São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2011

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Acuado, premiê da Grécia desiste de consulta popular

Papandreou queria submeter a voto o pacote europeu, mas foi pressionado a recuar até por seu próprio partido

Primeiro-ministro vai enfrentar hoje uma votação no Parlamento e poderá ser obrigado a renunciar ao cargo

John Kolesidis/Reuters
Oprimeiro-ministro George Papandreou, durante discurso a deputados do Partido Socialista no Parlamento da Grécia

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O primeiro-ministro grego, George Papandreou, desmoralizado pelos líderes europeus na véspera, abandonado ontem por seus próprios ministros, inclusive o de Finanças, desistiu do plebiscito cuja convocação havia anunciado.
Nessa situação de extrema fragilidade, o premiê muito possivelmente será derrubado hoje por um voto de confiança, o que abrirá caminho para pelo menos mais alguns dias de incerteza sobre a evolução política da Grécia.
Ontem, em discurso ao Parlamento, ele disse que não quer a reeleição e que não está "amarrado à cadeira".
A mídia grega especula com a possibilidade de que, por iniciativa do próprio Papandreou (pronuncia-se "papandrêu") ou de quem vier a substitui-lo, seja formado um governo de unidade nacional de curta duração, até a convocação de novas eleições.
O principal partido de oposição, Nova Democracia, está defendendo exatamente essa saída, o que, em tese, daria legitimidade ao governo surgido das urnas para reafirmar aos sócios europeus a plena adesão da Grécia ao pacote anunciado na cúpula do dia 27 passado.
Por ele, a Grécia receberá um segundo socorro (€ 130 bilhões), terá sua dívida renegociada com os bancos, com vistas a obter uma dedução de 50%, mas, em contrapartida, implementará novos cortes de postos de trabalho no setor público e novas medidas de austeridade.
Como é óbvio, a austeridade é impopular, razão pela qual Papandreou jogou a carta do plebiscito, apenas para vê-la publicamente rasgada pelos parceiros europeus.
Estes anunciaram anteontem que, até saber o resultado do plebiscito, não liberariam os € 8 bilhões da última fatia do primeiro pacote de ajuda, sem o que a Grécia fica impossibilitada de pagar suas contas no mês que vem.
A pressão europeia funcionou sobre o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico, de Papandreou) e sobre o próprio ministério: os titulares de Saúde, Transportes, Educação e Agricultura dissociaram-se da iniciativa da consulta popular, acompanhados do mais importante ministro, Evangelos Venizelos, das Finanças, a quem compete executar os cortes e gerir o auxílio europeu.
Em nota, Venizelos, importante líder do Pasok, criticou o seu chefe e disse que o que importa agora "é salvar o país, por meio do único processo possível, o que inclui a decisão [da cúpula europeia]".
O recuo de Papandreou devolve a crise europeia ao momento em que estava na antevéspera do G20, iniciado ontem, mas em condições ainda piores porque o bloco do euro acabou fragilizado.


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