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ANÁLISE
Atentados no futuro devem vir de mísseis humanos
PATRICK JARREAU
DO "LE MONDE"
A administração Bush tem uma
estratégia para combater o que
chama de terrorismo? E o que
exatamente ela chama de terrorismo? O Conselho de Segurança
Nacional dos EUA trabalha na definição de uma "estratégia nacional de segurança", que deve se
tornar pública daqui a dois ou três
meses. A teoria é nebulosa. A prática, hesitante.
A "nova estratégia" começou a
ser elaborada em 2001, dois meses
após os atentados de 11 de setembro. Ela foi explicada por George
W. Bush em seu discurso de 29 de
janeiro sobre o estado da União
através da denúncia do "eixo do
mal". Em Washington, explicou-se que o governo decidiu passar
da dissuasão à ação preventiva.
Mas diante de um terrorismo
apoiado em atentados suicidas,
para impedir um novo ataque, o
método que consiste em tornar o
custo exorbitante para o agressor
não parece adequado.
Mísseis humanos
A única tática possível é retirar
de um eventual agressor a possibilidade de ele obter as armas com
as quais poderia atacar os EUA.
Desde setembro, os dirigentes
americanos estão certos de uma
coisa: o vetor dos novos ataques
mortais contra seu país são os homens -e, talvez um dia, as mulheres- que a ideologia islâmica
transforma em bombas.
Eles estimam que os atentados
futuros não utilizarão o mesmo
método daqueles do dia 11 de setembro, contra os quais já foram
tomadas precauções. Os golpes
que se preparam consistirão em
colocar uma "carga" nuclear, química ou biológica nesses mísseis
humanos.
As cargas virão seja do mercado
negro de materiais produzidos
pela ex-União Soviética, seja de
um dos países do que Bush chamou de "eixo do mal": Iraque, Irã
e Coréia do Norte. Bush e sua
equipe afirmam que esse último
perigo é bastante real, embora nenhuma conexão tenha sido estabelecida entre a rede terrorista Al
Qaeda e um desses Estados.
Movimentos totalitários
O terrorismo islâmico se aproxima, aos olhos dos dirigentes
americanos, dos movimentos totalitários do século 20 e, mais especificamente, do nazismo.
Em Berlim, em 23 de maio,
Bush utilizou a expressão "novo
totalitarismo". De fato, a comparação parece, em vários aspectos,
pertinente. Procedente ele próprio de uma "inversão de valores", o islamismo apresenta a
morte como mais desejável que a
vida; a submissão (a uma pretensa ordem divina) como preferível
à liberdade; a guerra, ela mesma,
como superior à paz.
Da mesma forma que o nazismo não podia se realizar sem a
destruição, o islamismo não tem
outro programa a não ser atacar
inimigos que ele designa: os americanos, os cristãos, os judeus. Os
estrategistas americanos não são
muito precisos sobre a extensão
desse novo totalitarismo.
Há a rede Al Qaeda, derrotada
no Afeganistão, mas não destruída, e que, segundo a administração Bush, está presente em 60 países. Em que consiste essa presença? De que meios dispõem os
agentes? Que nível de formação
eles têm? De que são capazes?
Washington não sabe.
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