São Paulo, sexta-feira, 04 de setembro de 2009

Próximo Texto | Índice

"Neste momento", EUA não endossam pleito hondurenho

Nota de Chancelaria deixa, porém, margem para que país aceite eleição sem volta de Zelaya

Washington efetiva corte de ajuda de US$ 30 mi, mas não declara que houve golpe militar, o que obrigaria país a fechar torneira de auxílio


Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, após encontrar-se ontem com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Os EUA decidiram não declarar que o que ocorreu em Honduras no dia 28 de junho foi um golpe militar, o que teria implicações legais na relação entre os dois países, um efeito simbólico na região e atenderia ao pedido do presidente deposto, Manuel Zelaya.
Ainda assim, depois do encontro da secretária de Estado, Hillary Clinton, com o hondurenho, ontem, a Chancelaria soltou declaração em que afirma que, "neste momento", não pode apoiar o resultado das eleições presidenciais naquele país. A campanha começou nesta semana, e a votação está marcada para 29 de novembro.
Apoiado pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e pelos EUA, o presidente da Costa Rica, Óscar Arias, lidera as negociações entre Zelaya e o presidente golpista, Roberto Micheletti. Um dos pontos principais do chamado Acordo de San José é a volta do presidente derrubado ao poder.
Nos últimos dias, no entanto, tanto Arias como alguns países do Caribe e o Canadá vêm dando mostras de que poderiam reconhecer o resultado das eleições vindouras caso isso resolva a crise atual, mesmo sem a volta de Zelaya ao poder.
Na declaração de ontem, o Departamento de Estado deixa margem para manobras: "Neste momento, nós não seremos capazes de apoiar o resultado das eleições programadas. Uma conclusão positiva do processo Arias proveria uma base sólida para eleições legítimas terem lugar. Encorajamos fortemente que todas as partes da negociação de San José cheguem rapidamente a um acordo".
Indagado depois em conversa telefônica se a volta de Zelaya era precondição para o reconhecimento das eleições, um funcionário graduado da Chancelaria disse que sim, pois era parte do processo de San José.
"Agora, dentro desse processo, as partes estão se falando, vão tentar chegar a algum tipo de acordo nesse arcabouço", disse. Instado a explicar o que o "neste momento" significava exatamente, o funcionário disse que as palavras do comunicado tinham sido estudadas muito cuidadosamente e que ele não entraria em discussões hipotéticas a respeito.
Os EUA avisaram ainda que a suspensão de parte da ajuda financeira, anunciada logo após o golpe, seria efetivada. Na ponta do lápis, dos US$ 200 milhões que saem de Washington para Honduras por ano, US$ 100 milhões vão diretamente para o governo; desses, 30% serão cortados. Caso o golpe militar tivesse sido declarado, toda a ajuda, inclusive a humanitária, teria de ser cortada.
Por fim, o Departamento de Estado anunciou que está no processo de cancelar mais vistos de pessoas ligadas ao golpe. No geral, a declaração avança pouco em relação a medidas já anunciadas antes e justifica dessa maneira o não uso da expressão "golpe militar":
"O Departamento de Estado reconhece a natureza complicada das ações que levaram ao golpe de Estado de 28 de junho, no qual o líder democraticamente eleito de Honduras foi retirado do poder. Esses eventos envolvem questões factuais e legais complexas e a participação tanto do Legislativo como do Judiciário, assim como dos militares".
Zelaya comemorou o comunicado, dizendo que, "com essa decisão dos EUA, os países das Américas formaram um bloco único de condenação ao golpe". Já o chefe de gabinete do regime golpista, Rafael Piñeda Ponce, afirmou "lamentar que um governo de um país e um povo amigos tome essa decisão para ficar ao lado de [Hugo] Chávez [aliado de Zelaya]".


Próximo Texto: Brasil: País suspende acordo com Honduras para isenção de vistos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.