia internacional continua sendo formado por EUA, Europa Ocidental e Japão, principais produtores de alta tecnologia. Os emergentes, em especial China e Índia, foram irrigados por investimentos diretos que formaram conexões com esse centro.
Quando digo que estão numa armadilha do dólar, é porque ingressaram no sistema sem ter independência financeira. Comercializam com as economias do centro usando o dólar.

A questão é pôr fim ao dólar como moeda de reserva?
Não apenas. O dólar é uma manifestação da assimetria nas finanças, mas também há desequilíbrio no desenvolvimento tecnológico e na estrutura do comércio.

Por que isso se mantém, mesmo com o peso da China?
A China, com economia centralizada, adota taxas de câmbio fixas, coladas ao dólar. Se deixasse que a poupança interna fosse canalizada para a própria moeda, ela se valorizaria. Mas, para que o país continue sendo a fábrica do Ocidente, os salários e a moeda chinesas têm que ser mantidos baixos. Agora, na crise, o Ocidente pode reclamar do yuan desvalorizado. Mas a moeda ajuda empresas exportadoras ocidentais baseadas na China.

O crescimento chinês beneficia o sistema ancorado no dólar?
Desproporcionalmente. Claro que a China também ganha. Houve enorme modernização das áreas costeiras. Há setores beneficiados. Hoje, 80% da base do Partido Comunista é a elite urbana. As pessoas que mandam e definem a opinião pública na China têm investimento enorme no sistema controlado pela OCDE (clube de países industrializados). Basta lembrar que 66% do superavit comercial chinês deve-se a multinacionais.

É isso que faz a China hesitar entre associar-se aos EUA ou aos outros emergentes?
Os chineses usam o Brics sempre que aumenta a pressão dos EUA por concessões, políticas ou econômicas. Ainda não estão convencidos de que formas coletivas de barganha pelo Sul possam funcionar.
A questão é que, na medida em que a dívida de EUA, Europa e Japão não permita mais que eles consumam além de seus meios, os chineses enfrentarão um choque nos seus mercados de exportação que os forçará a se voltar para dentro e para a região. Será uma regionalização involuntária.

Apesar da simbiose com a China, os EUA aliam-se à Índia para contrabalançar os chineses. Como isso entra no seu raciocínio?
Vejo isso como uma tentativa do establishment militar e estratégico dos EUA de fazer um colchão para o caso de a China mudar. A grande estratégia dos EUA é manter a China engajada na atual forma de globalização.

FOLHA.com

Leia a entrevista completa
folha.com/mu925162


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