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AMÉRICA LATINA
Ministros discutem sobre quem é o culpado
Argentina tem proporcionalmente mais sequestros do que o Brasil
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
Uma pesquisa da Procuradoria
Geral da Argentina mostrou que,
nos primeiros seis meses deste
ano, foram denunciados 217 sequestros -um a cada 20 horas.
Do total, 207 aconteceram na
Grande Buenos Aires. O número
é, proporcionalmente, maior do
que os 528 sequestros registrados
em todo o ano de 2002 no Brasil,
cuja população é quase cinco vezes a da Argentina (36 milhões).
As principais vítimas dos sequestros são empresários, artistas
e jogadores de futebol. Mas a violência afeta também a classe média, que viu a situação se agravar
durante a crise. Entre 1998 e 2002,
o número de denúncias recebidas
por dia cresceu 41%. Pesquisa do
Centro de Estudos Nova Maioria,
baseada em dados do Ministério
da Justiça, mostra que, nos últimos 11 anos, a criminalidade na
Argentina saltou 166%.
A crise econômica é vista pelos
analistas como central nesse aumento. Há 20 anos, a classe média
era mais de 70% da população.
Hoje é menos de 30%. "O vínculo
da distribuição de renda com a taxa de delitos é cada vez mais alto",
afirma Eduardo Pompei, professor da Universidade de Buenos
Aires. Segundo ele, o desemprego
e a desigualdade social incidem
diretamente sobre a violência.
Bate-boca
A discussão sobre quem tem
responsabilidade pela alta da criminalidade na Argentina, principalmente na Grande Buenos Aires, gerou um bate-boca público
entre dois ministros do presidente Néstor Kirchner.
Anteontem, o ministro da Justiça, Gustavo Béliz, atribuiu o aumento da violência à corrupção
em "alguns setores" do governo e
à falta de rigor para punir policiais
envolvidos com sequestros e assaltos.
As declarações foram interpretadas por analistas como um ataque ao governador da Província
de Buenos Aires, Felipe Solá, afilhado político do ex-presidente
Eduardo Duhalde, que disputa
poder no Partido Justicialista com
Kirchner. Em resposta, Solá
anunciou que vai colocar mais
policiais nas ruas -serão 3.300 só
na Grande Buenos Aires.
Mas a reação mais dura veio de
dentro do próprio gabinete de
Kirchner. O ministro do Interior,
Aníbal Fernández, exigiu que Béliz desse "os nomes" de quem está
envolvido com corrupção, do
contrário sua denúncia seria
"mais uma que não leva a nada".
Fernández foi secretário-geral da
Presidência de Duhalde.
Há menos de um mês, um policial foi detido durante uma operação para resgatar uma mulher que
havia sido sequestrada e cujo dedo foi cortado para pressionar a
família a pagar o resgate. Além
deste, já foram detidos outros
dois policiais envolvidos com
grupos de sequestradores da
Grande Buenos Aires. "Já conseguimos provar que, em muito
desses grupos, há policiais da ativa. Nossa meta é intensificar as investigações e desmantelar esses
grupos", disse Béliz.
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