São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2006

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Site dos EUA sobre Iraque expõe segredos nucleares

Segundo especialistas, portal é um risco por detalhar fabricação de bombas e dar acesso a informações sigilosas a países como o Irã

Mike Theiler/UFO/Associated Press
"DESEJO DE MATAR"
O ator Chuck Norris inspeciona peça de artilharia batizada com seu nome durante visita de uma semana a soldados no Iraque


WILLIAM J. BROAD
DO "NEW YORK TIMES"

Um site criado pelo governo dos EUA em março deste ano para divulgar documentos iraquianos apreendidos durante a guerra -e encontrar supostas provas do risco representado por Saddam Hussein antes da invasão americana, em 2003- contém material que, segundo especialistas em armas, representam um perigo. São relatos detalhados sobre as pesquisas nucleares conduzidas pelo Iraque antes da Guerra do Golfo (1991). Para os especialistas, é um manual básico para a fabricação de uma bomba atômica.
O governo fechou o site na noite de quinta-feira, após o o "New York Times" ter questionado seu teor. Um porta-voz do diretor de inteligência nacional disse que o acesso foi suspenso "à espera de uma revisão para garantir que o conteúdo seja próprio para o público".
Na semana passada, segundo diplomatas europeus, representantes da Agência Internacional de Energia Atômica registraram um protesto reservado ao embaixador dos EUA no órgão, temendo que as informações do site pudessem ajudar países como o Irã a desenvolver armas nucleares. Um diplomata disse que os especialistas da AIEA ficaram "chocados" com os dados do site. Os 12 documentos em questão contêm gráficos, diagramas, equações e relatos sobre a construção de bombas -coisas que, segundo os especialistas, vão além do que existe disponível em outras fontes na internet. Por exemplo, os documentos fornecem informações detalhadas sobre a construção de circuitos de disparo nuclear e explosivos de desencadeamento, além dos núcleos radiativos de bombas atômicas.
"É altamente irresponsável da parte dos EUA jogar um fósforo nesta área inflamável", disse A. Bryan Siebert, ex-diretor para sigilo do Departamento Federal de Energia, que administra o programa norte-americano de armas nucleares.
"Há muitas coisas relativas às armas nucleares que são secretas e assim devem continuar." O governo fora alertado para o conteúdo do site. No último semestre, autoridades de controle de armas da ONU conseguiram tirar do ar um relatório com informações sobre a fabricação de tabun e sarin, agentes que afetam os nervos e matam.
O website, ""Operation Iraqi Freedom Document Portal" (Portal de Documentos Operação Liberdade Iraquiana), era um retrato constantemente ampliado do Iraque no pré-guerra. Seus milhares de documentos incluíam desde uma coletânea de poemas religiosos e nacionalistas até instruções para o reparo de pára-quedas, passando por bilhetes do serviço de inteligência de Saddam. Ele se tornou uma fonte muito usada por blogueiros, tradutores e historiadores amadores.
A campanha pelo arquivo on-line foi movida por políticos e publicações conservadores, para quem as agências de espionagem dos EUA não tinham analisado adequadamente 48 mil caixas de documentos apreendidas no Iraque. As equipes de buscas dos EUA nunca comprovaram a existência de armas proibidas no país.
Tradução de CLARA ALLAIN


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