São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Alistamento abre portas para imigrantes

Servir às Forças Armadas americanas é caminho cada vez mais comum entre estrangeiros para obter cidadania

Em política iniciada na era Bush, boa parte dos alistados é rapidamente enviada ao combate no Afeganistão ou Iraque

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Ao retomar na última semana a defesa da reforma migratória, o presidente dos EUA, Barack Obama, jogou luz em um caminho que cada vez mais estrangeiros -inclusive brasileiros- usam para se tornar cidadãos americanos: o serviço militar.
Desde o final de 2001, foram naturalizados 53.497 estrangeiros nas Forças Armadas americanas. O ano passado foi recorde no período, com 10.505 militares recebendo a cidadania -um salto de 33% em relação a 2008 e quase o dobro da média anual dos últimos nove anos.
É um meio radical, pois boa parte dos alistados é rapidamente enviada para o Iraque ou o Afeganistão.
"[Essas pessoas] se alistaram antes mesmo de serem cidadãos", disse Obama em discurso na última quinta. "Eles nos lembram que imigrantes sempre ajudaram a defender esse país e que ser americano não é questão de nascimento, mas de fé."
O presidente aludia também a uma cerimônia que realizou na Casa Branca em abril, na qual mais de 20 militares estrangeiros, dos quais três brasileiros, se tornaram americanos.
Um deles foi Charlyston Schultz, que tinha só 12 anos quando deixou Uberlândia (MG) com dois irmãos para viver com a mãe nos EUA. Hoje, é fuzileiro naval.
"A cerimônia foi fantástica", disse em entrevista à Folha, por telefone, de sua base em Campo Lejeune (Carolina do Norte). "Nunca pensei que receberia a cidadania direto do presidente."

NECESSIDADE
Apesar de não ser inédita, a naturalização de soldados se tornou bem mais fácil no governo do ex-presidente George Bush (2001-2009), especialmente após o 11 de Setembro e a invasão do Afeganistão, ambos em 2001.
Com maiores necessidades de recrutamento, Bush editou uma medida provisória acelerando o processo.
Sob Obama, em 2009, até mesmo estrangeiros sem "green card" (permissão de residência) que servem nas Forças Armadas passaram a ser elegíveis para naturalização, bastando ter visto temporário e haver "interesse nacional" -o que se aplica a setores como a área médica e tradutores de línguas como pashtu e farsi.
O serviço de imigração e cidadania diz que o objetivo não é criar um atrativo a mais para o recrutamento, e sim retribuir o sacrifício dos imigrantes, sujeitos a ir para a guerra pelos EUA.
Mas militares e especialistas não descartam que a estratégia acaba atraindo quem só pensa na cidadania.
"Os EUA querem genuinamente fazer algo pelos imigrantes que servem no Exército. Mas, para os imigrantes, a cidadania é um objetivo importante", afirmou à Folha Jeanne Batalova, do Instituto de Políticas Migratórias, em Washington.


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