São Paulo, quinta-feira, 04 de julho de 2002

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ANÁLISE

Atentados no futuro devem vir de mísseis humanos

PATRICK JARREAU
DO "LE MONDE"

A administração Bush tem uma estratégia para combater o que chama de terrorismo? E o que exatamente ela chama de terrorismo? O Conselho de Segurança Nacional dos EUA trabalha na definição de uma "estratégia nacional de segurança", que deve se tornar pública daqui a dois ou três meses. A teoria é nebulosa. A prática, hesitante.
A "nova estratégia" começou a ser elaborada em 2001, dois meses após os atentados de 11 de setembro. Ela foi explicada por George W. Bush em seu discurso de 29 de janeiro sobre o estado da União através da denúncia do "eixo do mal". Em Washington, explicou-se que o governo decidiu passar da dissuasão à ação preventiva.
Mas diante de um terrorismo apoiado em atentados suicidas, para impedir um novo ataque, o método que consiste em tornar o custo exorbitante para o agressor não parece adequado.

Mísseis humanos
A única tática possível é retirar de um eventual agressor a possibilidade de ele obter as armas com as quais poderia atacar os EUA. Desde setembro, os dirigentes americanos estão certos de uma coisa: o vetor dos novos ataques mortais contra seu país são os homens -e, talvez um dia, as mulheres- que a ideologia islâmica transforma em bombas.
Eles estimam que os atentados futuros não utilizarão o mesmo método daqueles do dia 11 de setembro, contra os quais já foram tomadas precauções. Os golpes que se preparam consistirão em colocar uma "carga" nuclear, química ou biológica nesses mísseis humanos.
As cargas virão seja do mercado negro de materiais produzidos pela ex-União Soviética, seja de um dos países do que Bush chamou de "eixo do mal": Iraque, Irã e Coréia do Norte. Bush e sua equipe afirmam que esse último perigo é bastante real, embora nenhuma conexão tenha sido estabelecida entre a rede terrorista Al Qaeda e um desses Estados.

Movimentos totalitários
O terrorismo islâmico se aproxima, aos olhos dos dirigentes americanos, dos movimentos totalitários do século 20 e, mais especificamente, do nazismo.
Em Berlim, em 23 de maio, Bush utilizou a expressão "novo totalitarismo". De fato, a comparação parece, em vários aspectos, pertinente. Procedente ele próprio de uma "inversão de valores", o islamismo apresenta a morte como mais desejável que a vida; a submissão (a uma pretensa ordem divina) como preferível à liberdade; a guerra, ela mesma, como superior à paz.
Da mesma forma que o nazismo não podia se realizar sem a destruição, o islamismo não tem outro programa a não ser atacar inimigos que ele designa: os americanos, os cristãos, os judeus. Os estrategistas americanos não são muito precisos sobre a extensão desse novo totalitarismo.
Há a rede Al Qaeda, derrotada no Afeganistão, mas não destruída, e que, segundo a administração Bush, está presente em 60 países. Em que consiste essa presença? De que meios dispõem os agentes? Que nível de formação eles têm? De que são capazes? Washington não sabe.



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