São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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EMIGRAÇÃO

Segundo o Itamaraty, número é o maior já registrado; emigrantes injetam R$ 5,8 bilhões na economia brasileira por ano

2,5 milhões de brasileiros vivem fora do país

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de 2,5 milhões de brasileiros vivem hoje fora do país. O contingente é o maior já registrado no Brasil e tem na crise econômica e na busca por melhores condições de vida suas principais causas.
A estimativa é oficial. Foi elaborada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Os números incluem tanto as pessoas que estão no exterior legalmente quanto aquelas consideradas ilegais pelas autoridades locais -que são classificadas pelo Itamaraty de "irregulares".
Formalmente, há 1,8 milhão de brasileiros fora do país. São pessoas que emigram e informam voluntariamente à embaixada ou ao consulado brasileiro sua localização no exterior.
O Itamaraty chegou aos 2,5 milhões de emigrantes considerando estatísticas elaboradas pelos países que acolhem os brasileiros e dados referentes à movimentação consular dos brasileiros ilegais. Ainda que não se registrem formalmente na embaixada, esses brasileiros vêem-se forçados a buscar assistência consular no momento em que querem casar-se, registrar seus filhos ou emitir procurações para parentes no Brasil.
Uma faceta comemorada pelo governo é a colaboração econômica dos emigrantes. Segundo Manoel Gomes Pereira, diretor das Comunidades Brasileiras no Exterior do Itamaraty, os brasileiros vivendo no exterior são responsáveis pela injeção de cerca de R$ 5,8 bilhões na economia brasileira por ano.
Em 2003, o Banco Central do Brasil registrou um envio de R$ 2,9 bilhões. O restante, segundo Pereira, são quantias trazidas pessoalmente ao país ou enviadas por amigos.
"São compatriotas que deveriam ser recebidos com tapete vermelho, champanhe e caviar", brinca Pereira.
Mais da metade dos brasileiros que decidem morar no exterior escolhe os Estados Unidos como principal destino. O Paraguai, o Japão e Portugal vêm logo em seguida.

Pé-de-meia
O perfil das pessoas que decidem deixar seu país é variado. Segundo Pereira, são tanto profissionais com nível acadêmico elevado quanto pessoas de regiões economicamente deprimidas.
As razões podem ser a procura por empregos especializados e mais bem remunerados ou a busca do tradicional pé-de-meia para voltar ao país com estabilidade financeira.
"A grande maioria não emigra com a intenção de permanecer [fora do Brasil]", diz Pereira.
No exterior, a imagem do brasileiro é a de um trabalhador dedicado. De acordo com Pereira, além de trabalharem bastante, os brasileiros são considerados receptivos, ordeiros e bem integrados culturalmente.
O crescimento das comunidades brasileiras no exterior não é visto com maus olhos pelo Itamaraty. "As emigrações são um fenômeno humano", diz Pereira. "Na pré-história, éramos nômades".
A simples análise do número de pessoas registradas em embaixadas e consulados do Brasil e em outros países mostra uma saída crescente de brasileiros do território nacional.
Em 1996, estavam registrados nos Estados Unidos menos de 600 mil brasileiros. Em 2003, o número havia pulado para quase 720 mil -uma média de 16 mil brasileiros a mais em solo americano a cada ano.
O diplomata crê que os países procurados pelos trabalhadores irregulares tenham maior preocupação com a manutenção de uma política migratória ordenada do que com os empregos que essas pessoas ocupam. "A existência da loteria do "green card" é uma prova de que até os EUA precisam de imigrantes", diz Pereira.


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