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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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RELIGIÃO

Anglicanos da África, da Ásia e da América Latina falam em fim de laços com ramo americano que consagrou Robinson

Sob protestos, gay se torna bispo nos EUA

DA REDAÇÃO

Líderes anglicanos de vários países, sobretudo do hemisfério Sul, disseram ontem que deixaram de ter laços com a Igreja Episcopal dos EUA por causa da consagração do primeiro bispo assumidamente homossexual, mas descartaram uma cisão.
O arcebispo nigeriano Peter Akinola, em nome de vários conservadores, afirmou que a consagração de Gene Robinson anteontem como bispo da diocese de New Hampshire criou um "estado de comunhão debilitado" com a Igreja Episcopal dos EUA (nome da Igreja Anglicana no país).
"A devastadora maioria dos primazes do hemisfério Sul não pode e não reconhecerá o ministério de Gene Robinson como um bispo", definiu Akinola em comunicado.
A reação mais forte vem justamente da África. A Nigéria, com 17,5 milhões de adeptos, é o segundo país com maior número de anglicanos, só atrás do Reino Unido (26 milhões), onde surgiu a religião no século 16 como dissidência da Igreja Católica. No mundo, são 77 milhões de praticantes.
O comunicado de Akinola está assinado pelo "comitê em exercício dos primazes do hemisfério Sul", um grupo que tem representantes da África, da Ásia e da América Latina. Foi pedido ainda ao líder mundial dos anglicanos, o arcebispo de Cantuária (Reino Unido), Rowan Williams, que crie uma nova estrutura para permitir às dioceses conservadoras que trabalhem juntas por conta própria, mas continuem a fazer parte da congregação geral.
Ao falar sobre a posição da Igreja Anglicana da Nigéria, Akinola foi mais duro e a definiu como um rompimento de relações com a Igreja Episcopal dos EUA. Segundo ele, serão boicotadas todas as reuniões que tenham representantes da ramificação americana. "Não podemos mais falar que somos da mesma comunhão."
Para o reverendo Kendall Harmon, um conservador da diocese da Carolina do Norte (EUA), o comunicado de Akinola não é uma cisão oficial, mas um "passo provisório" para se realinhar a igreja.
A Igreja Anglicana de Uganda também anunciou que romperia as relações com a diocese de New Hampshire. O líder anglicano do Quênia, Benjamin Nzimbi, disse que sua igreja faria o mesmo com os episcopais americanos. "Não podemos estar na mesma comunhão que Robinson, sua diocese e os bispos que o consagraram."
Peter Jensen, o arcebispo conservador de Sydney (Austrália), disse que a consagração foi um erro porque "a palavra de Deus nos ensina quais os padrões para um comportamento cristão dos líderes, e Robinson não os cumpre". O novo bispo é divorciado e vive assumidamente com o parceiro.
Para Jim Solheim, da igreja americana, o entendimento é possível. "A reconciliação é difícil e acho que vai levar certo tempo, mas fizemos isso quanto a mulheres como bispos e podemos fazer com os bispos gays", avaliou.
O líder mundial dos anglicanos criticou as referências à cisão. Williams disse que os religiosos que consagraram Robinson "agiram de boa fé com seu entendimento do que a constituição da igreja americana permite". O arcebispo é simpático aos direitos dos homossexuais, mas pede que se respeite o ensinamento da igreja contrário aos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.
Robinson afirmou em sua consagração que ela mostraria que a igreja está se movendo na direção das "pessoas que se encontram à margem", assim como Jesus fez.
Na própria cerimônia, porém, as divisões já se explicitaram. Foi lido um comunicado de 28 bispos americanos e dez da Igreja Anglicana do Canadá anunciando que não reconheceriam Robinson.
No Reino Unido, grupos ligados à Igreja Anglicana se manifestaram contra e a favor. A organização evangélica Reforma chegou a falar em "formalizar a separação".
No Brasil, também houve protestos. A diocese do Recife (PE), que representa Estados do Nordeste da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, tem sido a mais crítica quanto à ordenação de clérigos homossexuais e condenou a escolha de Robinson. A própria ramificação brasileira estima em 120 mil seus seguidores no país.


Com agências internacionais

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