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Calderón lidera por pouco no México
Com 98% das urnas apuradas, candidato conservador tinha 36,37% dos votos, e seu rival, o esquerdista López Obrador, 35,37%
Autoridades pedem cautela
e paciência aos candidatos e
ao eleitorado; resultado
oficial deve ser divulgado
apenas amanhã à noite
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL
À CIDADE DO MÉXICO
Por apenas um ponto percentual na apuração preliminar, o conservador Felipe Calderón estava ontem na dianteira para ser o próximo presidente do México. Com 36,37%, ele
tinha 385 mil votos a mais que o
esquerdista Andrés Manuel
López Obrador, que teve
35,37%. Mais de 98% das seções eleitorais do país tinham
sido contabilizadas até o fechamento desta edição.
Em um universo de 71 milhões de eleitores, em que 59%
deles foram às urnas (o voto
não é obrigatório), a diferença é
considerada mínima. O presidente do Instituto Federal
Eleitoral (IFE), Luis Eduardo
Ugalde, pediu cautela aos candidatos e disse que só daria resultados oficiais quando as atas
das 130 mil seções eleitorais do
país fossem revisadas -provavelmente, na quarta à noite.
Em pronunciamento nacional pela TV, o presidente Vicente Fox também pediu paciência a candidatos e eleitores.
Nas eleições parlamentares,
para deputados e senadores, o
país está ainda mais dividido.
Pela mesma apuração preliminar, o direitista Partido da Ação
Nacional, de Calderón e Fox,
teve 33,92% dos votos. O esquerdista Partido da Revolução
Democrática, de López Obrador, teve 29,80%.
Já o Partido Revolucionário
Institucional (PRI), dos caudilhos que governaram o país por
71 anos, até 2000, conseguiu
27% - muito mais que seu candidato à Presidência, Roberto
Madrazo, que está com 21%. O
Congresso ficará dividido quase em partes iguais pelas três
grandes forças políticas, que se
digladiaram na campanha.
Cautela
Os pedidos de cautela foram
apenas parcialmente ouvidos.
Minutos depois da mensagem
do presidente do IFE, na noite
de domingo, ambos os candidatos cantaram vitória.
López Obrador, conhecido
pelas suas iniciais, AMLO, disse
que tinha dados que confirmavam sua vitória. Pouco depois,
Calderón diria o mesmo. Ex-prefeito da Cidade do México,
AMLO chegou a pedir que seus
seguidores fossem para o Zócalo, a praça central do Centro
Histórico, para comemorar.
Já na manhã de segunda, os
candidatos foram mais cautelosos. Em entrevista à rede de TV
Televisa, ambos afirmaram
aceitar os resultados das urnas
e pediram que seus simpatizantes esperassem. Mas AMLO
disse que pedirá "impugnação"
se perceber irregularidades.
O candidato populista, que é
o herói dos mais pobres no México, espera que votos de alguns
grotões do país, ainda não contabilizados, possam reduzir
ainda mais a diferença. Uma virada seria mais difícil.
"Em eleições democráticas
não há empate. Então teremos
de esperar com paciência, até o
último voto. Tivemos dezenas
de observadores internacionais, e ninguém denunciou nada estranho na votação", disse à
Folha a editora da revista Foreign Affairs em espanhol, Rossana Fuentes-Beráin.
"O vencedor terá de admitir
a divisão do país e tentar incluir o ponto de vista do projeto derrotado."
AMLO passou boa parte da
campanha dizendo que lhe
"roubariam" a eleição e que
seus fiéis seguidores iriam para
as ruas se lhe tirassem a vitória.
Na última quarta-feira, no comício final de campanha, pediu
que todos votassem para que
não lhe "regateassem" votos.
Vários analistas políticos ouvidos pela Folha acreditam
que o esquerdista não irá aceitar facilmente a derrota, se for
confirmada a diferença de 1%
para Calderón. Parte da mística
do candidato vem de sua imagem de vítima de poderosos.
Em 1997, AMLO perdeu a
eleição para governador de Tabasco e acusou fraude do PRI,
onde militou entre 1976 e 1988.
Liderou mobilizações e passeatas até a Cidade do México, que
levaram o eleito a ter de atrasar
em um mês a sua posse.
Em 2004, acusado de não
obedecer uma ordem judicial,
por pouco ele não sofreu um
impeachment como prefeito
da Cidade do México. Para impedir seu processo e já como
preparação de sua futura campanha presidencial, o esquerdista começou a organizar protestos de massa a seu favor.
Bolsa em alta
Já o candidato Calderón,
confiante de sua vitória, disse
que aceitaria "sem condições"
os resultados da apuração. "É
hora de reconhecer o resultado.
Não é meu triunfo, é o triunfo
de todos os mexicanos", afirmou na TV. "A disputa ficou para trás, e estendo minha mão a
López Obrador, porque também quero somá-lo e aos demais mexicanos que votaram
nele na construção de um México diferente e melhor."
Parte da campanha do conservador focou ataques ao esquerdista, chamando-o de "um
perigo para o México". Como
sinal de que o mercado financeiro gostou do favoritismo de
Calderón, o índice da Bolsa de
Valores da Cidade do México
cresceu 4,77% ontem, a segunda maior alta do ano.
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