São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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Para fundador, mesquita em NY é tema eleitoreiro

DA ENVIADA ESPECIAL A BERKELEY

Para um dos fundadores do Zaytuna College, a polêmica da criação de uma mesquita a duas quadras do "marco zero" de Nova York deve ser vista como uma questão eleitoreira, gerada por alas do Partido Republicano para desviar o foco de debates mais importantes.
"Meu sentimento é que para essas pessoas, independente do que você faça, elas nunca ficarão felizes", disse Hatem Bazian.
Nascido na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967, ele se mudou para San Francisco para estudar em 1983.
Naquela época, só havia três mesquitas na região que é conhecida como Bay Area, que engloba San Francisco e outras cidades, incluindo Berkeley.
Atualmente, são quase 50, das mais de 2.000 existentes em todo o país.
Os muçulmanos estão nos EUA desde a época da escravidão, quando foram levados da África.
Movimentos imigratórios aconteceram no começo do século 20 e depois nos anos 1960, com políticas de incentivo mantidas pelo governo americano.
"Mas muitos vinham e pensavam em voltar. Nos anos 1980 e 1990, isso mudou, eles vieram para ficar, por causa de guerras ou situação econômica. E agora seus filhos nasceram aqui e estão indo para escolas e universidades", explica Bazian.
Ele dá aulas no Departamento de Estudos do Oriente Médio e fundou um centro de pesquisa sobre islamofobia, ambos no campus da Universidade da Califórnia na cidade de Berkeley.

IDENTIDADE
Para ele, a identidade americana muçulmana está em formação.
"Ninguém sabe como será", afirma. "Claro que há a dificuldade dessas duas guerras [contra o Iraque e o Afeganistão], em países majoritariamente muçulmanos. Isto terá um impacto em nossa identidade."
Especialistas estimam que 3 milhões de muçulmanos poderiam se registrar para votar nos EUA.
Nas duas últimas eleições para presidente, eles escolheram candidatos democratas. Porém, em 2000, ficaram com o republicano George W. Bush, que então conquistou seu primeiro mandato.
Ao ser questionado sobre quais medidas os acadêmicos têm tomado para conter radicais que usam o islã para justificar atos terroristas, Bazian suspira e culpa "as estruturas imperialistas."
"Isto não é problema meu. Minha questão é ajudar minha comunidade", afirma.
"Eu não criei Osama bin Laden nem paguei seu salário por 10 anos para lutar contra os russos [como fez a CIA no Afeganistão]", diz.
"Sabe, nós não vamos até uma igreja católica cobrar pela radicalização no norte da Irlanda ou na fronteira do México com os cartéis de droga. Alguém vai?" (FE)


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