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AMÉRICA LATINA
Polícia brasileira acha que o destino do material recolhido em apreensão recorde no AM era o conturbado vizinho
PF suspeita de envio de munição à Venezuela
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Investigações da Polícia Federal
apontam que a maior apreensão
de material bélico já realizada na
região amazônica brasileira não
tinha como destino a guerrilha
colombiana, como inicialmente
se supunha, mas a polarizada Venezuela, que no próximo dia 15
realiza um plebiscito que pode tirar Hugo Chávez da Presidência.
O material foi descoberto por
acaso num depósito em Manaus
no último dia 15 de julho pela Polícia Civil do Amazonas, que realizava uma operação antidrogas.
No depósito havia 15.058 cartuchos de uso restrito tanto da PF e
quanto das Forças Armadas. Havia cartuchos .50, que servem em
metralhadoras antiaéreas, de uso
exclusivamente militar. A munição incluía 5.000 espoletas (detonadores) elétricas.
Um brasileiro e um colombiano
foram presos no local, sem oferecer resistência.
Uma das hipóteses levantadas
logo após a apreensão era que o
carregamento fosse destinado às
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Agora, segundo a Folha apurou,
essa possibilidade foi praticamente abandonada, em razão das características do material apreendido e de questões logísticas.
Restou a linha de investigação
segundo a qual a munição iria
abastecer algum grupo armado
venezuelano -não se sabe se favorável ou contrário a Chávez.
Pistas
Um forte indício do "elo venezuelano" foi um pedido de regularização de residência na Venezuela pelo piloto brasileiro Francisco
Ferraz de Souza, 49, no dia 26 de
junho, na cidade de Upata (nordeste) -longe, portanto da conturbada fronteira venezuelo-colombiana.
Dias mais tarde, ele foi preso
com as munições em Manaus ao
lado do colombiano Edward Andrey Camacho, 22.
A polícia também já descobriu
que Camacho entrou no Brasil
clandestinamente pela cidade de
Cucuí (AM), na fronteira do Brasil com a Venezuela. Ele esteve garimpando ali e passou pela cidade
de Santa Elena do Uairén.
As informações colhidas sobre
Camacho foram enviadas pela
polícia à Colômbia, mas até agora
não apareceram indícios de que
ele esteja ligado às Farc ou aos paramilitares de direita, o segundo
mais importante grupo terrorista
daquele país.
Rota aérea
Para a PF, no entanto, o principal indício de que a munição seria
levada para a Venezuela foi a descoberta de um plano para transportar as munições àquele país
num pequeno avião, que faria
uma parada de reabastecimento
em Roraima.
Como se trata de uma aeronave
pequena, seriam necessárias algumas viagens para levar todo o material bélico.
Por outro lado, a hipótese do
envio para a Colômbia perdeu
força pelos seguintes motivos:
1) a encomenda de 500 uniformes, encontrada junto com a munição. As Farc não têm necessidade desse material e dificilmente
fariam esse pedido no Brasil;
2) as 5.000 espoletas (detonadores) elétricas não fazem parte do
tipo de material usado pela guerrilha colombiana em seus ataques
terroristas, que utilizam detonadores por controle remoto;
3) descartadas as Farc, a munição de grosso calibre encontrada
não é do tipo usado pelos paramilitares de direita colombianos,
que se movem bastante e, por isso, não utilizam as pesadas metralhadoras antiaéreas;
3) logística -o transporte desse
material de Manaus até a Colômbia é muito difícil e arriscado.
Trocas de acusação
A própria situação explosiva da
política venezuelana contribui
para as suspeitas da PF. Às vésperas do plebiscito convocado pela
oposição, os dois lados vêm trocando acusações sobre planos de
ações violentas.
Em maio, a polícia venezuelana
prendeu um grupo de mais de
cem supostos paramilitares colombianos. O governo acusou
parte da oposição, sobretudo a
coalizão radical Bloque Democrático, de planejar um golpe, que incluiria o assassinato de Chávez.
Na semana passada, a Justiça
venezuelana decretou a prisão de
59 oficiais militares, acusados de
conspiração. Alguns deles tiveram envolvimento no frustrado
golpe de Estado de abril de 2002.
Recentemente, o ex-presidente
Carlos Andrés Perez chegou a defender um levante armado para
derrubar o governo. Já a oposição
rechaça essas acusações e denuncia a existência de planos do governo para armar milícias chavistas pelo país.
O medo de um eventual conflito
armado respingar no Brasil levou
a PF a reforçar seu efetivo na fronteira.
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