São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Primeiro-ministro britânico diz que americanos devem ser apoiados em ação contra Saddam Hussein

Blair e EUA prometem provas contra Iraque

Larry Downing/Reuters - 31.dez.2001 Darren Staples/Reuters
O premiê britânico, Tony Blair (dir.), fotografado ontem em pose similar à do presidente dos EUA, George W. Bush, em dezembro


DA REDAÇÃO

O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, prometeu ontem apresentar nos próximos dias ou semanas provas de que o Iraque representa uma ameaça ao país. A afirmação foi feita poucas horas após o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ter feito declaração semelhante, dizendo ter provas "contundentes" sobre a ameaça iraquiana.
Segundo Rumsfeld, as provas poderão ser apresentadas durante as audiências no Congresso sobre o Iraque, previstas para este mês.
"O que o presidente quer fazer, e fará, no devido tempo, é fornecer informação que ele julga importante a respeito de qualquer decisão que ele tome", disse ele.
Os EUA vêm acusando o Iraque de desenvolver armas de destruição em massa e de colaborar com grupos terroristas. O Iraque nega.
Rumsfeld disse que os EUA querem que o Iraque permita o retorno das inspeções de armamentos da ONU, suspensas em 1998, sem impor condições. Ele acusa o país de acenar com a volta das inspeções para ludibriar a comunidade internacional. "Então você descobre que, no último momento, eles retiram a oferta e voltam a virar o nariz para a comunidade internacional", disse.
Segundo o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, os EUA esperam o retorno das inspeções como "um primeiro passo", que não mudará necessariamente a visão do presidente George W. Bush sobre a situação.
"A questão é se [o ditador iraquiano] Saddam Hussein tem ou não tem armas de destruição em massa", disse Fleischer. "Os inspetores são um meio para aquele fim, e a política deste governo tem sido a de que uma mudança de regime tornaria o mundo mais seguro e mais pacífico", afirmou.
Uma possível ação militar americana para derrubar Saddam vem sendo alvo de fortes críticas por parte de vários países europeus e árabes, além da Rússia, que advertem sobre uma possível desestabilização regional. Blair tem sido uma das poucas exceções, ao apoiar uma eventual ação americana apesar da oposição que sofre em seu partido, o Trabalhista.
Em 2001, Blair também foi uma das poucas vozes a apoiar o ataque americano ao Afeganistão. Na ocasião, ele havia apresentado um dossiê que ligava a rede terrorista Al Qaeda e o grupo Taleban aos atentados de 11 de setembro.
Em seu discurso ontem, Blair afirmou que Saddam é "uma ameaça real contra o golfo [Pérsico] e contra o resto do mundo".
Segundo ele, o problema não é só dos EUA, mas também "para o Reino Unido e para o mundo em seu conjunto". "Os EUA não deveriam enfrentar sozinhos esta questão, deveríamos enfrentá-la em conjunto", disse.
O premiê relativizou a possível participação que poderá ter a ONU no conflito. "A ONU deve ser um meio para tratar a questão, mas não um meio para evitar tratá-la", disse. "Ou o regime iraquiano se coloca a funcionar de maneira diferente, mas vemos poucos sinais nesse sentido, ou o regime deve mudar." Para ele, a "polícia de contenção" do Iraque não funciona mais. "Sabemos desde 11 de setembro que é mais sábio abordar os problemas antes, não depois", disse.
Saddam disse ontem que os iraquianos sairão vitoriosos de qualquer batalha. "Nós vencemos antes e vamos vencer novamente na mãe de todas as batalhas", disse ele em uma carta aberta aos iraquianos, segundo a TV do país.
"A vitória está no coração e, quando ela se tornar uma fé, não será afetada ou confundida por coisas em seu entorno, incluindo os tipos de armamento e os suprimentos técnicos que o inimigo possui, campanhas hostis da mídia, notícias fabricadas e perturbações psicológicas", afirmou Saddam.

Com agências internacionais

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