|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRAGÉDIA NOS EUA
Diários virtuais, facilitados pela conexão sem fio, se destacam na cobertura da devastação do furacão Katrina
Na dúvida, mundo se informa por blogs
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o 11 de Setembro foi o evento
marcado pelos recados nos celulares e pelos e-mails enviados pelas vítimas e o período oficial da
Guerra do Iraque não viu mais do
que meia dúzia de diários virtuais
narrarem os acontecimentos do
front (como Salam Pax), a tragédia do furacão Katrina entrará para a história como o dia em que a
imprensa tradicional cedeu lugar
aos blogs.
A começar pelo principal jornal
de Nova Orleans e região, o "The
Times-Picayune", que, impedido
de rodar em papel, passou os últimos dias tirando suas edições virtualmente, até sexta, quando voltou ao normal -mas há dúvidas
sobre sua sobrevivência financeira, assim como a de diversas empresas de diversos setores de lá.
Seu blog -termo que é uma
abreviatura de weblog, diário virtual-, porém, continuava um
dos mais visitados na sexta-feira à
noite, principalmente o fórum
das pessoas desaparecidas, criado
na última quarta. Só nas primeiras 24 horas, o endereço recebeu
7.400 mensagens.
A característica da tragédia explica a dificuldade de a imprensa
tradicional chegar até o local, o
que levou os diretores de notícias
das três principais emissoras de
TV norte-americanas (ABC, CBS
e NBC) a fazerem um mea-culpa
coletivo no fim da semana.
Estradas interrompidas, telefones e celulares em pane, eletricidade incerta e dificuldade de acesso: os mesmos problemas afligiram e estão afligindo tanto o resgate do governo como o repórter.
Presos
Assim, a agilidade dos blogs reside numa palavra: "wireless"
(sem fio, em inglês). Muitos dos
cidadãos, jornalistas ou não, que
continuaram a escrever in loco
lançaram mão do serviço de conexão para computador, que
prescinde de meios tradicionais.
Foi o caso, por exemplo, do Humid City (cidade úmida), e do Nola View (Nola, acrônimo de New
Orleans e LA, por sua vez sigla daquele Estado americano, Louisiana), dois dos mais vistos. O último
trazia na sexta à tarde uma mensagem desesperadora:
"Sexta, 2 de setembro de 2005
Presos em Bayou Road
16h03
Nome: Siddika Jacson
Assunto: Minha história do furacão - Presos na Bayou Road
História: Há pelo menos 5-6
pessoas presas numa casa no número 1735 da Bayou Road. Alguém por favor os ajude!!!!"
Até mesmo brasileiros entraram no ar. Um deles é o Liberal,
Libertário, Libertino, de Alex Castro, 31, estudante de pós-graduação na Universidade de Tulane,
uma das mais atingidas, e que comoveu o mundo virtual ao narrar
o sumiço de seu cachorro, o Oliver (até a conclusão desta edição,
não se sabia o destino do poodle).
No meio da crise, seu site completou um milhão de "page views".
Outro, Idelber Avelar, fez de seu
O Biscoito Fino e a Massa um necessário centro de divulgação de
nomes de pessoas, a maioria brasileiros, que se encontravam no
centro do furacão e, passado o
pior, já deram sinal de vida ou
continuam desaparecidas.
Ele relata: "Conversei com dois
sobreviventes hoje à noite: se o
que você está vendo na televisão é
horrendo o suficiente, você não
imagina o que são os relatos dos
que escaparam. Pelo que pude
avaliar até agora: Ninth Ward,
Chalmette, St. Bernard Parish não
existem mais, simplesmente. Airline Highway e West End continuam submersos. O Oakwood
Mall foi incendiado. Há partes do
French Quarter que não estão
submersas, mas lá é onde os saques (e inclusive incêndios) campeiam. Nossa cidade, a mais brasileira de todas as cidades americanas, está literalmente sendo
destruída. A sensação de impotência aqui é muito grande."
Até um grande jornal inglês, o
"Guardian", resolveu abrir seu
metablog emergencial, um blog
que cobre os blogs que estão cobrindo a catástrofe, como os citados acima. Chama-se "A Fúria de
Katrina" e está sob a chancela "reportagens especiais".
Texto Anterior: Tragédia nos EUA: 24 horas dos Lawrence, ilhados no Mississippi Família em Biloxi se une sob medo e nervosismo Próximo Texto: Furacão também é desculpa para fraudes virtuais Índice
|