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São Paulo, terça-feira, 04 de novembro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Ministros discutem sobre quem é o culpado

Argentina tem proporcionalmente mais sequestros do que o Brasil

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Uma pesquisa da Procuradoria Geral da Argentina mostrou que, nos primeiros seis meses deste ano, foram denunciados 217 sequestros -um a cada 20 horas. Do total, 207 aconteceram na Grande Buenos Aires. O número é, proporcionalmente, maior do que os 528 sequestros registrados em todo o ano de 2002 no Brasil, cuja população é quase cinco vezes a da Argentina (36 milhões).
As principais vítimas dos sequestros são empresários, artistas e jogadores de futebol. Mas a violência afeta também a classe média, que viu a situação se agravar durante a crise. Entre 1998 e 2002, o número de denúncias recebidas por dia cresceu 41%. Pesquisa do Centro de Estudos Nova Maioria, baseada em dados do Ministério da Justiça, mostra que, nos últimos 11 anos, a criminalidade na Argentina saltou 166%.
A crise econômica é vista pelos analistas como central nesse aumento. Há 20 anos, a classe média era mais de 70% da população. Hoje é menos de 30%. "O vínculo da distribuição de renda com a taxa de delitos é cada vez mais alto", afirma Eduardo Pompei, professor da Universidade de Buenos Aires. Segundo ele, o desemprego e a desigualdade social incidem diretamente sobre a violência.

Bate-boca
A discussão sobre quem tem responsabilidade pela alta da criminalidade na Argentina, principalmente na Grande Buenos Aires, gerou um bate-boca público entre dois ministros do presidente Néstor Kirchner.
Anteontem, o ministro da Justiça, Gustavo Béliz, atribuiu o aumento da violência à corrupção em "alguns setores" do governo e à falta de rigor para punir policiais envolvidos com sequestros e assaltos.
As declarações foram interpretadas por analistas como um ataque ao governador da Província de Buenos Aires, Felipe Solá, afilhado político do ex-presidente Eduardo Duhalde, que disputa poder no Partido Justicialista com Kirchner. Em resposta, Solá anunciou que vai colocar mais policiais nas ruas -serão 3.300 só na Grande Buenos Aires.
Mas a reação mais dura veio de dentro do próprio gabinete de Kirchner. O ministro do Interior, Aníbal Fernández, exigiu que Béliz desse "os nomes" de quem está envolvido com corrupção, do contrário sua denúncia seria "mais uma que não leva a nada". Fernández foi secretário-geral da Presidência de Duhalde.
Há menos de um mês, um policial foi detido durante uma operação para resgatar uma mulher que havia sido sequestrada e cujo dedo foi cortado para pressionar a família a pagar o resgate. Além deste, já foram detidos outros dois policiais envolvidos com grupos de sequestradores da Grande Buenos Aires. "Já conseguimos provar que, em muito desses grupos, há policiais da ativa. Nossa meta é intensificar as investigações e desmantelar esses grupos", disse Béliz.


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