São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2006

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Calderón lidera por pouco no México

Com 98% das urnas apuradas, candidato conservador tinha 36,37% dos votos, e seu rival, o esquerdista López Obrador, 35,37%

Autoridades pedem cautela e paciência aos candidatos e ao eleitorado; resultado oficial deve ser divulgado apenas amanhã à noite

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL
À CIDADE DO MÉXICO

Por apenas um ponto percentual na apuração preliminar, o conservador Felipe Calderón estava ontem na dianteira para ser o próximo presidente do México. Com 36,37%, ele tinha 385 mil votos a mais que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, que teve 35,37%. Mais de 98% das seções eleitorais do país tinham sido contabilizadas até o fechamento desta edição.
Em um universo de 71 milhões de eleitores, em que 59% deles foram às urnas (o voto não é obrigatório), a diferença é considerada mínima. O presidente do Instituto Federal Eleitoral (IFE), Luis Eduardo Ugalde, pediu cautela aos candidatos e disse que só daria resultados oficiais quando as atas das 130 mil seções eleitorais do país fossem revisadas -provavelmente, na quarta à noite.
Em pronunciamento nacional pela TV, o presidente Vicente Fox também pediu paciência a candidatos e eleitores.
Nas eleições parlamentares, para deputados e senadores, o país está ainda mais dividido. Pela mesma apuração preliminar, o direitista Partido da Ação Nacional, de Calderón e Fox, teve 33,92% dos votos. O esquerdista Partido da Revolução Democrática, de López Obrador, teve 29,80%.
Já o Partido Revolucionário Institucional (PRI), dos caudilhos que governaram o país por 71 anos, até 2000, conseguiu 27% - muito mais que seu candidato à Presidência, Roberto Madrazo, que está com 21%. O Congresso ficará dividido quase em partes iguais pelas três grandes forças políticas, que se digladiaram na campanha.

Cautela
Os pedidos de cautela foram apenas parcialmente ouvidos. Minutos depois da mensagem do presidente do IFE, na noite de domingo, ambos os candidatos cantaram vitória.
López Obrador, conhecido pelas suas iniciais, AMLO, disse que tinha dados que confirmavam sua vitória. Pouco depois, Calderón diria o mesmo. Ex-prefeito da Cidade do México, AMLO chegou a pedir que seus seguidores fossem para o Zócalo, a praça central do Centro Histórico, para comemorar.
Já na manhã de segunda, os candidatos foram mais cautelosos. Em entrevista à rede de TV Televisa, ambos afirmaram aceitar os resultados das urnas e pediram que seus simpatizantes esperassem. Mas AMLO disse que pedirá "impugnação" se perceber irregularidades.
O candidato populista, que é o herói dos mais pobres no México, espera que votos de alguns grotões do país, ainda não contabilizados, possam reduzir ainda mais a diferença. Uma virada seria mais difícil.
"Em eleições democráticas não há empate. Então teremos de esperar com paciência, até o último voto. Tivemos dezenas de observadores internacionais, e ninguém denunciou nada estranho na votação", disse à Folha a editora da revista Foreign Affairs em espanhol, Rossana Fuentes-Beráin.
"O vencedor terá de admitir a divisão do país e tentar incluir o ponto de vista do projeto derrotado."
AMLO passou boa parte da campanha dizendo que lhe "roubariam" a eleição e que seus fiéis seguidores iriam para as ruas se lhe tirassem a vitória. Na última quarta-feira, no comício final de campanha, pediu que todos votassem para que não lhe "regateassem" votos.
Vários analistas políticos ouvidos pela Folha acreditam que o esquerdista não irá aceitar facilmente a derrota, se for confirmada a diferença de 1% para Calderón. Parte da mística do candidato vem de sua imagem de vítima de poderosos.
Em 1997, AMLO perdeu a eleição para governador de Tabasco e acusou fraude do PRI, onde militou entre 1976 e 1988. Liderou mobilizações e passeatas até a Cidade do México, que levaram o eleito a ter de atrasar em um mês a sua posse.
Em 2004, acusado de não obedecer uma ordem judicial, por pouco ele não sofreu um impeachment como prefeito da Cidade do México. Para impedir seu processo e já como preparação de sua futura campanha presidencial, o esquerdista começou a organizar protestos de massa a seu favor.

Bolsa em alta
Já o candidato Calderón, confiante de sua vitória, disse que aceitaria "sem condições" os resultados da apuração. "É hora de reconhecer o resultado. Não é meu triunfo, é o triunfo de todos os mexicanos", afirmou na TV. "A disputa ficou para trás, e estendo minha mão a López Obrador, porque também quero somá-lo e aos demais mexicanos que votaram nele na construção de um México diferente e melhor."
Parte da campanha do conservador focou ataques ao esquerdista, chamando-o de "um perigo para o México". Como sinal de que o mercado financeiro gostou do favoritismo de Calderón, o índice da Bolsa de Valores da Cidade do México cresceu 4,77% ontem, a segunda maior alta do ano.


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