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RELIGIÃO
Anglicanos da África, da Ásia e da América Latina falam em fim de laços com ramo americano que consagrou Robinson
Sob protestos, gay se torna bispo nos EUA
DA REDAÇÃO
Líderes anglicanos de vários
países, sobretudo do hemisfério
Sul, disseram ontem que deixaram de ter laços com a Igreja Episcopal dos EUA por causa da consagração do primeiro bispo assumidamente homossexual, mas
descartaram uma cisão.
O arcebispo nigeriano Peter
Akinola, em nome de vários conservadores, afirmou que a consagração de Gene Robinson anteontem como bispo da diocese de
New Hampshire criou um "estado de comunhão debilitado" com
a Igreja Episcopal dos EUA (nome da Igreja Anglicana no país).
"A devastadora maioria dos primazes do hemisfério Sul não pode
e não reconhecerá o ministério de
Gene Robinson como um bispo",
definiu Akinola em comunicado.
A reação mais forte vem justamente da África. A Nigéria, com
17,5 milhões de adeptos, é o segundo país com maior número de
anglicanos, só atrás do Reino Unido (26 milhões), onde surgiu a religião no século 16 como dissidência da Igreja Católica. No mundo,
são 77 milhões de praticantes.
O comunicado de Akinola está
assinado pelo "comitê em exercício dos primazes do hemisfério
Sul", um grupo que tem representantes da África, da Ásia e da
América Latina. Foi pedido ainda
ao líder mundial dos anglicanos, o
arcebispo de Cantuária (Reino
Unido), Rowan Williams, que crie
uma nova estrutura para permitir
às dioceses conservadoras que
trabalhem juntas por conta própria, mas continuem a fazer parte
da congregação geral.
Ao falar sobre a posição da Igreja Anglicana da Nigéria, Akinola
foi mais duro e a definiu como um
rompimento de relações com a
Igreja Episcopal dos EUA. Segundo ele, serão boicotadas todas as
reuniões que tenham representantes da ramificação americana.
"Não podemos mais falar que somos da mesma comunhão."
Para o reverendo Kendall Harmon, um conservador da diocese
da Carolina do Norte (EUA), o comunicado de Akinola não é uma
cisão oficial, mas um "passo provisório" para se realinhar a igreja.
A Igreja Anglicana de Uganda
também anunciou que romperia
as relações com a diocese de New
Hampshire. O líder anglicano do
Quênia, Benjamin Nzimbi, disse
que sua igreja faria o mesmo com
os episcopais americanos. "Não
podemos estar na mesma comunhão que Robinson, sua diocese e
os bispos que o consagraram."
Peter Jensen, o arcebispo conservador de Sydney (Austrália),
disse que a consagração foi um erro porque "a palavra de Deus nos
ensina quais os padrões para um
comportamento cristão dos líderes, e Robinson não os cumpre".
O novo bispo é divorciado e vive
assumidamente com o parceiro.
Para Jim Solheim, da igreja
americana, o entendimento é
possível. "A reconciliação é difícil
e acho que vai levar certo tempo,
mas fizemos isso quanto a mulheres como bispos e podemos fazer
com os bispos gays", avaliou.
O líder mundial dos anglicanos
criticou as referências à cisão. Williams disse que os religiosos que
consagraram Robinson "agiram
de boa fé com seu entendimento
do que a constituição da igreja
americana permite". O arcebispo
é simpático aos direitos dos homossexuais, mas pede que se respeite o ensinamento da igreja
contrário aos relacionamentos
entre pessoas do mesmo sexo.
Robinson afirmou em sua consagração que ela mostraria que a
igreja está se movendo na direção
das "pessoas que se encontram à
margem", assim como Jesus fez.
Na própria cerimônia, porém,
as divisões já se explicitaram. Foi
lido um comunicado de 28 bispos
americanos e dez da Igreja Anglicana do Canadá anunciando que
não reconheceriam Robinson.
No Reino Unido, grupos ligados
à Igreja Anglicana se manifestaram contra e a favor. A organização evangélica Reforma chegou a
falar em "formalizar a separação".
No Brasil, também houve protestos. A diocese do Recife (PE),
que representa Estados do Nordeste da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, tem sido a mais crítica quanto à ordenação de clérigos
homossexuais e condenou a escolha de Robinson. A própria ramificação brasileira estima em 120
mil seus seguidores no país.
Com agências internacionais
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