São Paulo, quarta-feira, 04 de setembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Justiça autoriza deportação para Gaza de irmãos que teriam ajudado militante palestino; EUA criticam decisão

Israel vai expulsar parentes de terrorista

DA REDAÇÃO

A Suprema Corte de Israel autorizou ontem a expulsão da Cisjordânia para a faixa de Gaza de dois parentes de palestinos envolvidos em ações terroristas.
Os juízes, entretanto, não deram aos militares a permissão que desejavam para deportar qualquer familiar de militante suicida. O governo acredita que as expulsões serviriam de desestímulo aos jovens dispostos a cometer atentados suicidas.
A medida foi criticada pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e por grupos de defesa dos direitos humanos. "É um dia negro para os direitos humanos", disse Saeb Erekat, ministro da ANP. "Israel aprovou em princípio o conceito de punição coletiva."
Os EUA também criticaram a medida. O porta-voz do Departamento de Estado Greg Sullivan disse que Washington espera que ações de Israel na guerra contra o terror sejam baseadas em informação contra suspeitos específicos, não contra seus parentes. "Punir os inocentes não vai ajudar à segurança de Israel", disse.
Segundo o veredicto, o Exército só poderá expulsar parentes que representem comprovadamente uma ameaça à segurança do país. O Exército, diz a decisão judicial, não pode forçar a mudar de residência "um parente inocente que não represente um perigo, mesmo se provado que mudá-lo de residência desestimularia outros a cometer atos terroristas".
Os irmãos Kifah e Intisar Ajouri, que devem ser expulsos hoje, serão os primeiros a ser transferidos à faixa de Gaza seguindo a nova política. A corte autorizou as transferências por dois anos como punição por terem ajudado seu irmão Ali -acusado de planejar o atentado com dois suicidas que matou cinco pessoas em Tel Aviv, em 17 de julho-a se esconder e a transportar explosivos.
Ali Ajouri foi morto por forças israelenses no mês passado. A casa de sua família foi demolida.
A Suprema Corte negou a deportação de um terceiro palestino, Abed Nassar Asida, cujo irmão foi acusado de organizar um ataque a tiros que matou 17 inocentes. Os juízes concluíram que Asida não tinha ligação com "a atividade terrorista do irmão".
Israel afirma enfrentar a maior onda terrorista de sua história, o que justificaria a reocupação de territórios para "eliminar a infra-estrutura do terror" e capturar inimigos. A demolição de casas de suicidas e a expulsão de familiares seria, de acordo com essa visão, uma forma de evitar atentados.
O Hamas, grupo responsável por grande parte dos atentados contra civis israelenses, disse que a expulsão dos dois familiares é uma "grave escalada" do conflito e que "será respondida com uma escalada na resistência palestina".
A Anistia Internacional afirmou ontem que a "transferência ilegal e forçada" de palestinos sob ocupação israelense é um crime de guerra de acordo com a Quarta Convenção de Genebra e com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.
Israel usou a tática de expulsões durante a primeira Intifada (levante palestino contra a ocupação). Naquela ocasião, em 1992, o país enviou ao Líbano 415 militantes palestinos presos. A maioria deles conseguiu retornar à Cisjordânia e à faixa de Gaza no ano seguinte à deportação.

Parlamento palestino
O premiê de Israel, Ariel Sharon, disse que autorizaria a realização na próxima semana, em Ramallah (Cisjordânia), de um encontro do Conselho Legislativo Palestino (CLP), sob a condição de que parlamentares "envolvidos em terrorismo" não participassem.
Ramallah está sob ocupação militar israelense. O ministro palestino da Informação, Yasser Abed Rabbo, disse que todos os deputados devem comparecer e que Sharon impõe condições na tentativa de obstruir a reunião -cujo objetivo é aprovar o novo gabinete da ANP e discutir reformas.


Com agências internacionais

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