São Paulo, quinta-feira, 04 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CONTROLE DE DANOS

Republicanos reagem para tentar salvar Sarah Palin

Partido diz que sua vice conhece melhor o cotidiano do americano comum e é experiente

Em seu discurso, candidata ataca mídia, a qual acusa de criticá-la por não pertencer à cena de Washington, e diz ser "só uma mãe dedicada"


FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

O Partido Republicano montou uma operação de guerra para tentar conter o efeito negativo na mídia provocado pela nomeação de Sarah Palin como candidata a vice-presidente na chapa de John McCain.
O objetivo era estancar ou eliminar a percepção cada vez mais generalizada de que Palin é desqualificada para o cargo. Os republicanos também dizem querer defender a governadora do Alasca dos ataques de que foi alvo no plano pessoal, sobretudo após a revelação de que uma filha sua de 17 anos, solteira, está grávida.
A filha grávida, Bristol, apareceu ontem em St. Paul acompanhada do pai do bebê, Levi Johnston, 18. A família anunciou que os dois vão se casar.
Palin foi treinada para reagir no discurso mais importante do dia, que começou às 21h30 em St. Paul (23h30 em Brasília). Aos 44 anos, ela é determinada. Ontem, às 6h20 da manhã, de tailleur no palco da convenção, ensaiava para a noite.
O texto que leu continha referências a sua origem política no interior, além de uma dose de autocomiseração. "Sou apenas aquela "hockey mom" (mãe que leva e trás os filhos do jogo de hóquei) e participo da reunião de pais e mestres porque quero melhorar a educação de meus filhos", disse, aplaudida.
E foi marcado pelo tom coloquial, próximo ao modo como fala o americano médio. Por exemplo, a frase na qual ela explicou como entende ser o trabalho de um prefeito do interior: "Eu acho que um prefeito de cidade pequena é tipo assim um "organizador comunitário", só que com responsabilidades de verdade". Era uma estocada no democrata Barack Obama, ex-organizador comunitário.
Assim ela descreveu sua forma de fazer política: "Quando concorri a vereadora, eu não precisei de pesquisas qualitativas e perfis dos eleitores porque eu conhecia o eleitorado".
Em seguida, fez uma crítica direta à grande mídia: "Eu não faço parte do establishment político permanente (...) Se você não faz parte da elite de Washington, parte da mídia vai considerar você desqualificada. Mas aqui vai uma dica para os repórteres e colunistas: eu não vou para Washington para buscar a aprovação de vocês, eu vou para Washington para servir às pessoas deste país".

Nervosismo
Ontem, logo cedo os republicanos convocaram uma entrevista às pressas pela manhã com seis mulheres do partido.
"Não vamos aceitar [discriminação contra Sarah Palin], vamos nos ver com vocês quando vocês aprontarem com a gente", falou num tom ameaçador Renee Amore, vice-presidente dos republicanos na Pensilvânia. Alguns dos repórteres na sala de imprensa riram.
A investida das mulheres foi comandada pela poderosa Carly Fiorina, ex-executiva de grandes empresas como a Hewlett-Packard (HP) e agora à frente do comando do Comitê Nacional Republicano Vitória 2008. "O Partido Republicano não vai aceitar os ataques preconceituosos contra Sarah Palin só porque ela é mulher. As mulheres americanas também não vão aceitar", disse ela.
Fiorina citou o fato de Palin ter sido chamada "até de cheerleader do Oeste" e de ter sido dito que a vice foi filiada a um partido nazista ("mentira").
A operação republicana de controle de danos foi clássica: assessores com peso político se ofereciam nos corredores para entrevistas. Ao longo do dia, as TVs foram inundadas por republicanos defendendo Palin.
Até pessoas improváveis ajudaram nesse "fogo-de-encontro" para proteger a candidata a vice. O ex-embaixador dos EUA na Venezuela e assessor para assuntos latino-americanos de McCain, Otto Reich, aproveitou para dar sua explicação:
"Chegaram a propagar rumores absurdos, como o de que o bebê de Sarah Palin era na realidade de sua filha. Isso ocorre porque os jornalistas em Washington não gostam de quem não conhecem. E eles não conhecem Palin. Por isso a criticam."
Para Reich, a alta exposição de Palin na mídia pode vitimá-la e ter efeito oposto ao que seria desejado pelos democratas. Essa teoria é por enquanto de difícil comprovação -não há pesquisas de opinião captando todos os fatos desta semana.
A cartilha republicana tem propagado três argumentos principais em defesa de Palin:
1) América profunda: a governadora do Alasca representa o país de forma mais completa do que o democrata Barack Obama, da elitista Harvard. Ela é graduada em jornalismo por uma universidade de Idaho e fez carreira no Alasca;
2) Sexismo: os ataques no plano pessoal refletem preconceito da mídia. "Ela pode muito bem ser mãe de cinco filhos e ter uma carreira bem sucedida como política", diz Fiorina;
3) Experiência: prefeita de uma cidade pequena (9.000 habitantes) e agora governadora do Alasca por quase dois anos, ela teria "mais experiência administrativa do que Barack Obama, que nunca dirigiu nada", no argumento de Fiorina.

NA FOLHA ONLINE
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