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TODA MÍDIA
Nelson de Sá
De quem é a culpa
Desta vez foram blogs, não
TVs, que correram para
adiantar o resultado e criaram,
segundo um blogueiro que não
entrou na briga pela boca-de-urna, a "presidência de sete horas" de John Kerry.
Mas quem buscasse retratação
dos blogs ontem, sobretudo dos
"liberais", não encontraria.
Era possível achar recriminação dos blogs pelas TVs, sites de
jornais e pela agência Associated
Press. Mas os blogueiros prosseguiam na ofensiva, à esquerda e
à direita, sem piscar.
O pró-republicano Glenn Reynolds, em seu Instapundit e no
"Guardian", saudou menos a vitória de George W. Bush do que
a dos blogs, na eleição.
Para ele, foi "graças à internet,
aos canais a cabo e aos radialistas que a inclinação da mídia
[pró-Kerry] ficou mais fácil de
identificar e mais fácil, para os
cidadãos, de superar". Foi o que
evitou, diz ele, o estabelecimento de "falso consenso".
De sua parte, o pró-democrata
Markos Moulitsas, do Daily Kos,
não diferiu muito na avaliação
do que levou à reeleição:
- Nós ["liberais"] tivemos
uma explosão no mundo dos
blogs e iniciamos uma rede de
rádio, mas a nossa máquina foi
vencida de longe pela máquina
de barulho da direita (Fox News,
Drudge, radialistas etc.).
Mas e a boca-de-urna? Quase
sem exceção, nos principais
blogs, sobraram ironia e ataques
ao "pool" de pesquisa formado
pelas redes, os principais jornais
e a agência AP, que levantou os
números vazados.
Mickey Kaus, do Kausfiles, recorreu a um palavrão para dizer
que o "pool" se perdeu.
Do outro lado, "Washington
Post", com Howard Kurtz, e
"New York Times", em seu blog
eleitoral, recriminaram levemente os blogs. O "Wall Street
Journal" ironizou:
- O festejado novo meio se
provou tão vulnerável a gafes
quanto a mídia "mainstream".
Mas o mesmo "WSJ" disse que
os blogs derrubaram Wall Street
"quase imediatamente" e que "a
atenção dada a eles sublinha sua
importância crescente nos
mundos da política e da mídia".
A colunista de web do "WP
acresceu, exagerando:
- Num histórico dia de eleição, os blogueiros fizeram tremer a mídia "mainstream".
Atenta às críticas ao "pool", a
AP soltou despacho ontem à
noite passando a responsabilidade adiante, aos blogs e às próprias redes de TV.
Sobre os primeiros, disse que
"organizações de notícias responsabilizaram os blogueiros
por espalhar notícias que deram
uma visão equivocada".
No texto, pesquisadores contratados pelo "pool" reclamaram que os números vazados
eram da manhã e que, à tarde,
eles se aproximaram.
Sobre as redes, o despacho foi
ainda mais incisivo, citando horários em que ABC, NBC e Fox
News comentaram as pesquisas
de boca-de-urna no ar, contra o
conselho da agência.
O problema da AP é que a Fox
News já veio a público atacar o
"pool" -de que a própria emissora faz parte. E assim o despacho se revela sobretudo um esforço de defesa da agência.
Kathleen Carrol, editora-executiva da AP, apareceu no próprio despacho e prometeu:
- Nós vamos examinar nos
próximos dias como os instrumentos funcionaram, com nossos especialistas e nossos colegas
do "pool". E esperamos poder
responder a qualquer preocupação quanto ao processo.
PESQUISAS
zogby.com/Reprodução
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O logo de Zogby diz que ele está sempre "à frente da tendência" |
Além do "pool" da agência AP, dois personagens se
destacaram no universo das pesquisas, na reta final e no
"dia seguinte" à eleição americana. O blog Mystery Pollster (logotipo acima), do pesquisador Mark Blumenthal,
era louvado ontem por outros blogueiros e curiosamente pela grande mídia, até pela AP, por ter chamado a
atenção para os riscos da boca-de-urna.
E o próprio Mystery Pollster trazia ontem a avaliação
ao que parece definitiva sobre a vitória de Bush:
- Simplesmente não se consegue vencer um presidente em tempo de guerra. Depois da guerra, certamente, mas nunca no meio. Os republicanos vinham disseminando isso por meses -e estavam certos.
O outro personagem é o pesquisador John Zogby, cujo
site apontou vitória democrata no dia da eleição. Zogby,
que chegou a ser descrito como um grande vencedor
nesta campanha pela "New Yorker", saiu-se ontem com
um comunicado, novamente em seu site:
- Eu achei que havíamos captado uma tendência,
mas aparentemente o resultado não se materializou...
Guerra cultural
No site da pró-republicana
"National Review", os primeiros
sinais de uma nova "guerra" que
vem por aí, com Bush.
Um texto em destaque apontava que a vitória se devia ao
apoio evangélico. E o "ideólogo"
republicano William Bennett escrevia que o presidente havia
conseguido "um mandato para
fazer a mudança cultural".
Para Bennett, citando pesquisa do "Los Angeles Times" e os
plebiscitos que recusaram a
união homossexual, os "valores
morais" definiram a vitória.
- Bush vai estabelecer uma
sociedade mais decente.
Homofobia
Do lado oposto, o blogueiro e
colunista da "New Republic"
Andrew Sullivan, autodescrito
como um conservador gay, se
torturava ao apontar o "sucesso" da estratégia "homofóbica"
da campanha Bush para vencer
em vários Estados-chave.
Sullivan disse não ter ficado
surpreso com a recusa da união
homossexual em 11 Estados, por
se tratar de demanda de minoria
-que tende a cair em plebiscito.
Sem maior esperança, citou que
os republicanos ainda podem se
lembrar que são federalistas e
deixar o caminho aberto nos Estados menos moralistas.
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