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Iraque pede presença maior do Brasil
Ex-guerrilheiro, 1º embaixador iraquiano pós-Saddam em Brasília quer o país no "mercado da reconstrução"
Diplomata reabre posto que estava vago desde 2002 e diz que fim do impasse político no país reforçará a segurança
Sérgio Lima/Folhapress
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Hussen na Embaixada do Iraque em Brasília, que passou por ampla reforma e vem aumentando número de funcionários
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O novo embaixador do Iraque no Brasil, Baker Fattah
Hussen, passou dez anos na
clandestinidade, enfrentando frio e fome enquanto lutava na guerrilha contra as forças de Saddam Hussein.
Perdeu em combate parte
dos movimentos da mão esquerda e sobreviveu por milagre a um bombardeio com
gás letal. Só voltou a pisar em
Bagdá após a invasão que
derrubou Saddam, em 2003.
A exemplo de muitos curdos, Hussen passou de oprimido a protagonista político.
Amigo e ex-companheiro
de luta do presidente Jalal
Talabani, também curdo,
Hussen assumiu há um mês
um posto que estava vago
desde 2002.
O comércio bilateral está
longe dos vultosos números
dos anos 80, mas as exportações brasileiras para o Iraque
se recuperam bem após passarem incipientes anos 90
-US$ 700 milhões em 2009.
Em entrevista à Folha, ele
disse que o Brasil só terá condições de disputar o mercado
da reconstrução iraquiana,
avaliado em US$ 400 bilhões, quando reabrir a Embaixada em Bagdá.
Folha - Por que demorou sete
anos até o Iraque pós-Saddam mandar um novo embaixador ao Brasil?
Baker Fattah Hussen - Quisemos ampliar as relações diplomáticas do novo governo
iraquiano logo após a queda
de Saddam Hussein.
Mas o pós-guerra foi muito
difícil. Os ministérios estavam totalmente desorganizados, tivemos que remontar
toda a estrutura de governo.
Era mais fácil na época do
regime antigo. Bastava uma
ordem presidencial para que
qualquer assunto fosse resolvido. Na passagem para o sistema democrático, o processo ficou mais complexo. Uma
nomeação de embaixador
precisa passar pela Presidência e pelo Parlamento até ser
implementada.
Qual a sua principal missão?
Várias delegações iraquianas visitaram o Brasil desde a
queda de Saddam, mas ainda não há acordos comerciais concretos. Estou aqui
para convidar empresas brasileiras a visitar o Iraque, a
empreender e fazer investimentos. Queremos convencer os brasileiros a participar
da reconstrução do Iraque.
Mas isso só será possível se
o Brasil estiver fisicamente
presente no país.
Dias antes de eu embarcar
para Brasília, o presidente
Talabani e o chanceler Hoshyar Zebari me convocaram
para reforçar pessoalmente
que a reabertura da Embaixada do Brasil em Bagdá é
uma prioridade. Mencionei
esse tema com o presidente
Lula no último dia 5, ao apresentar minhas credenciais.
Acho que até o fim do ano
a embaixada estará pronta.
A segurança e o custo da Embaixada do Brasil em Bagdá
geram muita preocupação...
A segurança das representações estrangeiras está sob
inteira responsabilidade das
autoridades iraquianas. Há
várias embaixadas em Bagdá
funcionando normalmente.
Prometo que faremos todo
o possível para fornecer a segurança necessária aos brasileiros. As autoridades iraquianas já provaram sua capacidade de fornecer segurança às embaixadas.
Mas ainda há muitos ataques.
Houve muitos atentados
em 2006 e 2007, mas a situação melhorou muito.
Isso dito, remanescentes
do partido Baath e membros
da Al Qaeda ainda lançam alguns ataques. E o impasse
político que inviabilizou a
formação de um governo nacional, sete meses após as
eleições legislativas, cria um
vácuo de poder perigoso.
Estamos preocupados.
Mas se os partidos conseguirem formar um governo que
represente toda a diversidade política do país, isso fortalecerá muito a segurança.
Como se sente, enquanto curdo, ao ser hoje um representante de todos os iraquianos?
Hoje me sinto como um cidadão normal, e não mais como um cidadão de quarta categoria. Sentir-se e ser tratado como qualquer outro iraquiano é algo muito especial
para todos os curdos.
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