|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alistamento abre portas para imigrantes
Servir às Forças Armadas americanas é caminho cada vez mais comum entre estrangeiros para obter cidadania
Em política iniciada na era Bush, boa parte dos alistados é rapidamente enviada ao combate no Afeganistão ou Iraque
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Ao retomar na última semana a defesa da reforma
migratória, o presidente dos
EUA, Barack Obama, jogou
luz em um caminho que cada
vez mais estrangeiros -inclusive brasileiros- usam
para se tornar cidadãos americanos: o serviço militar.
Desde o final de 2001, foram naturalizados 53.497 estrangeiros nas Forças Armadas americanas. O ano passado foi recorde no período,
com 10.505 militares recebendo a cidadania -um salto de 33% em relação a 2008
e quase o dobro da média
anual dos últimos nove anos.
É um meio radical, pois
boa parte dos alistados é rapidamente enviada para o
Iraque ou o Afeganistão.
"[Essas pessoas] se alistaram antes mesmo de serem
cidadãos", disse Obama em
discurso na última quinta.
"Eles nos lembram que imigrantes sempre ajudaram a
defender esse país e que ser
americano não é questão de
nascimento, mas de fé."
O presidente aludia também a uma cerimônia que
realizou na Casa Branca em
abril, na qual mais de 20 militares estrangeiros, dos quais
três brasileiros, se tornaram
americanos.
Um deles foi Charlyston
Schultz, que tinha só 12 anos
quando deixou Uberlândia
(MG) com dois irmãos para
viver com a mãe nos EUA.
Hoje, é fuzileiro naval.
"A cerimônia foi fantástica", disse em entrevista à Folha, por telefone, de sua base em Campo Lejeune (Carolina do Norte). "Nunca pensei que receberia a cidadania
direto do presidente."
NECESSIDADE
Apesar de não ser inédita,
a naturalização de soldados
se tornou bem mais fácil no
governo do ex-presidente
George Bush (2001-2009), especialmente após o 11 de Setembro e a invasão do Afeganistão, ambos em 2001.
Com maiores necessidades de recrutamento, Bush
editou uma medida provisória acelerando o processo.
Sob Obama, em 2009, até
mesmo estrangeiros sem
"green card" (permissão de
residência) que servem nas
Forças Armadas passaram a
ser elegíveis para naturalização, bastando ter visto temporário e haver "interesse nacional" -o que se aplica a setores como a área médica e
tradutores de línguas como
pashtu e farsi.
O serviço de imigração e cidadania diz que o objetivo
não é criar um atrativo a mais
para o recrutamento, e sim
retribuir o sacrifício dos imigrantes, sujeitos a ir para a
guerra pelos EUA.
Mas militares e especialistas não descartam que a estratégia acaba atraindo
quem só pensa na cidadania.
"Os EUA querem genuinamente fazer algo pelos imigrantes que servem no Exército. Mas, para os imigrantes,
a cidadania é um objetivo importante", afirmou à Folha
Jeanne Batalova, do Instituto
de Políticas Migratórias, em
Washington.
Texto Anterior: Luiz Carlos Bresser-Pereira: Os dois preços do euro Próximo Texto: Frase Índice
|