São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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DERROTA

Dois anos após triunfo do democrata Obama, Partido Republicano tem vitória avassaladora nas eleições; presidente lamenta crise na economia e admite culpa pelo distanciamento do eleitorado

Charles Dharapak/Associated Press
Barack Obama caminha na Casa Branca antes de conceder entrevista sobre as eleições

Dois anos após a oposição ter morte decretada por ao menos uma década, uma maré republicana e conservadora varreu os EUA nas eleições ao Congresso, anunciando o fim da era das grandes reformas da Casa Branca.
Pelos últimos dados, republicanos conquistaram anteontem ao menos 54 cadeiras extras na Câmara.
As projeções são para o maior ganho desde 1948. Também terão 49 senadores (51 democratas). A contagem ainda seguia ontem.
O resultado na Câmara foi ainda pior para os democratas do que a "Revolução Republicana" de 1994, quando o partido retomou maioria no Congresso.
A manutenção de maioria ínfima no Senado evitou porém a repetição do desastre que o voto há 16 anos representou para democratas.
Os números impõem um enorme desafio ao presidente Barack Obama. Sem controle do Congresso, a expectativa é de os dois últimos anos de mandato viverem em impasse.
Nos últimos dois anos, foram aprovadas reformas como a do sistema de saúde, a do sistema financeiro e os pacotes quase trilionários de estímulo econômico.
Mas como benefícios almejados não chegaram ao eleitorado, o que ficou foi um gosto de "intromissão" do governo na vida dos cidadãos, como o próprio Obama admitiu ontem.
Em fala ao país, ele adotou tom sóbrio e reflexivo. "É uma sensação triste. Agimos diante de emergências, não por agenda", disse.
"Como presidente, assumo a responsabilidade por não retomar a criação de empregos mais rapidamente."
Planos que Obama ainda não cumpriu -a reforma migratória; fechar a prisão de Guantánamo (Cuba); aumentar impostos para os mais ricos; voltar a gastar para estimular a economia- correm sério risco de ser engavetados.
E há o risco de a reforma da saúde ser repelida.
Política externa será um problema à parte, com propostas disparatadas sobre como (e se) cortar o Orçamento da Defesa e provável oposição dos conservadores a esforços que cheirem a reconstrução no exterior, como nas ações no Afeganistão.
Da reforma energética para lidar com o aquecimento global, Obama desistiu oficialmente. Disse que perdeu anteontem os poucos votos com os quais poderia contar.

EXTREMOS
Analistas ouvidos pela Folha afirmam que os instintos de Obama o guiarão mais para o centro, e ele exortou cooperação ontem.
Mas, nos EUA, um Congresso dividido não costuma ir ao centro, e sim emperrar a discussão. E a divisão entre os partidos só aumentou com a eleição.
Do lado democrata, a eleição deixou no poder os mais comprometidos com as alas esquerdistas, já que os oriundos de regiões moderadas ou republicanas foram obliterados.
Do lado republicano, a mensagem foi clara em prol do conservadorismo, principalmente na área fiscal. E a oposição não vai perder a oportunidade de capitalizar no clima de rejeição aos democratas.
"Prevejo paralisação total, mas vai depender do equilíbrio entre republicanos que querem fazer algo e os que querem "fazer pose" para 2012", disse à Folha o analista Clyde Wilcox, da universidade Georgetown.
Sarah Binder, do instituto Brookings, também prevê que pouco será acordado até 2012 além de talvez manter cortes de impostos para os mais ricos (que expiram em dezembro) e financiar o governo. No máximo, ocorrerão cortes simbólicos, sem impacto real.


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