São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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Uribe vem ao Brasil justificar bases dos EUA

Colombiano fará ofensiva diplomática regional para acalmar preocupação de vizinhos com ampliação da presença militar americana

Visita será na quinta, um dia depois do fim da passagem por Brasília de assessor de Obama, que também será questionado sobre assunto


Rafael Andrade - 15.abr.09/Folha Imagem
Os presidentes Lula e Álvaro Uribe durante encontro no Rio em abril; colombiano explicará a brasileiro acordo militar com os EUA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pediu reunião de emergência com o presidente Lula, em Brasília. Para atendê-lo na quinta-feira, o brasileiro desmarcou viagens ao Maranhão e Piauí onde faria inaugurações e vistoria de obras.
Uribe quer conversar sobre o plano para incrementar a presença militar dos EUA em seu país, ideia que gerou um mal-estar diplomático na região.
Avisado que o plano será debatido pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Uribe se recusou a participar da reunião agendada para a próxima segunda em Quito. E pediu um encontro reservado com Lula para tratar do tema.
Além do Brasil, Uribe também deve ir nesta semana a Argentina, Peru, Chile e Paraguai para conversar com seus colegas sobre o plano. Ele ainda quer se reunir com Evo Morales (Bolívia) e Tabaré Vázquez (Uruguai), mas ainda não marcou as viagens.
Ficarão fora da ofensiva diplomática a Venezuela e o Equador. A primeira congelou as relações com Bogotá após ser publicamente cobrada sobre o encontro de armas do seu Exército com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) -o presidente Hugo Chávez qualificou a denúncia de "cortina de fumaça" para desviar a atenção da discussão sobre as bases. O segundo não mantém relações diplomáticas com a Colômbia desde o ataque pelo Exército colombiano a um acampamento das Farc em seu território, em 2008, e se vê em meio a denúncias de ligação da guerrilha com o presidente Rafael Correa.
Na visita ao Brasil, Uribe tentará acalmar as preocupações externadas pelo país ao acordo com os EUA. Em entrevista à Folha, o chanceler Celso Amorim disse que o uso de bases militares da Colômbia pelos EUA causa preocupação e reclamou que não houve consulta prévia aos vizinhos.
Na semana passada, Lula se disse contrário à instalação de bases americanas no país vizinho. "Não me agrada mais uma base na Colômbia. Mas como eu não gostaria que o Uribe desse palpite nas coisas que eu faço, prefiro não dar palpite nas coisas do Uribe."
Na ocasião, o presidente disse que o fórum ideal para tentar solucionar o impasse seria a reunião da Unasul. Como Uribe cancelou a ida ao Equador, as chancelarias de Brasil e Colômbia acertaram ontem pela manhã a viagem a Brasília.
A visita se dará no dia seguinte à passagem do assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones, por Brasília. Hoje, Jones se reúne com os ministros Edison Lobão (Minas e Energia), Nelson Jobim (Defesa) e Dilma Rousseff (Casa Civil), além do assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Amanhã, será recebido por Amorim.
A visita já estava agendada antes da polêmica em torno das bases, mas agora o tema ganhou importância na pauta. O Brasil aproveitará a presença de Jones para "ouvir mais" sobre a ideia, nas palavras de um assessor de Amorim.
A Colômbia e os EUA sustentam que a ampliação do acordo militar visa exclusivamente o combate ao narcotráfico. O Brasil teme que ela objetive neutralizar a aproximação da Venezuela com o Irã e a Rússia.


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